Em
meio à Campanha Janeiro Branco, voltada para os cuidados da saúde mental, a
médica Sandra Doria ressalta que dormir bem é essencial para prevenir e tratar
transtornos da mente.
O
sono é fundamental para o fortalecimento do sistema imunológico, o equilíbrio
do metabolismo e a renovação das energias. Noites mal dormidas prejudicam o
organismo e comprometem a regulação
emocional e do humor, contribuindo para desencadear transtornos mentais como
ansiedade e depressão. A Campanha Janeiro Branco, criada para chamar a
atenção da população sobre a importância da saúde mental, é um momento oportuno
para uma reflexão sobre a relação entre o sono e os transtornos psiquiátricos.
“A privação de sono provoca a
desestabilização do cérebro, levando pacientes com predisposição a desenvolver
transtornos psiquiátricos. Priorizar o sono é uma das formas de evitar e tratar
essas doenças”, explica a médica Sandra Doria, do Instituto do Sono.
Estudo1
publicado em 2022 na revista científica Sleep Research apontou que a insônia
pode ser fator de risco, comorbidade e sintoma de muitos problemas mentais,
incluindo transtornos de humor, ansiedade e esquizofrenia. Elaborado por
pesquisadores da Universidade de Ferrara, na Itália, o artigo científico sugere
que o tratamento da insônia pode
restabelecer os processos normais de sono e contribuir para a redução do
estresse.
Ansiedade
A
ansiedade está entre as doenças mentais afetadas pelos distúrbios de sono. Um
levantamento2 realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS)
considerou o Brasil o país com maior porcentual de ansiosos das Américas. O
transtorno atinge 18,6 milhões de pessoas, o equivalente a 9,3% da população. A
ansiedade se caracteriza pela preocupação intensa, exacerbada e persistente
associada ao medo de situações cotidianas.
Estudos
epidemiológicos3 revelam que cerca de 50% de indivíduos ansiosos
apresentam distúrbios de sono, principalmente a insônia. Podem também ter
dificuldade para adormecer e apresentar sono mais fragmentado, superficial e
reduzido. A médica Sandra Dori observa que a relação entre a insônia e a
ansiedade é bidirecional.
“O
paciente ansioso deita na cama, começa a ruminar pensamentos, avalia o que fez
durante o dia e planeja as atividades do dia seguinte. Com isso, não consegue
relaxar e dormir”, pondera a médica. “Como dormiu mal, acorda preocupado porque
não vai trabalhar direito. Fica mais agressivo, irritado e impaciente”,
complementa. Este processo acaba se transformando em um círculo vicioso.
Depressão
O levantamento2 da OMS mostrou que a depressão é menos
prevalente que a ansiedade no Brasil. Mesmo assim o transtorno acomete 11,5
milhões de pessoas, o correspondente a 5,8% da população. O volume de casos
coloca o Brasil como o segundo país com o maior número de depressivos das
Américas, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Esta
condição mental é marcada por sentimentos de tristeza e
culpa, perda de interesse ou prazer, baixa autoestima, distúrbios de
alimentação, sensação de cansaço e falta de concentração.
Estudo4 publicado em 2022 na revista científica
da Sociedade Internacional de Transtornos Afetivos avaliou 25.962 pessoas com depressão, do
quais 50,8% mulheres com idade média de 48 anos. De acordo com a pesquisa, os participantes com duração de sono inferior a 6
horas, tiveram 1,86 vezes mais incidência de depressão em comparação aos que
dormiram entre 7 e 9 horas. O risco diminuiu para 1,49 vezes nos
pesquisados que dormiram mais de 9 horas. “O estudo mostrou que tanto o
pequeno, como o grande dormidor apresentam risco aumentado para depressão”,
pondera Sandra Doria.
Segundo
a médica, pessoas com depressão são mais propensas a ter insônia no meio da
noite: acordam precocemente e não conseguem voltar a dormir. O distúrbio de
sono precisa ser tratado paralelamente à depressão. Caso contrário, cresce o
risco de recorrência do transtorno mental após o tratamento.
A
exemplo da ansiedade, a relação entre depressão e insônia é bidirecional. “A
pessoa não consegue dormir à noite por causa da depressão. E, no dia seguinte,
acorda desanimada porque passou a madrugada tentando dormir”, esclarece a
médica. Estudo5 da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos,
apontou que o tratamento de distúrbios de sono pode melhorar o estado geral do
paciente e prevenir futuros episódios de depressão.
Instituto do Sono
www.institutodosono.com
AFIP - Associação Fundo de Incentivo à Pesquisa
www.afip.com.br
Referências
1. Palagini, Laura e al. Sleep, insomnia and
mental health. Sleep Research. 2022;31(4):e13628.
Disponível em https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/35506356/.
2. Organização Mundial da Saúde (OMS). Disponível em https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/254610/WHO-MSD-MER-2017.2-eng.pdf?sequence=1&isAllowed=y
3. Chellappa,
Sarah L e al. Sleep and anxiety:
From mechanisms to interventions. Sleep Med Rev; 2022;
61:101583. Disponível em https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34979437/
4. Dong, Lu e al. Association between sleep duration and
depression in US adults: A cross-sectional study. J
Affect Disord. 2022; 1;296:183-188. Disponível em https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34607059/
5. Mirchandaney, Riya e al. Recent advances in sleep and
depression. Curr Opin Psychiatry, 2023;1;36(1):34-40. Disponível em https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36449730/
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