Empresas precisam ter políticas permanentes de cuidado com os colaboradores, afirma a psicóloga e CEO do Instituto Internacional em Segurança Psicológica, Patricia Ansarah
Nas empresas, a saúde mental – tema da campanha Janeiro
Branco (que acontece no primeiro mês do ano) – está diretamente
relacionada à produtividade, motivo pelo qual sua importância vai além de uma
data educativa, destaca a psicóloga Patricia Ansarah, fundadora
do Instituto Internacional em Segurança Psicológica (IISP).
“Não basta fazer ações pontuais só em janeiro. É preciso que
as organizações, os líderes, e todos os colaboradores fiquem atentos a essa
questão o ano inteiro. Podemos apreciar as empresas que já fazem ações sobre
cuidados com a saúde mental no Janeiro Branco, mas precisamos avaliar o quanto
isso está dentro de uma estratégia de negócio.”
Segundo Patrícia, empresas que não dão a devida atenção à
saúde mental dos colaboradores terão problemas acentuados de turnover, saúde,
engajamento e clima organizacional. “Haverá maior ocorrência de questões
ligadas a burnout, ansiedade e depressão”, observa.
Saúde mental nas organizações
De acordo com a pesquisa de 2023 da FGV ‘Como as empresas
cuidam da saúde mental dos seus funcionários?‘, 45% dos respondentes (572
profissionais, de analistas a executivos de alto escalão) admitiram redução de
horas ou ausência de jornada por causa de problemas com a saúde mental
(absenteísmo).
No levantamento, 54% admitiram ter sofrido com algum
transtorno de saúde mental e 63% disseram que não receberam apoio da liderança
para lidar com a doença. Em relação às consequências, quase 60% disseram que se
desligaram da empresa pelo mesmo motivo. Ainda na pesquisa, 56% dos profissionais
revelaram conhecer pelo menos uma pessoa que se afastou do trabalho por
problemas de saúde mental.
Dicas
Para ajudar a identificar sinais de que a saúde mental dos
colaboradores pode estar com problemas, Patrícia tem algumas dicas:
- Prepare a liderança
Mesmo que a empresa tenha estruturas de apoio (psicólogos e
programas de benefícios), elas só serão acionadas se a pessoa tomar a
iniciativa. Mas é importante que as lideranças recebam treinamento para
identificar comportamentos atípicos, pois o colaborador, muitas vezes, nem sabe
o que está se passando com ele.
“Ao falar sobre cuidados com a saúde mental, vai-se
alfabetizando a empresa a entender os sintomas. Não é para formar líderes e
pessoas que diagnosticam, porque isso é papel dos especialistas da área da
saúde, mas é possível preparar para perceber sintomas aparentes”, explica
Patrícia.
- Estimule a conversa
A depressão, o burnout e o estresse podem ter várias causas,
mas o resultado é basicamente o mesmo: queda de produtividade. Alguns sinais de
alerta são a ausência social e o desinteresse por encontros corporativos em
pessoas que, normalmente, participam de forma espontânea.
“As empresas podem usar os indicadores a seu favor,
acompanhando com atenção indicadores de performance e de comportamento, como o
absenteísmo (faltas). Também é importante observar se há alteração de humor
como aumento de irritabilidade, intolerância e queda do nível de colaboração”,
exemplifica.
- Escuta ativa
Quando há uma boa relação entre o gestor e a equipe, a
comunicação é favorecida e o colaborador se sente com abertura para
compartilhar sua situação emocional, em vez de ir direto ao RH. O líder que se
depara com essa situação precisa praticar escuta ativa e pensar em formas de
ajudar.
“Isso só acontece se as pessoas se conhecerem entre si e se
a própria pessoa se conhecer. É recomendado falar sobre o tema, educar as
pessoas sobre emoções e doenças”, comenta Patrícia.
- Flexibilize os horários, se for o caso
Dependendo da situação, o gestor pode estudar formas de
adequar o horário de trabalho e o escopo do colaborador. Nesse período crítico,
é possível incentivar a aproximação do colaborador afetado para que ele não se
sinta isolado, um horário flexível ou período de home office.
Também é possível dividir projetos em tarefas menores, para
que cada etapa concluída seja processada no cérebro como uma recompensa. Mas
tudo vai depender do diagnóstico de cuidados que a pessoa necessita, frisa
Patrícia.
Uma boa saúde mental é essencial para a vida das pessoas e para
o ambiente corporativo, segundo a especialista. “Cuidar da saúde mental dá
resultado. Quando existem pessoas em organizações que cuidam disso efetivamente
e colocam os indicadores de saúde como indicadores de desempenho para os
líderes e para o negócio como um todo, estamos cuidando de ter pessoas mais
produtivas, engajadas e colaborativas. Em um ambiente onde as pessoas são mais
ativas, o aprendizado acontece e aumenta o nível de desempenho e realização
pessoal.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário