Até pouco tempo atrás, telemedicina era tema de filmes de ficção
Com a pandemia, todos nos vimos obrigados ao
isolamento e, com ele, as ferramentas de tecnologia remota experimentaram
importante evolução. Dentre elas, a telemedicina, a qual, no início, era
cercada de mistérios e dúvidas, porém na medicina humana foi largamente
utilizada no período pandêmico.
Os médicos, a priori, utilizavam-na a contragosto,
mas logo perceberam que a telemedicina não afetou a qualidade assistencial para
pacientes ambulatoriais, sem necessidade de grande infraestrutura para
atendimento. Pelo contrário: possibilitou acompanhar a evolução de pacientes
crônicos (que não retornavam aos hospitais por falta de tempo ou disciplina) e
aumentou a capilaridade de atendimento para cidades e locais que até então não
ofereciam acesso à saúde.
O Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo,
inclusive, é referência mundial em atendimento remoto. Além disso, pesquisas
mostram que os pacientes (em nossa realidade, os tutores) preferem ser
atendidos por telemedicina, se comparado a atendimentos presenciais.
Dito isso, a maior barreira para o uso dessa
ferramenta no mercado veterinário são os próprios médicos-veterinários, uma vez
que os tutores já passaram por essa experiência como pacientes e aprovaram. Vale
salientar que já praticamos a telemedicina, só que de maneira inadequada: em
plataformas que não oferecem remuneração para o profissional médico-veterinário
e sem a estrutura adequada para um atendimento de qualidade. Quem aqui nunca
atendeu um cliente por WhatsApp, por exemplo?
Há ainda uma insegurança jurídica na veterinária
para esse tipo de atendimento. Como somos profissionais da saúde única,
poderíamos, sim, atender remotamente o tutor. Mas há uma portaria do Conselho
Federal de Medicina Veterinária que proíbe essa prática (exceção de
nutrição/nutrologia), restringindo apenas à possibilidade de teleinterconsulta,
modelo no qual é obrigatória a presença de dois médicos-veterinários: um
virtual; o outro, no local onde está o pet. Já os retornos podem ser realizados
entre veterinário e tutor, sem a necessidade de um veterinário também junto ao
cliente. A portaria possibilita também a prática de teletriagem,
teleorientação, telediagnóstico, telemonitoramento.
Trata-se do futuro que chegou. E que não regressará.
Concordando ou não com a telemedicina, temos que aprimorar a ferramenta e
tentar entendê-la como uma oportunidade de trazer novos clientes e contribuir
com a saúde financeira de nossas clínicas. Caso não o fizermos, certamente
outros farão. Não podemos nos comportar como taxistas quando da chegada do
Uber. Sabemos qual foi o resultado.
Apesar dos desafios das normativas do setor e das
incertezas de experimentar mudanças, iniciativas previstas para um futuro breve
possibilitarão, numa mesma plataforma, a realização de teleinterconsultas
veterinárias com especialistas, o armazenamento de fotos e a gravação de vídeos
para registro da evolução do quadro do paciente. Ou seja, o tutor continuará
com o acompanhamento do seu médico-veterinário de confiança (na medicina
humana, o médico de família), mas em atendimento conjunto com um colega
especialista, somado às vantagens da tecnologia. Inovação que dificilmente
encontramos para o atendimento da saúde dos próprios tutores.
É a medicina veterinária avançando e surpreendendo.
Caberá agora, aos médicos-veterinários, escolherem se preferem seguir para o
futuro de carona em um “Uber Black” ou preferem ficar esperando um “táxi”.
Fabiano de Granville Ponce -
médico-veterinário, formado pela Universidade de São Paulo (USP), com MBA
Executivo pela Fundação Dom Cabral (FDC) e Pós-MBA em Oxford (USA). Cofundador da
Hovet Pompéia e Commercial Lead da VetFamily Brasil, comunidade internacional
de médicos-veterinários.
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