No Dia Mundial da Alfabetização, especialistas falam da importância dos estudantes dominarem as habilidades de leitura e escrita. O empenho da escola é fundamental, mas os pais também podem estimulá-las. Confira algumas dicas
Comemorado em 8 de setembro, o Dia Mundial da
Alfabetização lembra uma etapa primordial na vida de uma criança em idade
escolar, pois abre caminhos não apenas para a leitura e escrita em si, mas
também para a vida em sociedade, principalmente quando se consegue interpretar
o que se lê e escreve. Dados da pesquisa “As Múltiplas Dimensões da Pobreza na
Infância e na Adolescência no Brasil”, lançada pelo UNICEF, utilizando dados da
Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), mostram o quanto a
alfabetização foi impactada pela pandemia. Em 2022, o percentual de crianças
privadas do direito à alfabetização dobrou em relação a 2020: passando de 1,9%
para 3,8%. Alfabetizar todas as crianças até no máximo o 3° do Ensino
Fundamental é a meta 5 do Plano Nacional de Educação (PNE) que deve ser
atingida até 2024.
Mas a criança começa dar os primeiros passos rumo a
esses conhecimentos na Educação Infantil, a partir dos 4 anos, quando, de forma
lúdica, vai tendo contato com as várias formas da linguagem que vai se
concretizar nos anos iniciais do Ensino Fundamental. “Nessa fase, o aluno é
incentivado a explorar o mundo por meio do tato, das cores, das formas e dos
sons e a socializar, apropriando-se da aquisição da linguagem”, explica a
professora Marina Arnone, gestora da Educação Infantil do Colégio Positivo -
Júnior. De acordo com a especialista, na Educação Infantil trabalham-se
qualidades decisivas da alfabetização como autoestima, autoconfiança e
segurança emocional, por exemplo.
Segundo a professora Kaline Mazur, também gestora
da Educação Infantil do Colégio Positivo - Júnior, as metodologias voltadas
para esse contexto não devem se restringir à apropriação da leitura e da
escrita, mas é fundamental que elas abranjam a formação de cidadãos críticos.
"A função dos educadores é abrir caminhos para que os próprios alunos descubram,
de forma consciente, as estratégias de assimilação desse conhecimento”, afirma.
Quanto mais lúdico, mais fácil
será o aprendizado
A linguagem que as crianças mais dominam é a das
brincadeiras. Isso significa que o aprendizado da leitura e da escrita deve ser
envolvido pela surpresa e pela diversão. "Explorar materiais concretos que
envolvam o estudante em vivências e experiências é super importante para as
etapas subsequentes do seu desenvolvimento”, afirma a professora Shirley
Cristiane Szeiko, coordenadora da Educação Infantil e Anos Iniciais (1° ao 3°
ano) do Colégio Positivo - Londrina.
Para a educadora, a criatividade deve ser sempre
cultivada nas atividades propostas para se ter um bom resultado na
alfabetização. “Ouvir, criar e contar histórias, observar fotografias e outras
imagens, além de explorar recursos musicais, brincar com as palavras, passear,
dão oportunidade de ampliar o repertório cultural e pedagógico dos pequenos.
Por isso, é muito importante que não apenas os professores, mas também a
própria família desempenhem esse papel tão fundamental nesse processo”, sugere
Shirley. Os familiares também podem contribuir especialmente na organização da
rotina dentro de casa. Determinar um espaço para que a criança possa criar e
estudar é um bom exemplo. “Além disso, estimulando o exercício de pequenas
tarefas e ensinando o cuidado com pertences individuais, os pais ajudam no
florescer da autoconfiança em seus filhos – qualidade essencial para a
aceitação de erros e para a compreensão de que as tentativas fazem parte da
aprendizagem”, explica a professora.
Muitos pais questionam sobre qual a idade ideal
para aprender a ler e a escrever. Segundo os especialistas, cada ser humano
segue um ritmo próprio de desenvolvimento e aprendizado. Mas para que esse
processo tenha início, é necessário que a criança conquiste habilidades
importantes. “A Educação Infantil é a etapa do percurso escolar em que o
pequeno é preparado para a aprendizagem da leitura e da escrita”, endossa
Kaline. "A alfabetização em si é iniciada de forma gradual por volta dos
seis anos, no primeiro ano do Ensino Fundamental, e espera-se que as crianças
estejam aptas para ler e a escrever entre oito e nove anos de idade, ou até o
fim do terceiro ano do Ensino Fundamental", detalha a professora.
Como ajudar as crianças no
processo de alfabetização
A família desempenha um papel fundamental no
processo de alfabetização das crianças. A professora Shirley Cristiane Szeiko
listou algumas dicas para que os pais e familiares possam contribuir nesse processo.
Confira a seguir:
- Estimule a leitura de livros infantis desde cedo,
pois eles despertam na criança o prazer pela leitura.
- Proponha brincadeiras explorando palavras, como
jogos de palavras, incentivando o desenvolvimento da linguagem.
- Utilize músicas e ritmo, pois eles trazem
significado e entusiasmo às palavras.
- Ofereça contato com diferentes tipos de textos,
como jornais, cartas e revistas. Eles mostram a função social da escrita no dia
a dia.
- Aproveite a Educação Infantil como uma oportunidade
de estimular a criança a conhecer o mundo de maneiras diversas, explorando o
entorno e relacionando-se socialmente.
Etapas do processo de
alfabetização
De acordo com a teoria da Psicogênese da Língua
Escrita, desenvolvida por Emília Ferreiro e Ana Teberosky, a criança passa por
quatro fases até alcançar a alfabetização completa. São elas:
Pré-silábica: nessa fase, a criança percebe as representações gráficas, como
desenhos e escrita, mas ainda não relaciona as letras aos sons da língua
falada. É comum a mistura de desenhos, símbolos, letras e números na tentativa
de escrita.
Silábica: a criança começa a perceber o som das letras, relacionando cada uma a
uma sílaba da palavra. Ela interpreta as letras individualmente, atribuindo
valor de sílaba a cada uma. Exemplos: to (gato), clo (cavalo), oi (boi).
Silábico-alfabética: essa fase mistura a lógica silábica com a identificação de algumas
sílabas corretas em palavras. A criança pode escrever a mesma sílaba de forma
diferente em palavras diferentes. Exemplos: Riegrai (refrigerante), bolio
(bolinho), epadina (empadinha).
Alfabético: nessa fase, a criança compreende o sistema de escrita, percebendo que
cada letra possui um valor sonoro menor que a sílaba. Mas ainda é comum
ocorrerem erros ortográficos. Exemplos: copreender (compreender), fasso (faço),
penssamento (pensamento).
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