Psicanalista Tássia Borges apontas as principais causas da angústia e aponta caminhos para passar por este período com mais leveza
O final do ano
parece ser profundamente angustiante para algumas pessoas. Compromissos
familiares e do trabalho, consumismo e “obrigação de estar feliz” são as causas
mais citadas pelos que sofrem neste período do ano.
A psicanalista
Tássia Borges explica que é preciso entender o que está por trás do sofrimento
e, por meio de um diálogo interno, encontrar formas de tornar o período de
festas mais leve.
Sobre as
reuniões familiares
É comum que os compromissos sociais se intensifiquem no final de cada ano. E, claro, em muitos deles nem sempre as pessoas se sentem pertencentes ou devidamente acolhidas pelas mais variadas razões.
No caso da
família, o peso pode ser ainda maior. “Existe uma convenção social que diz que
a família precisa se reunir no Natal. E muitas pessoas comparecem a estes
encontros mesmo sem querer com medo de desagradar”, contextualiza Tássia. “Na
verdade, há uma fantasia em torno disso, ou seja, a pessoa acha que só se
anulando é que contará com o amor dos demais membros. E nem sempre isso é o que
realmente vai acontecer em decorrência de uma eventual ausência”.
A psicanalista
afirma que é possível flexibilizar as coisas, buscar caminhos menos sofridos.
“O primeiro passo é refletir o que é família. É o núcleo mais próximo? Ou
envolve os parentes de segundo ou terceiro graus? São os amigos? Há novas
configurações familiares que precisam ser validadas”.
Depois, é preciso
fazer acordos consigo mesmo. Há outras opções além do “ir ou não ir”. “É
preciso olhar para o contexto e para os próprios sentimentos. É possível conviver
sem se anular, não protagonizar a família 100% do tempo ou evitar os conflitos
e familiares mais tóxicos impondo limites de maneira clara. A chave é se
ouvir”.
Consumismo
desenfreado e obrigação de estar feliz
Nesta época do
ano, outra imposição social e cultural – reforçada pela mídia – é a de
consumir: comprar presentes, fazer viagens, lotar as mesas de comidas e bebidas
e apresentar-se bem (preferencialmente com roupas novas).
No entanto, nem
todo mundo tem esta possibilidade e pode até fazer mais do que consegue –
endividando-se, por exemplo – para atender a eventuais cobranças e igualar-se
aos demais. “Muitas vezes, a gente acaba se desconectando de nós mesmos, dos
nossos princípios, valores, e isso nos coloca, inclusive, num conflito”, aponta
Tássia.
O mesmo vale para
a “ditadura da felicidade”. Numa época como o Natal, por exemplo, há pessoas
que estão passando por um luto em decorrência de alguma perda – sendo, talvez,
a mais sentida a de uma pessoa querida que costumava participar destas celebrações.
“Embora o luto
seja um processo, quando falamos da saudade de uma pessoa que se foi, é
possível transformá-la num tributo: retomar alguma tradição que a pessoa
gostava ou algo que relembre um bom momento com ela. Assim, estas boas memórias
podem amenizar a dor da perda”, diz a psicanalista.
Frustração
pelas metas não atingidas
E na virada do
ano, há quem sofra e se lamente por não ter cumprido as metas que traçou para
si no decorrer do ano. Tássia adverte: “Eu volto a falar de uma outra ditadura,
que é a do extraordinário. Há pessoas que criam para si mesmas metas que
impactem. Não querem aumentar sua remuneração, mas sim, serem milionárias. Não
querem iniciar uma atividade física para melhorar a sua saúde, mas sim, virarem
atletas de alta performance. Tudo isso dificulta o atingimento de uma meta
porque elas nem sempre condizem com a realidade interna ou com o que é possível
fazer considerando o contexto externo”.
Uma recomendação
da especialista, além de definir metas reais, é combater o pensamento mágico de
que, no dia 1º de janeiro, tudo vai se transformar. “O ano muda no calendário,
mas, de um dia para o outro, o mais comum é que a vida permaneça a mesma. A
grande transformação acontece quando adotamos um olhar realista, sincero e
gentil para nós mesmos e entramos em contato com os nossos desejos”.
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