Distúrbios do sono
são muito comuns nas crianças com o Transtorno do Espectro AutistaImagem de RachelBostwick por Pixabay
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma
condição que afeta o neurodesenvolvimento do indivíduo. Caracteriza-se por
dificuldades na interação social, na comunicação e por comportamentos ou
interesses res- tritos e repetitivos. Em cada um, apresenta-se de forma
diferente. Mas um sintoma, em especial, é bem comum em cerca de 80% das
crianças com TEA: a dificuldade para adormecer e manter um sono de
qualidade.
A neurologista infantil, neurofisiologista clínica
e membro da Associação Brasileira do Sono, Letícia de Azevedo Soster, explica
por que o distúrbio do sono é tão prejudicial para as crianças com TEA. “O
desenvolvimento e a maturação neuronal, a construção de sinapses e a poda
cerebral acontecem no período do sono. Portanto, essa fisiologia do
desenvolvimento pode ficar ainda mais comprometida com o sono de má qualidade”,
alerta. “Há consequências também físicas: o GH, o hormônio do crescimento, é
liberado principalmente na primeira metade do sono. Se a criança tem o sono
entrecortado, também essa liberação será minimizada”.
Soster explica que os distúrbios do sono são tanto
de natureza orgânica como comportamental. “Do ponto de vista homeostático,
notamos que a criança com TEA ou não gasta muita energia ou, se gasta, fica
mais alerta, como se estivesse habituada a viver com o cansaço”. Outra
hipótese, já confirmada em alguns estudos, é que algumas crianças com TEA têm
uma redução na produção de melatonina – um hormônio produzido pela glândula
pineal, localizada no cérebro, cuja função é regular o ritmo biológico do corpo
e estimular o sono no período noturno. A neuropediatra aponta, ainda, outros
fatores que podem levar aos distúrbios do sono. Um deles é a apneia obstrutiva
do sono, causada principalmente pelo relaxamento dos tecidos da faringe e da
base da língua, o que altera a respiração durante o sono. O outro tem base
comportamental: “Sentir sono é uma sensação aversiva. Frente a ela, há quem
tente ir contra e o resultado é a dificuldade de adormecer”.
Independentemente da causa que resulta no distúrbio
do sono em crianças com TEA, os reflexos no comportamento são claros:
irritabilidade, aumento da agressividade, da agitação e dificuldade de
regulação emocional, entre outras manifestações. “É importante destacar que,
embora os distúrbios do sono sejam altamente prevalentes em crianças, não é
incomum que eles persistam na adolescência e na vida adulta, especialmente
quando a causa é comportamental. É por esta razão que os pais devem ficar
atentos aos sinais e compartilhar a dificuldade com o sono com os profissionais
que já atendem a criança. A abordagem interdisciplinar é eficiente para
minimizar os impactos que acabam por afetar toda a família”, completa Soster.
Sinais de que a criança com TEA pode sofrer com
distúrbio do sono
Confira os principais sinais:
Durante o dia:
A criança pode ter dificuldade em se manter fazendo
uma tarefa. A falta de sono compromete o foco.
Acorda mal-humorada e se mantém assim ao longo do
dia? Este é um sinal importante.
A irritabilidade é evidente, assim como uma maior
agressividade. Há uma baixa tolerância à frustração.
A agitação é outro sintoma que precisa ser
considerado. Pode ser uma reação para ‘driblar’ a sonolência,
uma sensação aversiva para alguns.
Durante à noite:
A criança tem dificuldades ou resiste em adormecer.
Se a criança ronca enquanto dorme, pode ser um
importante sinal de alguma dificuldade respiratória.
Note se a respiração é ruidosa ou trabalhosa.
Observe, ainda, se a respiração é feita pelo nariz
ou pela boca, neste caso, pode indicar que há algum problema.
Normalmente, a criança com distúrbio do sono acorda diversas vezes durante o sono ou se mexe excessivamente.
Associação Brasileira do Sono
https://www.instagram.com/absono/
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