Ranking de músicas com mais buscas online nessa época é liderado pelo clássico “Mamãe, eu quero” e as famosas “Cabeleira do Zezé” e “Me dá um dinheiro aí”
Ao lado das fantasias criativas e
blocos de rua, quem já está contando os minutos para celebrar durante a próxima
semana sabe que, para um bom e velho Carnaval, um ingrediente-chave jamais pode
ficar de fora da festa: as famosas marchas temáticas, cujos
ritmos contagiantes e letras fáceis de decorar fazem com que, a cada novo ano,
canções clássicas tomem conta dos trios elétricos e se transformem em
verdadeiros hits nas plataformas musicais.
Ou vai dizer que você não conhece ao
menos um dos versos de “Mamãe, eu quero”, “Cabeleira do Zezé” ou
“Allah-la-ô”?
Pois saiba que a lista de hinos
atemporais, de toda forma, não se resume somente aos três, abrangendo uma
variedade de outros sucessos não apenas entre os foliões, mas os internautas —
como destaca a plataforma Preply.
Isso porque, em um levantamento especial para a data, a especialista no ensino de idiomas acaba de divulgar quais marchinhas estiveram por trás dos maiores picos de buscas online ao longo do último Carnaval, bem como a origem e o significado dessas letras que tanto embalam a folia nas cidades de Norte a Sul… mas cujos sentidos originais, muitas vezes, seguem desconhecidos pela nossa população. Confira abaixo:
“Mamãe,
eu quero” (Vicente Paiva e Jararaca)
Em meio a tantas
músicas inesquecíveis, não surpreende que a marcha de Carnaval mais buscada
pelos brasileiros na internet também tenha sido aquela que, com frequência, vem
sendo considerada a mais tocada nos cortejos e festivais ao redor do Brasil.
Afinal, estamos
falando daquela que, de acordo com um levantamento da revista Veja, recebeu o
título de 2ª melhor marchinha temática de todos os tempos,
chegando até mesmo a ser executada durante a festa de encerramento dos Jogos
Olímpicos de 2016 — tamanha a sua popularidade de Norte a Sul.
O que muitas
pessoas não sabem, na verdade, é que “Mamãe, eu quero” foi composta há quase um
século pelos músicos Vicente Paiva e Jararaca, mesma época em que foi
interpretada por Carmen Miranda no filme estadunidense “Down
Argentine Way” (“Serenata Tropical”, em português), obra indicada
ao Oscar e responsável por popularizar seus versos internacionalmente sob o
nome de “I want my mama”.
Embora,
originalmente, o seu sentido fizesse alusão direta às memórias de infância de
um de seus compositores — Jararaca fora uma dessas crianças que permanecem
pedindo a chupeta mesmo depois de bem crescidas —, de lá
para cá, é possível pensar que aqueles que a cantarolam a cada novo Carnaval o
fazem para evocar a busca por alegria e prazer (assim
como um bebê que quer mamar), quando não para trazer à tona essa sensação de
brincadeira e malícia sugerida pela letra.
“Cabeleira
do Zezé” (João Roberto Kelly)
Afinal, que
brasileiro nunca se perguntou quem seria o tal do Zezé, que
inspirou a famosa marcha “Cabeleira do Zezé”, assim como também se pegou
pensando no que de fato ele seria, tal qual sugerido pela
canção?
Se você é mais um
dos tantos curiosos em relação à música, aqui vai: em suas diversas
entrevistas, o produtor musical João Roberto Kelly, o nome por trás da
composição, explica que o personagem sobre o qual canta foi inspirado em um garçom
“cabeludo” com quem se esbarrou em um bar, cujo corte de cabelo em muito o
lembrava os Beatles em início de carreira. Daí seu
questionamento: qual seria a desse rapaz de visual meio James Dean, meio
artista de vanguarda?
“Me dá
um dinheiro aí” (Homero, Glauco e Ivan Ferreira)
Inspirada pelo
bordão de mesmo nome, a marcha que tem como refrão “ei, você aí, me dá um
dinheiro aí” ganhou sua própria melodia pela mão dos irmãos Homero, Glauco e
Ivan Ferreira, que viram potencial na frase comumente repetida (sempre
com ares de malandragem e malícia) no programa de TV humorístico “Praça da
Alegria” sob a forma de música.
Daí em diante, um
processo gerou o outro: primeiro, a faixa foi oficialmente gravada pelo cantor
Moacyr Franco, que a lançou em um disco no ano de 1959. Logo em seguida, a
canção se transformou em um verdadeiro hit graças aos personagens do
próprio “Praça da Alegria”, que a popularizaram a ponto de torná-la o maior
sucesso do Carnaval em 1960… o que se mantém até os dias atuais.
“Daqui
não saio” (Paquito e Romeu Gentil)
Quando o assunto
são as marchas de Carnaval, não é incomum que, dada a popularidade de suas
letras, certos títulos acabem se convertendo até mesmo em expressões
idiomáticas — e esse é o caso da frase “daqui não saio, daqui ninguém
me tira”.
No entanto, o que
hoje é usado para se referir à resistência ou relutância em deixar algum lugar
já foi, em 1949, uma composição produzida com o intuito de iluminar um problema
social ainda persistente: a escassez de moradias em um país marcado pela
desigualdade, conforme sugerem as palavras de Paquito e Romeu Gentil.
Submetida a um
concurso de músicas carnavalescas da prefeitura do Rio, em 1950, a canção de
cunho social logo levou o prêmio… e acabou conquistando, de brinde, os corações
de brasileiros e brasileiras nas décadas que se seguiram.
“Acorda,
Maria Bonita” (Volta Seca)
Se, de um lado, a
grande inspiração por trás de “Cabeleira do Zezé” é um personagem ordinário,
cuja identidade permanece um mistério para muita gente, em “Acorda,
Maria Bonita”, quem ganha vida é uma figura histórica: a
brasileira Maria Bonita, primeira mulher a participar de um grupo de cangaceiro
que se tem registro e também companheira de Lampião.
Isso porque,
embora tenha se transformado em marchinha carnavalesca com o passar do tempo,
essa é uma música escrita e gravada pelo cangaceiro sergipano Antônio dos
Santos (mais conhecido como Volta Seca) em 1958, parte de um LP chamado
“Cantigas de Lampião” — com músicas que abordavam a rotina e os desafios da
vida nos cangaços.
Agora ficou mais
claro o sentido dos seguintes versos, hoje ecoados em cortejos e festivais, que
dizem “Acorda, Maria Bonita/levanta, vai fazer o café/que o dia já vem
raiando/e a polícia já está em pé”?
“Allah-la-ô”
(Haroldo Lobo e Antônio Nássara)
Outro fruto do
trabalho coletivo entre grandes artistas, é possível dizer que a história do hit “Allah-la-oh”
se divide em dois momentos diferentes: o primeiro sendo aquele em que, no
Carnaval de 1940, o músico Haroldo Lobo levou para um bloco de rua carioca os
versos de uma de suas composições (que viria a se tornar a base da marcha que
conhecemos) e, em seguida, a etapa em que Lobo, apostando no sucesso da letra,
pediu que o também compositor Antônio Nássara a completasse com uma segunda
parte.
Desse trabalho
conjunto, portanto, é que surgiriam os famosos versos “Viemos do Egito/e muitas
vezes nós tivemos que rezar/Alá, Alá, Alá, meu bom Alá/mande água pra
Ioiô/mande água pra Iaiá /Alá, meu bom Alá", que evocava alegoricamente a
imagem do deserto do Saara e a do deus islâmico Allah para falar do calor
intenso que marca o verão brasileiro.
Trata-se, nesse
sentido, de mais um exemplo que mostra como elementos de outras culturas,
religiões e costumes são assimilados pelas produções carnavalescas,
que nem por isso deixam de perder aquele “temperinho brasileiro” que tanto as
caracteriza.
“A
Jardineira” (Humberto Porto e Benedito Lacerda)
Parte essencial do
repertório carnavalesco de 1939, “A Jardineira” é, antes de tudo, uma adaptação
de refrões provenientes da Bahia, transformados em marchinha de Carnaval por
dois compositores fluminenses: Humberto Porto e Benedito Lacerda, que a
colocaram na boca da população nos festivais temáticos daquele ano.
Nas décadas
posteriores, a canção, que conta a história de uma jardineira enlutada
pela morte de uma camélia que “caiu do galho, deu dois suspiros e depois
morreu” se expandiu pelo Brasil, ganhou versões e mais
versões e chegou a virar motivo de duras brigas, protagonizadas pelas tantas
pessoas que afirmavam ser as donas legítimas dos versos.
Ainda hoje, aliás,
há quem continue questionando a autoria da música, que, a despeito das
controvérsias, está sempre nas listas de mais ouvidas na data nos últimos
anos.
“Ó
abre alas” (Chiquinha Gonzaga)
Para que as
principais marchinhas de Carnaval fossem produzidas no futuro, ou melhor, para
que a própria ideia de marcha carnavalesca se difundisse por entre os
brasileiros, antes foi preciso que, em 1899, uma canção fosse composta pelos
dedos de Chiquinha Gonzaga: “Ó Abre Alas”, tida, hoje, como a primeira
marchinha de Carnaval da história e a única da lista escrita por uma mulher.
Na época, sua
intenção era simples: atender aos pedidos de uma música inédita para o cordão
carnavalesco Rosa de Ouro, um dos grupos precursores das escolas de samba e
blocos temáticos atuais. O que Gonzaga não imaginava é que a canção logo se
tornaria não só uma marca do Carnaval carioca, mas um
sucesso absoluto durante toda a primeira década do século XX —
e, como demonstram as buscas no Google, muitos e muitos anos depois.
Vale lembrar que o
título "Ó abre alas" se refere à expressão usada para pedir passagem,
abrindo caminho para que algo ou alguém passe. No contexto do Carnaval, a
marcha vem sendo usada como um chamado para abrir espaço e dar início à folia.
A letra da música evoca a alegria, a animação e a celebração típicas da data,
incentivando as pessoas a se unirem na festa e a deixarem suas preocupações de
lado.
Metodologia
Para desvendar
quais as marchas carnavalescas mais pesquisadas no país, a pesquisa da Preply
teve como ponto de partida todas as buscas relacionados ao tema “marcha de
Carnaval” na ferramenta Keyword Tool, cujo período de análise abarcou pesquisas
realizadas no primeiro trimestre do último ano — considerado o período de
Carnaval — nos mecanismos de busca. Compreendidas as músicas com os maiores
volumes de pesquisa, uma segunda análise girou em torno da origem e significado
das canções mais populares do país.
Preply
https://preply.com/pt/
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