Próximo ao mês da conscientização à
prevenção do suicídio, especialistas dão orientações relacionadas ao
desenvolvimento da inteligência emocional Freepik
No dia 10 de
setembro é celebrado o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. Com o passar dos
anos e por conta de sua notoriedade, a data foi ganhando visibilidade e a
campanha acabou se estendo por todo mês, dando início ao chamado “Setembro
Amarelo”. O objetivo é alertar a sociedade sobre a importância
dos cuidados com a saúde mental. Dentro do panorama da educação, existe uma
série de pontos que merecem atenção que podem afetar tanto a saúde mental dos
estudantes, quanto a dos educadores.
Dados da Rede de
Atenção Psicossocial (RAPS) do Sistema Único de Saúde (SUS), apurados de 2013 a
2023, mostram que o nível de ansiedade entre crianças e jovens superou o
verificado em adultos. A análise dos números indica que a situação
socioemocional dos mais jovens passou a ficar mais crítica do que a dos adultos
em 2022, com o aumento considerável na taxa de pacientes atendidos com
transtornos dentro da faixa etária entre 10 e 14 anos.
A partir deste
contexto, especialistas na área de educação discorrem sobre a importância dos
cuidados com a saúde mental de alunos e educadores, partindo de tópicos
relacionados ao desenvolvimento socioemocional. Confira:
A
importância de desenvolver o autoconhecimento
De acordo com Raphaela
Chicarino, coordenadora pedagógica do Colégio Fênix, localizado no interior de São Paulo, a parceria das
instituições de ensino com programas de educação socioemocional estruturados
garante que os alunos percorram um caminho de autoconhecimento. As metodologias
destes programas ajudam os alunos a compreenderem os sentimentos, preferências
e idenficarem o que os desmotiva e de que forma eles podem construir relações
positivas.
“É um processo no
qual as crianças e os adultos adquirem e aplicam conhecimentos, atitudes e
habilidades necessárias para compreender e gerir emoções, estabelecer e
alcançar objetivos positivos, sentir e tomar decisões responsáveis, promovendo
habilidades como empatia, resolução de conflitos e autoconhecimento”, explica a
coordenadora.
Como
praticar na resolução de problemas
Desde cedo, os
pequenos se deparam com desafios, seja uma discussão com colegas de classe,
tarefas escolares, seja na criação de estratégia para um jogo, por exemplo.
Trabalhar a habilidade da resolução de problemas desenvolve o protagonismo, a
autonomia e o pensamento crítico, preparando as crianças para enfrentarem
desafios futuros.
Uma das formas de
desenvolver essa competência nas crianças é propor atividades em que os alunos
trabalhem juntos para chegar a uma solução, com a mediação e o auxílio do
professor. “Atividades de investigação e pesquisa incentivam a curiosidade, o
pensamento crítico e analítico das crianças. O professor pode iniciar a
atividade com uma pergunta, que também pode surgir do próprio interesse das
crianças. Por exemplo, perguntar se podemos fazer uma brinquedoteca na sala de
aula. Assim, os alunos conseguem respondê-la e buscar informações”, explica Victor
Haony, assessor pedagógico da Mind Makers.
A
importância de combater a ansiedade infantil
Um dos maiores desafios vividos nas últimas décadas é a aceitação, o autocuidado, a valorização da vida e a convivência saudável em sociedade. A internet traz o fácil acesso às redes sociais, associada a utilização cada vez mais cedo de eletrônicos, como celulares e tablets por crianças e adolescentes. O mundo virtual é apontado como grande vilão, impactando no aumento do número de diagnósticos precoces de ansiedade.
“É por meio da
educação socioemocional que o indivíduo é estimulado a cuidar de si mesmo para
que possa cuidar conscientemente do outro. E cuidar de si mesmo diz respeito a
conhecer os próprios limites e potenciais, estabelecer objetivos e metas e a
cuidar do corpo, mente e coração, para que esteja saudável para inspirar outros
ao seu redor a terem práticas de autocuidado”, comenta Fabiana
Santana, assessora pedagógica do programa Líder em Mim.
Como
evitar a sobrecarga e o esgotamento durante os estudos
Conforme os anos avançam, alunos demonstram mais ansiedade em relação aos compromissos escolares. Os estudantes cada vez mais necessitam de acompanhamento, auxílio de família e, sobretudo, da escola. Para Mayana Teixeira, assessora pedagógica da plataforma Amplia, é fundamental tomar cuidado para evitar o esgotamento e a sobrecarga. Esses fatores podem desencadear em picos de estresse durante os estudos, encaminhando-os exatamente ao avesso do que uma instituição educacional almeja: engajamento e êxito do aluno.
Desta forma, é importante
organizar uma rotina de estudos direcionada e assertiva às necessidades que
sempre são personalizadas, mas que também não fique alheia ao que o sistema
brasileiro exige de cada indivíduo.
A
importância do cuidado com a saúde mental dos educadores
Dados de uma pesquisa realizada pelo Instituto Ame Sua Mente mostram que mais de 20% dos educadores brasileiros consideram sua saúde mental ruim ou muito ruim. A partir deste cenário, Juliana Storniolo, diretora da FourC Learning, projeto voltado para a qualificação de gestores e educadores, fala sobre a importância de oferecer cuidados psicológicos aos profissionais da educação.
“Os profissionais
da educação precisam receber cuidados voltados para a saúde mental. Por isso, o
suporte dos gestores a partir de um canal de comunicação aberto é fundamental”,
explica Juliana. Para ela, um dos papéis da liderança é acompanhar os
liderados, oferecendo suporte emocional para criar um ambiente de trabalho que
promova bem-estar, autoconhecimento e práticas de atividades de
relaxamento.
A
leitura para o desenvolvimento socioemocional
Quando se trata de lidar com as emoções na infância, muitas dúvidas surgem sobre como ajudar as crianças a entenderem suas emoções de forma educativa. De acordo com Juliana Tomasello, editora e curadora na Leiturinha, a literatura pode ajudar na construção de valores, promover autoconhecimento e desenvolver seres humanos preparados para lidar com sentimentos e a interagir com outros colegas, o que reflete diretamente no aspecto socioemocional.
“Quando as crianças ouvem ou leem histórias, se deparam com diferentes realidades e situações às quais, muitas vezes, não são expostas em seu cotidiano. Assim, novos assuntos surgem, questionamentos são feitos, dúvidas são sanadas e uma referência passa a existir. Acompanhando a trajetória dos personagens, as crianças entendem melhor as próprias emoções e aprender a lidar com elas”, afirma a especialista.
Já a
coordenadora do editorial de literatura e informativos da SOMOS Literatura, Laura Vecchioli
do Prado, traz três dicas de atividades que buscam
estimular o interesse das crianças por esse hábito. Uma delas é a organização
de rodas de leitura, onde possam conversar sobre obras infantis, permitindo que
compartilhem o que sentiram ao ouvir as histórias e de que forma se identificam
com elas.
Outra recomendação é propor encenações de teatro e contação de histórias com fantoches e bonecos. Ao enxergarem a narrativa de forma viva e lúdica, as crianças têm a possibilidade de perceber de outra forma o que foi vivido pelos personagens, criando conexão e identificação com os sentimentos alheios.
O
impacto da disciplina positiva na prevenção
Habilidades
socioemocionais como empatia, resiliência e autoconfiança são cruciais para
lidar com as pressões do dia a dia. Além disso, criam um ambiente de
pertencimento e segurança emocional, fundamentais para a saúde mental. Ao se
sentirem compreendidas e seguras, as crianças se tornam mais resilientes diante
de situações desafiadoras, reduzindo significativamente o risco de desenvolver
ansiedade.
A gerente
pedagógica da Red Balloon, Claudia Peruccini,
explica que "a disciplina positiva ensina importantes habilidades sociais
e de vida de maneira profundamente respeitosa e encorajadora. Priorizar a
conexão antes da correção é uma abordagem que cria um ambiente de pertencimento
e segurança emocional, elementos-chave na prevenção da ansiedade".
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