Sem o apoio dos
catadores de materiais recicláveis na limpeza urbana, a tarefa de recolher os
resíduos produzidos durante o Carnaval e dar destinação adequada ficaria mais
difícil do que já é. Dados das prefeituras de São Paulo e Rio de Janeiro,
capitais mais procuradas para a folia, revelam que a coleta de resíduos nas
ruas e sambódromo chegou a 456,5 toneladas (São Paulo) e 500 toneladas (Rio de
Janeiro) nos últimos anos.
Mesmo com o trabalho
dos catadores de recicláveis, muitos materiais descartados (principalmente
vidro e plásticos) ainda vão parar nos aterros sanitários e deixam de ser
reaproveitados na cadeia produtiva. Para o coordenador pedagógico do Movimento
Circular, Edson Grandisoli, a falta de conhecimento e campanhas que
estimulem ainda mais a reciclagem representam uma enorme perda de
oportunidades.
“Todo material
descartado incorretamente pode gerar problemas de ordem socioambiental,
prejudicando os recursos hídricos, o solo, a atmosfera e, diretamente,
diferentes formas de vida. Dentro da perspectiva da economia circular, a
reciclagem é um processo importante para reduzir os impactos socioecológicos,
manter os materiais circulando por mais tempo e criar oportunidades de inclusão
no mercado”, argumenta Edson.
Parcerias que
incentivam
Quando o assunto é
incentivo à reciclagem, Edson cita como exemplo a cidade de Olinda (PE). Nos
últimos anos, a Prefeitura formou uma espécie de força-tarefa com 719 catadores
da Coocencipe (Cooperativa do Centro da Promoção da Cidadania de Pernambuco)
para manter a cidade limpa e impulsionar a economia circular.
No Carnaval passado, o
esforço da cooperativa coletou 50,8 toneladas de material reciclável nos quatro
dias de festa, sendo 43,4 toneladas recolhidas nas ruas do Sítio Histórico e
7,4 toneladas no Camarote Carvalheira (fora das ladeiras).
A iniciativa privada
investiu cerca de R$110 mil para aumentar a remuneração dos coletores no período
e a prefeitura forneceu kits de Equipamento de Proteção Individual (EPIs). No
Carnaval deste ano, o município estima reunir cerca de 1.000 catadores
inscritos e recolher mais de 80 toneladas de resíduos nas ruas e camarotes
privados.
Rio de Janeiro
No Carnaval do Rio de
Janeiro, a Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana) coleta
materiais recicláveis na Passarela do Samba – exceto latinhas, que são
recolhidas por uma cooperativa.
Outra iniciativa da
Comlurb é disponibilizar o Galpão das Artes Urbanas para o bloco Vagalume O
Verde criar fantasias e adereços com base em materiais reaproveitados. Por sua
vez, o bloco promove oficinas gratuitas que ensinam o reaproveitamento de
resíduos durante o Carnaval.
Em parceria com a ONG
Sustenta Carnaval, projeto socioambiental de economia criativa, a Comlurb
reaproveita os materiais recolhidos pela ONG na área de dispersão do Sambódromo
e participa das oficinas de circularidade. As iniciativas estão prolongando a
vida útil do aterro sanitário e minimizando os impactos ambientais associados
ao Carnaval.
Apesar dos esforços de
gestão dos resíduos durante o Carnaval e outras épocas do ano, é importante
compreender que a primeira regra a ser seguida é a da "não-geração".
“Pensar e repensar nossos hábitos de consumo é fundamental para
reduzirmos a quantidade de resíduos que produzimos todos os dias”, observa o
coordenador.
Ou seja, as parcerias
são fundamentais, mas os foliões também precisam fazer a sua parte. “Cada um
tem que se responsabilizar pelo seu resíduo. Copos, fantasias, bitucas de
cigarro, adereços de plástico, praticamente tudo pode ganhar um destino mais
nobre que lixões, aterros ou até mesmo a própria rua. Isso é um desafio que
envolve boa informação e mudança de cultura”, conclui Edson.
Edson Grandisoli - Coordenador pedagógico do Movimento Circular, é Mestre em Ecologia, Doutor em Educação e Sustentabilidade pela Universidade de São Paulo (USP) e Pós-Doutor pelo Programa Cidades Globais (IEA-USP).
skype - edsongrandisoli
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