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Ampliação do acesso a um dos principais métodos de rastreamento e diagnóstico precoce da doença necessita, entre outros fatores, de melhoria de infraestrutura de saúde pública, educação e conscientização da população
Em 2008, a Lei nº 11.695 instituiu o Dia Nacional
da Mamografia. A data, celebrada em 5 de fevereiro, tem a proposta de chamar a
atenção para a importância do exame, um dos principais métodos para
rastreamento e diagnóstico precoce do câncer de mama. Apesar do destaque no
calendário, o acesso à mamografia em muitas cidades brasileiras ainda é
limitado, seja pela falta de centros de saúde equipados, longas filas de espera
ou custos associados ao exame. “Em um País com regiões tão heterogêneas de
desenvolvimento, disponibilizar a mamografia à população-alvo é um desafio para
governos e gestores”, afirma a mastologista Maria Julia Calas, presidente da
Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) Regional Rio de Janeiro.
O Brasil dispõe, em uso, de 6.334 aparelhos de
mamografia, número considerado suficiente para atender a população-alvo. No
entanto, o SUS (Sistema Único de Saúde) realiza somente 30% do rastreamento.
Para Maria Julia Calas, no enfrentamento dos desafios associados ao
rastreamento nacional de câncer de mama, além da melhoria da infraestrutura de
saúde, há a necessidade de ampliar o acesso, a conscientização e a educação da
população. “Estas ações devem ser integradas a políticas de saúde pública para
que o Brasil alcance resultados mais eficazes e equitativos”, destaca.
Em algumas comunidades, observa a médica, mesmo com
as ações da campanha Outubro Rosa, a falta de conhecimento da população sobre a
detecção precoce do câncer de mama pode resultar em atrasos nos exames e
diagnósticos. “Não mais se questiona o fato de o câncer de mama ser o mais
frequente entre as mulheres brasileiras”, diz.
Como efeito da cobertura mamográfica inadequada, os
casos de câncer de mama em estágio avançado foram 43,16% (2018-2019) e 52,04%
(2020-2021) no SUS; 30,5% (2018-2019) e 36,4% (2020-2021) na saúde suplementar,
que inclui os planos de saúde. Desde a biópsia até o primeiro tratamento,
observam-se diferenças entre o SUS e a saúde suplementar. Em até 30 dias, os
atendimentos representaram 21,1% no SUS e 45,4% no sistema privado. Entre 30 e
60 dias, o SUS registra 34%; a saúde suplementar, 40%. Acima de 60 dias, foram
44,9% no SUS e 14,6% no sistema privado. Neste sentido, a SBM considera
fundamental a aplicação da Lei nº 12.732 de 2012, que determina o início do
tratamento no prazo máximo de dois meses.
Rejuvenescimento do câncer
Pela deficiência de informação e de acesso à
mamografia, a SBM constata o “rejuvenescimento do câncer”, ou seja, cada vez
mais casos de mulheres com menos de 40 anos de idade apresentando a doença.
Com base em informações disponibilizadas pelo
Tabnet, no Painel Oncologia do DATASUS, a Sociedade Brasileira de Mastologia
verificou um aumento expressivo no número de mulheres com menos de 50 anos
diagnosticadas com câncer de mama. Em 2013, ano inicial da análise realizada
pela SBM, do total de biópsias lançadas no Tabnet, 9.903 foram positivas para
câncer de mama. Em 2022, somaram-se 12.719. Em 2023, dados ainda parciais
mostram que entre mulheres de 40 a 49 anos, 5.753 apresentaram a doença, e o
que se projeta com a consolidação dos números é o aumento de casos.
Os números do Tabnet indicam ainda um alto índice
de câncer de mama em mulheres com menos de 35 anos. Neste grupo, a doença pode
estar relacionada à herança genética, realidade para a qual já há estratégias
de diagnóstico e tratamento. Somente cinco Estados brasileiros dispõem de
legislações específicas para Detecção de Mutação Genética dos Genes BRCA1 e
BRCA2 custeada pelo SUS. O direito já assiste as mulheres no sistema
suplementar operado pelos planos de saúde desde 2014.
É consenso entre entidades como SBM, Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) e CBR (Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem), que o exame anual seja realizado a partir dos 40, e não bienais, dos 50 aos 69 anos, como preconizado pelo Ministério da Saúde.
Tecnologia
Outro aspecto observado pela especialista da SBM
diz respeito à qualidade das imagens mamográficas. “Este é um fator que
influencia diretamente na precisão diagnóstica e na implementação de tratamentos
mais eficazes”, afirma. “A pesquisa contínua é vital para identificar novas
tecnologia e abordagens de rastreamento que possam melhorar a detecção precoce
e reduzir limitações associadas à densidade mamária e outros fatores”,
completa.
Uma evolução em tecnologia apontada por Maria Julia
Calas é a tomossíntese, ou mamografia 3D. A técnica avançada cria imagens
tridimensionais da mama, contribuindo, segundo a médica, para melhorar a
detecção de tumores e reduzir a necessidade de exames complementares ou de
acompanhamento. Um estudo realizado em conjunto pela SBM, Febrasgo e CBR
demonstra que o rastreamento populacional (prevenção secundária) do câncer de
mama com o uso da tomossíntese poderia trazer grande benefício às mulheres, com
ganho médio de 5 anos de vida de qualidade. Para as operadoras de saúde, a
utilização da mamografia 3D poderia gerar uma economia de até R$ 400 milhões em
5 anos.
Até o final de 2023, o Instituto Nacional de Câncer
(Inca) estimou 73.610 novos casos de câncer de mama no Brasil. “É preocupante
constatar que este número é ainda maior, pois nem todas as mulheres receberam o
diagnóstico, por não realizarem exames de rotina, e aqui destacamos a
mamografia. Assim, a SBM se mantém firme na defesa da qualidade assistencial e
da maior efetividade no enfrentamento ao câncer de mama, em sintonia com as
diretrizes definidas pelas associações de especialistas em saúde da mulher no
País”, conclui a mastologista Maria Julia Calas.
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