Existe um ditado popular que diz “sorte no jogo,
azar no amor”. No entanto, o panorama atual nos mostra que entrar no mundo das
apostas online pode significar perdas irreversíveis em todas as esferas da
vida. Para o algoritmo, não existe sorte.
A ludopatia – ou vício em jogos de azar – vem sendo
discutida por especialistas de diversas áreas e já prejudica jogadores no
trabalho e nos relacionamentos. O cenário reflete um sério problema na saúde
mental e acende o alerta para as consequências no dia a dia daqueles que não
conseguem abandonar o vício.
Dados do INSS indicam que os afastamentos do
trabalho em consequência da ludopatia cresceram 350% em três anos. Esse
transtorno, em que a pessoa não consegue estabelecer limites ao jogar, ganha
força com o apoio das redes sociais, espaço amplamente usado para divulgar
jogos de azar. É lá que influenciadores indicam as plataformas de apostas
online como “investimento”.
A pessoa dependente do jogo costuma passar horas
imersa nesse universo e pode gastar muito dinheiro, o que compromete sua vida
financeira, profissional, familiar e social. Essa rotina representa, também,
perda de tempo, energia e saúde e é facilitada porque, hoje, basta apenas um
clique para se inserir no mundo das apostas. A condição afeta a produtividade
dos colaboradores, representa perdas salariais, e até patrimoniais, e acaba por
abalar casamentos.
Como psicólogo do Trabalho, tenho visto situações
muito tristes, como o aumento da agiotagem entre colegas, o que eleva o risco
de violência e de uma série de problemas. As pessoas estão perdendo os bens e
comprometendo toda a sua renda por conta dessa lógica perversa, que publiciza
os jogos de azar de maneira que atinjam, sobretudo, as camadas mais
vulneráveis. Na busca por uma resposta rápida para a situação financeira, esse
grupo entra nas plataformas e não consegue sair.
É importante frisar que hoje nós lidamos com uma
ferramenta muito mais forte para atrair as pessoas, que são os algoritmos. Anos
atrás, quem quisesse ir a um cassino enfrentava todo o esforço de sair de casa
e ir para um ambiente que, muitas vezes, impõe uma série de condições para os
frequentadores.
Agora, o jogo está na palma da mão e é controlado
por um algoritmo que certamente conhece seus hábitos e consegue identificar
seus desejos. Assim, é fácil criar o que eu chamo de “cativeiros neurológicos”,
em que a pessoa é aprisionada na plataforma e não consegue sair.
A princípio, o usuário não se percebe sendo fisgado
por esse universo, onde tudo começa com pequenos ganhos, que dão uma falsa
ideia de controle ao jogador. Depois, vem a fase da compulsão e das apostas
maiores, até não haver mais limites.
Para combater essa realidade é preciso criar
estratégias. É importante que a família, os amigos ou colegas de trabalho
estejam atentos a esses comportamentos, para ajudar o jogador a entender o que
está acontecendo, a identificar o descontrole.
As empresas devem conscientizar seus colaboradores
com educação, alertando sobre como funciona a captura dos apostadores e para os
riscos assumidos ao injetar dinheiro nessas plataformas. Além disso, precisam
manter os controles ambientais, estabelecendo limites para qualquer prática
relacionada a apostas durante a jornada de trabalho.
Cabe ressaltar que esse é um dos vícios mais
brutais da nossa era. Seu potencial de destruição é tão ou mais nocivo do que
outras compulsões, pois uma única pessoa jogando pode desestabilizar uma
família inteira. A sociedade não deve fechar os olhos para algo que começa como
e lazer, mas pode acarretar enorme sofrimento. O mundo das bets não é
brincadeira.
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