Tanto quanto a responsabilidade financeira e a adequada gestão das despesas são virtudes necessárias às famílias e empresas que queiram estar preparadas para enfrentar períodos difíceis, a responsabilidade fiscal e a eficiência dos gastos devem ser compromisso de governos e bons gestores públicos. Isso é especialmente importante nos períodos mais favoráveis, para que se possam implementar políticas anticíclicas em tempos mais desafiadores, isto é, usar as reservas acumuladas no verão para enfrentar o inverno. As civilizações aprenderam a fazer isso ao longo dos séculos, mas muitos governos ainda não. E isso é especialmente importante para viabilizar apoio aos mais pobres, seja na forma de auxílios, como aconteceu na pandemia, seja evitando que a inflação e a exagerada depreciação cambial, sensíveis à condução fiscal, corroam a sua renda. É a estreita relação entre responsabilidade fiscal e responsabilidade social.
Especial atenção deve ser dada ao que vem
acontecendo nos estados brasileiros. A partir de 2021, ainda durante a
pandemia, tiveram uma arrecadação surpreendente, por uma série de fatores:
transferências extraordinárias da União em função da Lei Complementar 173/2020,
aquecimento da economia decorrente de mudança de hábitos de consumo durante a
crise da Covid 19 e proibição de aumentos de gastos com pessoal no poder
público durante esse período. Com isso os estados conseguiram um importante
reforço de caixa que, recomenda a responsabilidade fiscal, deveria ser usado
para sanar as contas e fazer alguma reserva, se possível.
Manoel Pires, pesquisador associado do Ibre/FGV,
questiona o caráter estrutural dessa melhora nas finanças estaduais, tanto no
que diz respeito ao controle dos gastos de pessoal, que vêm contidos desde
2015, e mais durante a pandemia, como à recente arrecadação extraordinária. O
grande risco, repetindo experiências nefastas do passado, é que esse superávit
de arrecadação e caixa conjuntural, passageiro, seja direcionado a aumento de
gastos permanentes, que não poderão ser reduzidos no próximo período de vacas
magras, engessando ainda mais o orçamento. Lembrando que já existe uma grande
distorção nas diretrizes orçamentárias, que estabelecem a indexação de muitos
gastos às receitas, como os mínimos constitucionais à saúde e à educação. Isso
significa que o aumento de arrecadação automaticamente obriga o aumento dos
gastos na mesma proporção, sejam eles necessários ou não, dificultando ajustes
de contas ou redirecionamento a pautas momentaneamente mais importantes.
O Estado precisa aprender a gastar com mais
eficiência o enorme volume de recursos que já arrecada. Estranhamente, quando
um governo tem a coragem de reduzir carga tributária, como a proposta do
ministro Paulo Guedes de reduzir o IPI, para reduzir o famigerado Custo Brasil
e aumentar a eficiência da economia, o mercado financeiro, agências de rating e
parte da imprensa reagem mal e só enxergam risco fiscal de descasamento entre
receitas e despesas. Por que não se enxerga o lado positivo, a oportunidade
para voltar à reforma administrativa, ao aumento da eficiência da máquina
pública, para fazer o ajuste pela despesa e não pela receita, consolidando o
equilíbrio das contas públicas num menor nível de carga tributária, que é o que
todos queremos?
Temos de iniciar essa mudança, que pode ter grande
impacto no futuro do país, mas para isso é necessário despolitizar assuntos
econômicos e de interesse nacional, que certamente devem estar acima de
ideologias e partidos.
Carlos Rodolfo Schneider –
empresário.
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