Atendimento
odontológico diante da doença deve ser humanizado e seguro
As hepatites virais são vistas como um grave
problema de saúde pública no Brasil e no mundo. Por isso, no Dia Mundial de
Luta contra as Hepatites Virais (28 de julho) o Conselho Regional de
Odontologia de São Paulo (CROSP) destaca o atendimento odontológico direcionado
a pacientes acometidos pela doença. As hepatites virais são infecções que
atingem o fígado, causando alterações leves, moderadas ou graves.
De acordo com o Ministério da Saúde, o impacto
dessas infecções acarreta aproximadamente 1,4 milhões de mortes anualmente no
mundo, seja por infecção aguda, câncer hepático, ou cirrose associada às
hepatites. Os sintomas das hepatites virais podem variar de acordo com o tipo
(A, B, C, D e E). Pacientes portadores da hepatite B e C geralmente não
apresentam sintomas, contudo, há relatos de fatores como cansaço, febre,
mal-estar, enjoo, vômitos, dor abdominal, urina escura, fezes claras, além da
pele e olhos amarelados (sintomas esses, mais comuns nas hepatites A, D e E)
todos diretamente ligados às funções que o fígado tem no nosso corpo.
No Brasil, nos últimos 10 anos, foram
diagnosticados mais de 42 mil casos de hepatite, nos quais, na maioria das
vezes, os infectados são assintomáticos. O atendimento odontológico deve fazer
parte dos cuidados de saúde para estes indivíduos. Nesse contexto, o
Cirurgião-Dentista e presidente da Câmara Técnica de Patologia do CROSP, Dr. Fabio
Luiz Coracin, explica que a anamnese é fundamental. “A anamnese faz parte do
exame clínico de qualquer paciente que tenhamos que cuidar. É o momento em que
o profissional vai buscar as informações sobre a saúde geral e fazer o
julgamento propedêutico (conjunto de técnicas utilizadas para a elaboração de
uma base a partir da qual o Cirurgião-Dentista se orienta para chegar a um
diagnóstico) diante dos achados para chegar a um momento de tomada de decisão
da melhor forma de atender com segurança cada um dos indivíduos”.
As hepatites virais são classificadas em A, B, C, D
(Delta) e E. O conhecimento acerca dos tipos de hepatites e sobre a transmissão
de doenças nos consultórios odontológicos contribui para que os
Cirurgiões-Dentistas realizem os procedimentos odontológicos de maneira mais
segura, incorporando à sua rotina de trabalho as particularidades em relação às
condutas clínicas perante os portadores da doença. “O que muda nos tipos da
doença é a forma de transmissão e o desenvolvimento da doença, que devemos
pensar na forma aguda ou crônica. Os vírus A e E são capazes de desenvolver
hepatite na forma aguda, enquanto os vírus B, C e D têm potencial para
desenvolver formas crônicas de hepatite”.
Segundo o Cirurgião-Dentista, é recomendável que o
tratamento odontológico nos casos de hepatites agudas seja feito após a
recuperação clínica e laboratorial dos indivíduos, focando, principalmente, nos
distúrbios de coagulação. Ele explica, ainda, que, nos casos de hepatites
crônicas, os distúrbios de coagulação também fazem parte do raciocínio
propedêutico e devido à lesão do fígado, comum nestas condições, os exames de
função do fígado também devem ser pensados.
Tratamento humanizado e atendimento seguro
No consultório, o atendimento ao paciente com diagnóstico
de hepatite (desde o acolhimento até o final da conduta), seja ela a curto
prazo ou não, deve ocorrer de forma humanizada. De acordo com o especialista, a
formação da Odontologia tem dado pouco enfoque no tratamento de pessoas com
algum comprometimento sistêmico, o que pede ao profissional formado que se
prepare para o acolhimento destas pessoas e de igual forma, consiga discernir
que o tratamento odontológico deve ser o mesmo, incluindo os cuidados
necessários contra a doença na sua respectiva fase de evolução.
Dr. Fabio pontua também que, como em qualquer
situação clínica no ambiente odontológico, deste ou de qualquer outro paciente
não portador de doença infecciosa, os protocolos gerais de biossegurança devem
ser seguidos rigorosamente. Ele acrescenta que, adicionalmente, a formação de
aerossóis deve ser minimizada. O uso dos equipamentos de proteção individual
(EPIs) deve ser sempre feito com robustez para que possa haver proteção do
profissional e do paciente. “Também como medida de segurança, deve-se evitar o
reencapamento de agulhas utilizando as mãos e estimular o uso de pinças e
afastadores para auxiliar a sutura, evitando-se segurar a agulha de sutura com
a mão”.
A Hepatite B é apontada como a maior causa de
mortalidade em consultórios. Segundo Dr. Fabio, na transmissão
parenteral/horizontal a hepatite B decorre do contato com fluidos orgânicos
contendo o vírus, de modo especial o sangue (maior potencial de
transmissibilidade) e a saliva (menor potencial de transmissibilidade).
“Abrem-se, assim, diversas possibilidades de transmissão através dos
procedimentos médico-odontológicos (tais como cirurgias, raspagem e alisamento
radicular) - o que explica, ao menos parcialmente, a vasta distribuição do
vírus da hepatite B em diversas partes do mundo, bem como a existência de
muitos e diferentes grupos de pessoas sob maior risco de adquirir a infecção”.
Por este motivo, o especialista reforça que a utilização das normas de
biossegurança e as barreiras protetoras devem ser bastante estimuladas na prática
da Odontologia.
A contaminação cruzada é uma outra questão que
permeia os consultórios, inclusive os odontológicos. De acordo com o Dr. Fabio
Luiz, a contaminação cruzada ainda é o maior medo dos profissionais e
pacientes. Porém, cada profissional deve empregar os meios de biossegurança e
mecanismos de minimizar a contaminação cruzada. Ele lembra que o acesso à saúde
é universal no Brasil e os profissionais devem estar preparados para atender
qualquer pessoa.
Papel preventivo
Na opinião do Dr. Fabio, além de atuar no
atendimento odontológico do paciente com hepatite, o Cirurgião-Dentista pode ir
além da esfera do tratamento, agindo de forma preventiva. Neste sentido, o
especialista enxerga em programas como o da Saúde da Família um celeiro de
oportunidades, pois, segundo ele, esses programas são organizados com equipes
responsáveis por desenvolver ações comuns, incluindo planejamento, busca ativa
e ações específicas, devendo-se preservar as particularidades de seus núcleos
de atuação e competência. “Acredito que o Cirurgião-Dentista tem a
possibilidade de criar um espaço de práticas e relações a serem construídas
para a reorientação do processo de trabalho e para a própria atuação da saúde
bucal, no âmbito dos serviços de saúde. Além disso, o papel do Cirurgião-Dentista
é de orientar e promover a saúde, voltados para o controle da exposição aos
fatores de risco”.
Por fim, Dr. Fabio destaca que, no que se refere às contra indicações relacionadas aos eventuais procedimentos de Odontologia, todos eles devem ser planejados para cada paciente, especialmente em relação aos portadores de hepatite. “Como já foi mencionado, cada forma de hepatite tem um comprometimento, agudo ou crônico. Para cada procedimento deverão ser avaliados a condição clínica dos pacientes, os exames laboratoriais relacionados com a hepatite e, também, a necessidade e oportunidade destes procedimentos", finaliza ele.
Conselho Regional de Odontologia de São Paulo - CROSP
www.crosp.org.br
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