Performance. Esse é um dos maiores impulsionadores das relações empregatícias. Ao darmos o nosso melhor e trazermos resultados excepcionais para a empresa, conquistamos posições relevantes internamente por meritocracia e uma satisfação profissional importante para a manutenção desse desempenho. Todos esses fatores orquestram um ciclo fortemente presente no mercado para a consolidação das operações dos negócios – o qual, com a possível aprovação da demissão sem justa causa, pode quebrar e gerar impactos alarmantes para as companhias.
Em análise pelo Supremo Tribunal Federal há mais de
25 anos, a proposta a ser decidida nos próximos meses defende a exigência de
uma justificativa para quaisquer desligamentos, impedindo que as empresas
demitam seus funcionários sem uma causa determinada. Quando anunciada pela
primeira vez, foi severamente criticada pelas entidades trabalhistas, as quais
alegaram, principalmente, os prejuízos da perda de seus direitos de uma
indenização que corresponde a 40% do FGTS pela justa causa – o que influenciou
para que a decisão venha se arrastando até o momento.
Hoje, há muitos países que já concordam com tal
inconstitucionalidade graças à convenção da Organização Internacional do
Trabalho (OIT), que defende a proteção ao trabalhador contra a demissão sem
justa causa – mas, é incoerente comparar a realidade empregatícia desses países
com a do Brasil como argumento a favor da proposta. Afinal, a realidade
tributária e econômica de regiões como a Europa, por exemplo, é completamente
distante das que enfrentamos nacionalmente.
Empreender no Brasil é muito caro, principalmente
contratando serviços em regime CLT. Com o fim da demissão sem justa causa e a
consequente maior dificuldade de demissão que muitas empresas poderão
enfrentar, há um risco preocupante de notarmos um forte impacto no desempenho
de muitos em suas rotinas, uma vez que podem dedicar menos esforços em trazer
resultados pela segurança em manterem seus empregos.
Ainda, muitas outras consequências podem ser
geradas por essa redução no empenho individual, sobretudo no que diz respeito
ao menor anseio de contratação via CLT pelos empreendedores, redução da
atratividade perante investidores e parceiros, abertura para modelos de
trabalho informais e, inevitavelmente, impactos nos níveis de desemprego no
país – o qual, pela primeira vez em décadas, havia registrado uma queda no
segundo trimestre de 2022, atingindo a taxa de 8,9% segundo dados divulgados
pelo IBGE.
O medo de perdermos nossos empregos é um dos
maiores motivos que nos influenciam a performarmos cada vez melhor e buscarmos
aprender constantemente para trazermos resultados mais assertivos. Com o fim da
demissão sem justa causa, poderemos notar uma grande mudança nas relações de
trabalho, marcadas pela redução da qualidade de entrega nas tarefas, receio de
contratação diante dessa maior dificuldade de desligamentos e, ainda,
possibilidade de crescimento de modelos de trabalho alternativos que dispensem
contratos rígidos.
Em efeitos globais, o mercado brasileiro pode não se tornar mais tão atrativo para investidores, algo que pode estimular a onda de empreendedorismo já sentida no território e, ainda, a abertura de empresas em outros países com custos logísticos menores dos que os exigidos no país. Apesar de ainda não termos uma decisão certa, é preciso se atentar a esses possíveis desdobramentos e como adequar seu negócio para essas situações. Afinal, times satisfeitos e engajados com a companhia são o segredo de sucesso para todas as empresas.
Ricardo Haag - sócio da Wide, consultoria boutique de recrutamento e seleção.
Wide
https://wide.works/
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