Os esquemas de negócio que se popularizam e chamam atenção por suas propostas aparentemente inovadoras, muitas vezes, podem carregar ecos de práticas questionáveis do passado. A história da 123 Milhas, que ofereceu pacotes de viagens a preços consideravelmente baixos, suscita comparações com o infame Esquema Ponzi. Mas, como esses dois modelos se sobrepõem? E o que podemos aprender com essa analogia?
Antes de mergulhar na analogia, é crucial entender o que é
um esquema Ponzi. Nomeado após Charles Ponzi, que popularizou o modelo na
década de 1920, esse esquema envolve prometer altos retornos de investimento
pagos a investidores iniciais com o capital de novos investidores, em vez de
lucros legítimos. Quando não há novos investidores ou quando muitos deles
tentam retirar seu dinheiro, o esquema desmorona, deixando muitos no prejuízo.
Vendas antecipadas e fluxo de caixa: a estratégia da 123
Milhas de vender passagens com um longo intervalo entre a compra e a viagem soa
semelhante à forma como os esquemas Ponzi pagam retornos anteriores usando
fundos de novos investidores. A suspensão da emissão de passagens pagas pela
123 Milhas é sugestiva de problemas de fluxo de caixa, indicando que o dinheiro
dos novos clientes estava sendo usado para cobrir compromissos antigos.
Sinais de Alerta: A forma como a empresa lidou com a emissão e o pagamento de passagens é um indicativo de que algo estava errado. A prática de usar novas vendas para cumprir obrigações antigas é característica de um esquema Ponzi.
Enquanto a investigação sobre a 123 Milhas continua, é essencial observar os sinais e entender as semelhanças com esquemas fraudulentos conhecidos. Para investidores e consumidores, o caso destaca a importância da devida diligência. No mundo dos negócios, quando algo parece bom demais para ser verdade, muitas vezes é.
Ainda que a 123 Milhas não seja explicitamente um esquema Ponzi, as semelhanças e práticas questionáveis servem como um alerta para a necessidade de transparência, regulamentação adequada e, acima de tudo, cautela por parte dos consumidores.
Os esquemas Ponzi deixaram uma marca indelével na história
financeira global, e a analogia com o caso da 123 Milhas reforça a necessidade
contínua de vigilância em um mundo financeiro em constante evolução.
Jorge Calazans - advogado, especialista
na área criminal, Conselheiro Estadual da ANACRIM, sócio do escritório Calazans
& Vieira Dias Advogados, com atuação na defesa de vítimas de fraudes
financeiras.
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