É comum que as mulheres ouçam, em algum momento da vida
profissional, frases do tipo: “não é possível conciliar carreira e
maternidade”, “mães devem ser poupadas de novos desafios”, ou até mesmo “quero
ser mãe, mas preciso ganhar dinheiro antes”. Esses ‘ruídos’ acabam sendo
aceitos – e até mesmo reproduzidos – alimentando, mesmo que inconscientemente,
preconceitos e estereótipos. Neste cenário, a maternidade é colocada como um
obstáculo para o crescimento profissional, levando muitas a adiarem a gravidez,
ou até mesmo a abandonarem suas carreiras em busca de opções mais flexíveis.
Um exemplo são os crescentes gastos com congelamento
de óvulos, que aumentaram 89% nos últimos cinco anos, sendo 25% somente em
2023, de acordo com informações divulgadas pelo
Itaú Unibanco. Os números comprovam que, mesmo
as mulheres que querem ter filhos, ainda sentem a necessidade de adiar a
maternidade por receio de perder oportunidades, enquanto tentam conciliar
carreira e família. Já dados divulgados pelo Google mostram que a procura por
termos relacionando demissão, estabilidade e licença maternidade cresceram mais
de 300% nos últimos 5 anos, o que nos mostra que os estereótipos de gênero e a
crença de que as mães são menos comprometidas com suas carreiras frequentemente
limitam oportunidades de crescimento e progressão profissional.
O artigo “The Expanding Gender Earnings Gap: Evidence from the LEHD-2000
Census”, publicado em 2017 nos Estados Unidos, afirma que a maternidade é o
principal promotor de desigualdade salarial entre homens e mulheres. As brasileiras, por exemplo, ainda recebem em média 70% do salário dos
homens, executando as mesmas tarefas. Não é à toa, que depois de se tornarem
mães, muitas optam pelo empreendedorismo, o que está longe de ser um caminho
mais fácil.
Ainda é válido refletir que cuidar de um outro ser humano é um PhD
intensivo de soft skills como resiliência, habilidades de comunicação e
negociação, capacidade de resolver problemas, gestão de tempo e criatividade
entre outros. Por isso, acreditamos que quando se nasce uma mãe, também nasce
uma líder. Nesse sentido, é crucial desnaturalizar crenças limitantes e
conscientizar as pessoas sobre a igualdade de capacidades no cuidado e na
carreira. Pesquisas científicas têm demonstrado que homens e mulheres são
igualmente preparados nesse sentido, desmistificando a ideia de que a
responsabilidade do cuidado deva ser exclusivamente feminina.
Precisamos
fortalecer a parentalidade como um elemento na vida de muitas pessoas, pautando
que não só é possível conciliar esses papéis, mas que eles se retroalimentam.
Para isso, é indispensável incluir os homens na pauta do cuidado, promovendo
uma divisão equitativa das responsabilidades familiares. Isso não só beneficia
as mulheres ao reduzir sua sobrecarga de trabalho, mas também contribui para o
bem-estar de toda a família - inclusive dos homens - e para uma cultura
organizacional mais inclusiva, o que já está comprovado que gera mais
resultados de negócio. Está na hora de transformarmos o
cenário no mercado de trabalho, começando com pequenas ações, que denotem esse
olhar para todas as pessoas.
Segundo pesquisa “Silêncio dos Homens” de 2019, 8 em
cada 10 homens gostariam de passar mais tempo com os filhos. Além disso, já
existem movimentos que consideram a busca pela equalização das licenças
maternidade e paternidade, como o CoPai, que trabalha pela ampliação de 30 dias
para homens. Inclusive, em alguns países, isso já é uma realidade, como na Nova
Zelândia, Austrália, Islândia e Suécia, onde a licença parental é oferecida de
forma igualitária, incluindo casais do mesmo gênero, independentemente da
relação biológica com a criança. Dessa maneira, conforme os pais se envolvem no
cuidado e tarefas domésticas, será possível que uma mudança de fato aconteça e,
assim, as diferenças diminuam.
A maternidade tem muito a nos ensinar sobre empatia,
relações, dedicação, empenho e produtividade. Ao contrário do que se acredita,
não é um obstáculo, mas um poderoso impulso – não só para a mulher, como também
para empresas e toda sociedade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário