“Sim, modificar o mundo do trabalho, tornando-o melhor, tanto para a empresa quanto para o colaborador, é possível”, afirmam os renomados psicólogos organizacionais Amy Wrzesniewski e Jane Dutton, em sua publicação acadêmico-científica que trouxe para a seara dos negócios um conceito que não vai mais deixar de estar presente no dia a dia das corporações: o job crafting.
Não sabe o que este
importante conceito quer dizer? Atente-se à explicação sem enrolação. Para os
especialistas em recursos humanos mencionados acima, o verbo que vem do idioma
estrangeiro “to craft” traduz-se para “criar”, aqui no Brasil. Logo, quando
aplicada ao ofício das organizações, a expressão alude à prática de adaptar o
labor à necessidade de cada indivíduo.
Imagine, por exemplo, que
determinada profissional de serviços gerais foi contratada para fazer a
conservação das instalações do seu empreendimento. Chegando lá, depois de
apresentada à equipe e direcionada ao recinto onde ficam os produtos de
limpeza, o gerente de facilities deu a ela a seguinte instrução: “nesta
firma, o escritório do patrão dá para aquela janela mais alta”.
“É sua a obrigação de
deixá-la transparentemente impecável, pois ele precisa observar o chão de
fábrica com certa efetividade. Portanto, pegue logo o que for precisar e pode
começar”. Será que ela fez conforme o recomendado? Espie bem. Uma vez que a
vidraçaria ficava a 5 metros do piso, constituindo uma plataforma suspensa, o
rodo comum talvez requeresse uma melhoria.
Assim, ao reportar à
chefia que a adaptação de um simples aparato mecânico ao melhor amigo da
vassoura, alongando a sua capacidade de extensão, fosse a alternativa
financeiramente mais viável para a execução da incumbência recebida, dona
Eugênia, além de adequar o trabalho à sua maneira, também trouxe à empresa
outra perspectiva: a capacidade de “craftear” as coisas.
Dali a pouco, foi a vez
do pano de prato. Na maioria das cozinhas existentes por aí, sejam elas
residenciais ou corporativas, instituiu-se na sociedade de consumo que o
utensílio utilizado para secar a louça deveria ser branco. E por quê? Você dá
uma enxugada aqui, outra ali e em mais algumas poucas lavadas o tecido amarela
de vez, tornando-se elegível para o devido descarte.
Neste entendimento, era
de se pressupor que a moça que está sempre com o balde perto de si perpetuasse
o protocolo mercadológico, certo? Ao invés disso, bastou uma espiada na copa e
uma solicitação à tesouraria para que malhas estampadas fossem adquiridas.
Agora, além de divertir as pessoas ao seu redor, os panos duram muito mais,
maximizando a sua rentabilidade.
E o sabão em pó?
Requisito para qualquer ambiente que almeje chegar ao higienizante status de
branquitude estimada, um punhado de “Momo” faz faxinar a calçada da firma na
totalidade de sua extensão. Outro de “Xariel” e o assoalho da recepção por onde
entram os seus clientes de alto poder aquisitivo, de tão abstergido, quase vira
uma passarela para as suas celebridades.
Isto até receberem o crafting
de Eugênia. Por conta dele, ensaboar a fachada ficou muito mais fácil. O
segredo? “Deixa o [Bypê] pra lá, seu Antunes. Agora, tem um sabão que é tudo de
[bão]”, afirmou a especialista em desenxovalhar as coisas. “Em vez de sólido,
ele vem diluído parecendo uma espécie de shampoo fortificado: vai uma
porção e a gente consegue purificar um montão”.
Resumindo para quem
estava dormindo, de “craft” em “craft”, de auxiliar, a copeira
passou para a função de assistente. De assistente, ela foi promovida ao cargo
de perita em conservação. De perita em conservação, ela foi parar na chefia
responsável por assegurar a plena eficiência das instalações do conglomerado
empresarial. Tudo por influência da sua habilidade de ir além.
Dito de uma outra
maneira, para sobreviverem em um mercado cada vez mais competitivo, as empresas
de hoje em dia precisam fazer diferente e isto requer atitude. Nesta lógica,
sentenças comunicacionais pouco eficientes, tais quais “aqui, as coisas sempre
foram feitas assim” dão lugar a elucidações edificantes, como “o que pode ser
feito para otimizar os nossos resultados?”.
Deste modo, da próxima
vez que você tiver que resolver alguma bucha organizacional, por que seguir o
protocolo que leva sempre à mesma decorrência? Em vez disso, permita com que as
Eugênias de cada equipe possam dar o que têm de melhor. Afinal, o seu negócio
pode sequer ser o mais asseado, mas requererá sempre do crafting
resultante de um bom pano molhado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário