De acordo com a Entidade, manutenção da taxa básica de juros reflete conjuntura deteriorada, com câmbio desvalorizado, preços começando a subir e dúvidas sobre capacidade de contenção de gastos públicos
Não havia margem para outra decisão. A manutenção
da taxa básica de juros do País, a Selic, em 10,5%, definida nesta quarta-feira
(31) pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (Bacen), nada
mais é do que reflexo de uma conjuntura marcada pelo câmbio pressionado,
pela inflação em nova aceleração e pelas incertezas do cenário fiscal.
Levando tudo isso em conta, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e
Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) entende que o comitê
acertou na manutenção da Selic no patamar atual.
Em primeiro lugar, o dólar disparou desde meados de junho, quando houve
a última reunião do grupo. Hoje, a moeda norte-americana está em torno de R$
5,65, enquanto estava R$ 5,35 há algumas semanas. A desvalorização cambial
afeta os preços dos importados, bem como joga peso sobre a inflação interna.
Esta, por sua vez, parecia ter arrefecido em junho — tanto nos dados
gerais quanto no setor de Serviços, que preocupava o mercado desde o início do
ano. No entanto, o último relatório do IPCA-15, na metade do mês, mostrou que os
preços desse setor voltaram a acelerar (0,58%) após se manterem
praticamente estáveis no período anterior (0,05%). Com isso, o índice cheio
atingiu 0,3%, acima das expectativas do mercado.
A consequência já tinha sido prevista no boletim Focus, o principal
termômetro do mercado brasileiro, que, agora, projeta um IPCA de 4,1% ao fim
do ano. Há um mês, essa taxa marcava 4%. Até mesmo as expectativas para
2025 são de elevação (de 3,87%, no começo de julho, para 3,96%, agora). É o que
os economistas chamam de desancoragem — ou, dito de forma mais clara, a
sensação de que há uma situação de possível perda de controle da inflação.
Contudo, na visão da FecomercioSP, o que mais balizou a decisão do Copom foi o
cenário fiscal, que permanece bastante incerto. O dado mais relevante disso
está no déficit nominal (que inclui pagamento de juros), hoje na casa dos 10%
do Produto Interno Bruto (PIB). É quase o recorde histórico do País. Além
disso, o déficit primário está, agora, na casa dos 2,44% do PIB, ou seja, muito
longe da meta estabelecida pelo arcabouço fiscal. Por fim, as dívidas líquida e
bruta estão em alta (62,2% e 77,8% do PIB, respectivamente), o que também gera
preocupações.
Diante de tudo isso, a Federação entende que a decisão do comitê não é mais
do que cautelosa, como o momento exige. Agora, seria um erro baixar um
pouco mais a Selic — pelo contrário, o contexto pode indicar até uma medida
mais dura, com elevação tímida dos juros. O que pode mudar o quadro é um
posicionamento fiscal mais claro do governo.
FecomercioSP
Nenhum comentário:
Postar um comentário