Para psiquiatra,
além do tratamento medicamentoso, é preciso que a família tome medidas de
suporte ao idoso, sempre respeitando sua autonomia e história
Segundo o IBGE, em 2019, antes da pandemia, 13% dos idosos sofriam com
depressão. Mas, apesar de não existirem números atualizados desse instituto,
estima-se que o período da pandemia causou um aumento expressivo de casos de
depressão nesse público. Um estudo* publicado na plataforma Scielo, realizado
com 411 idosos da cidade de São Paulo, mostrou que a prevalência de sintomas
depressivos na população idosa foi de 39,7%. Houve predomínio do sexo feminino,
daqueles com idade entre 60 e 69 anos, com companheiro, estudo superior e sem
alteração da renda.
Para o psiquiatra Pérsio de Deus, que tem 40 anos
de experiência no tratamento dos mais variados distúrbios psíquicos, como
depressão e ansiedade, a depressão no idoso acontece por causas psicológicas e
orgânicas. “É difícil ter perdas, como a de autonomia, de força, performance,
energia, aquelas ligadas à autoimagem e a tudo o que dificulta o processo de
envelhecimento. Também existe a ‘perda de função’, porque antes a pessoa era
uma profissional e, agora, pode estar aposentada; as perdas de amigos e
familiares, que falecem ou se afastam... Essas causas psicológicas podem trazer
a depressão. Por outro lado, as perdas orgânicas, como a piora da memória,
cognição (muitas vezes pela perda de microcirculação cerebral), desempenho,
mobilidade (ligada à musculatura e ao equilíbrio) e autonomia são fatores
preponderantes para que quadros depressivos também se instalem na velhice”,
enfatiza o médico.
O julgamento de terceiros sobre a possível perda de
capacidade de quem está envelhecendo também potencializa o quadro. “É comum
encontrar pessoas que acreditam que o idoso ‘não dá mais conta de si’, ‘está
desatualizado’, e fazem questão de deixar isso claro. Essa situação prejudica o
estado do paciente, porque ele acredita já não ser quem era”, adverte.
Outra condição que causa depressão no idoso é a
trazida pela dificuldade financeira. “É na velhice que se têm muitos gastos com
a saúde e a maioria dos idosos não possui uma rede de apoio familiar. Unindo
muitos dos fatores citados, fica fácil entender por que existe a depressão em
idosos”, diz o especialista.
Tratamentos
Tratar a depressão no idoso nos primeiros sintomas
é a melhor forma de garantir que o quadro não se complique. Dr. Pérsio de Deus
afirma que existem tratamentos medicamentosos que ‘fortalecem os neurônios’,
como os nootrópicos; medicações para a melhora da microcirculação cerebral e,
também, medicações pré-demenciais. “Paralelamente, indicamos exercícios físicos
permitidos conforme a condição física do idoso, jogos de tabuleiro e atividades
que potencializem a memória e, sempre, novos aprendizados. A vida continua e
precisa ser prazerosa”.
O tratamento de doenças paralelas também não pode
ser negligenciado. “Diabetes, hipertensão e outras patologias devem ser
tratadas para que o idoso se sinta bem e tenha motivação, consiga buscar novos
estímulos na vida. Se ele não tiver atividades, não haverá medicação
eficiente”, considera.
Em relação às famílias, Dr. Pérsio aconselha a
tratar o idoso de maneira respeitosa e não infantilizada, sempre dentro das
condições atuais de suas capacidades. “É preciso se lembrar que aquela pessoa é
um adulto e, se ela não tiver demência ou perdas cognitivas, pode tomar
decisões sobre a própria vida. A autonomia precisa ser respeitada ao máximo e o
apoio para superar a depressão deve vir em forma de sustento emocional (e
financeiro, se necessário), atenção e cuidados, mas, acima de tudo, respeito
pela história de vida daquele ser humano”, finaliza.
* Estudo disponível em: https://www.scielo.br/j/rbgg/a/ZC5DfmzCw6KMsWs3g3C3HNQ/
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