Retomada da
produção de veículos e novo governo devem impulsionar vendas de
zero-quilômetro; tecnologia ajuda na economia de tempo, burocracia e dinheiroDivulgação
Dois anos de pandemia, disparada do dólar, aumento
no preço dos combustíveis e falta de componentes para a fabricação mundial de
veículos. O mercado automotivo vem sofrendo com queda de vendas e problemas na
cadeia de produção desde o início de 2020. Por outro lado, as mudanças que
aconteceram nesse segmento nos últimos dois anos foram maiores e mais rápidas
que todas as registradas na década anterior. De acordo com o vice-presidente da
Federação
Nacional da Distribuição de Veículos Automotores
(Fenabrave), Luís Antônio Sebben, o mercado se transformou rapidamente devido,
principalmente, à mudança brusca no comportamento do consumidor durante e
pós-pandemia. "O cliente passou por uma transformação digital brusca que
não teve volta, mesmo com o fim do lockdown", aponta.
Ele explica que, em 2021 e 2022, as motos foram as
grandes responsáveis por segurar o mercado em pé, com a queda no número de
empregos formais e o aumento da procura por veículos de delivery
(motocicletas). Isso aconteceu porque faltaram componentes para a produção dos
zero-quilômetro. Mesmo com os juros de financiamento de seminovos em queda,
tornando a compra mais atrativa para o consumidor, esse segmento ainda não
conseguiu voltar a crescer. Para 2023, Sebben prevê um aumento tímido da
indústria automobilística brasileira como um todo, algo em torno de 3% a 5%.
"Dependemos muito do novo governo. Se a política econômica for bem
conduzida, esperamos um número ainda melhor", revela.
De acordo com o professor de Engenharia Mecânica da Universidade
Positivo, Tulio Paim Horta, um aumento na procura por novos
veículos também é esperado para os próximos meses. “Tivemos, já no final do
ano, filas de espera por automóveis novos. Acredito que, no Brasil, carros
econômicos e que possam de alguma forma agregar valor, como no caso dos carros
para Uber ou com caçamba, irão liderar as vendas”.
Segundo pesquisa do Instituto dos Engenheiros Eletrônicos e
Eletricistas (IEEE), organização técnico-profissional
mundial dedicada ao avanço da tecnologia em benefício da humanidade, o setor
automotivo e de transporte será um dos três mais impactados pela tecnologia em
2023. "Ainda que seja difícil prever o comportamento do mercado no futuro,
este ano tem potencial para uma melhoria mais rápida na produção, nas vendas e
uma normalização mais rápida nos preços", ressalta Sebben.
As megatendências mundiais conhecidas como ACES
(sigla em inglês que significa Autonomia, Conectividade, Eletrificação e
Compartilhamento) terão um impacto periférico no setor - e não uma profunda
transformação, como mostra um estudo do International
Car Distribution Programe (ICDP), que realiza pesquisas
sobre distribuição automotiva na Europa, China e Brasil. Segundo especialistas,
cinco tendências devem acelerar a recuperação brasileira no segmento. São elas:
Retomada dos importados
Horta lembra que muitos dos carros usados hoje no
país vêm de outros países da América do Sul e outros, de outras partes do planeta.
Por sua vez, Sebben aposta na recuperação das vendas de veículos importados,
que em 2022 tiveram grande queda, principalmente em função do aumento do câmbio
e de um rescaldo da falta de componentes eletrônicos.
Tecnologia e conectividade
Segundo especialistas da Dealersites,
empresa que lidera a digitalização do mercado automotivo, a tecnologia
redefinirá a experiência de dirigir, por meio de veículos mais seguros,
customizados e inteligentes, criando verdadeiros computadores sobre rodas.
"Podemos esperar ainda mais tecnologia, transparência de informações e
conectividade para 2023, com carros elétricos, híbridos e por assinatura
ganhando espaço", afirma Cesar Cantarella, CEO da Dealersites.
Quando se fala em descarbonização, o Brasil ainda
caminha a passos lentos, mas tem potencial para acelerar. “Um cenário possível
é que, com estímulo vindo principalmente do setor privado, agências de fomento
e pequenos incentivos do Estado, em 2035 é possível que 30% da frota no país já
sejam de veículos elétricos”, avalia Horta. Ele projeta, ainda, outros dois
cenários. Em um deles, políticas públicas mais claras e funcionais incentivam a
pesquisa nas universidades públicas e privadas para, por consequência, aumentar
a produção e desenvolver a infraestrutura local. Assim, até 40% da frota
poderiam ser elétricos. Por fim, o terceiro cenário parte de um produto
nacional estratégico: o etanol. “Em termos de volume, esse cenário teria também
30% da frota nacional composta por veículos elétricos. Para isso, precisaríamos
de valores menores para o investimento em infraestrutura. Podemos aproveitar as
grandes pesquisas que já estão em andamento com relação ao combustível e
combiná-las com a intensificação de novos investimentos a fim de promover uma
descarbonização representativa”, acrescenta.
Menos estoque e mais
experiência para o consumidor
Se antes as concessionárias precisavam dispor de
vários modelos de veículos, hoje, os vendedores vêem na internet uma forma de
driblar a concorrência. Para o CEO da Dealersites, Cesar
Cantarella, migrar a jornada do cliente para o digital vai trazer facilidades e
incremento na experiência do comprador. "Com o catálogo on-line,
o consumidor não precisa mais bater perna e pode comprar seu próximo carro de
qualquer lugar. Mas a jornada totalmente digital deve amadurecer nos próximos
anos antes de passar a ser a principal forma de se comprar um automóvel",
complementa.
A pandemia e o avanço dos serviços digitais mudaram
a forma de vender carros. Com uma transformação que abre novos caminhos para a
mobilidade urbana, as concessionárias vão precisar inovar o modelo de negócios.
"O mercado está se adaptando, na busca por trazer mais opções de produtos
e condições que se adequem a cada perfil de cliente. Por isso, a tendência é
que as ofertas sejam mais assertivas e estejam acompanhadas do valor final pago
na concessionária. Por outro lado, implementar as novidades pode ser uma tarefa
muito complexa e, por isso, é importante contar com a ajuda de parceiros
especialistas em cada assunto", explica Cesar.
Para o gerente comercial da Cia.
de Automóveis Slaviero, tradicional concessionária Ford em
Curitiba, Rogério Lechinski, as revendas caminham para instalações menores,
mais modernas e atualizadas e o papel do vendedor se tornou ainda mais
importante. "Veremos muita venda direta e personalizada. A tendência é que
o cliente vá menos à concessionária - e quando for, já vai decidido pelo que
quer. Por isso, vai se destacar o vendedor que tiver mais habilidades e
agilidade no meio digital, oferecendo maior comodidade ao cliente",
aponta. Ainda segundo Lechinski, as concessionárias terão papel decisivo no
momento da experiência do test drive e da entrega das chaves.
Processos burocráticos mais
rápidos
Com o avanço da tecnologia, os processos
burocráticos em cartórios, como registros de veículos, estão cada vez mais
rápidos. “A tecnologia venceu a burocracia; o próximo ano será determinante
para as mudanças no processo de digitalização. Dessa forma, as pessoas podem
economizar tempo e dinheiro”, afirma o diretor comercial da Tecnobank,
Cristiano Dantas.
Locação por hora: custo
unificado pelo tempo de uso, processo digital e liberdade
De acordo com dados do Sindicato Nacional da
Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), o Brasil tem a
sexta maior frota de veículos do mundo, ficando atrás dos EUA, China, Japão,
Rússia e Alemanha. A busca por soluções de mobilidade urbana passa pela
locomoção intermodal, que utiliza vários meios de transporte, mas também pela
conscientização a respeito de como os veículos particulares influenciam o
cenário urbano e a qualidade de vida das pessoas como um todo.
Nesse sentido, uma iniciativa inovadora que já está
presente em diversas capitais brasileiras é a locação por hora. O V1, braço da
Vix Logística, um dos maiores players do setor no país, é um serviço
inédito de aluguel de veículos 100% digital por diversos períodos, inclusive
meia-diária (12h) - algo raro dentre as locadoras tradicionais. Nestes casos, o
processo de locação é muito simples: após o download do app e cadastro
inteiramente on-line, o cliente já pode selecionar a modalidade de aluguel e o
período de contratação. Após o cadastramento de um cartão de crédito válido, o
aluguel é efetuado. Em seguida, basta encontrar o veículo no ponto de coleta
selecionado, escanear o QRCode localizado no parabrisa e abrir a porta do carro
via bluetooth direto do celular. “As estações são abertas 24h e
o interessado loca o automóvel em três minutos. Os principais motivos para as
locações mais curtas, como a meia-diária, é a utilização de um veículo para
mobilidade eventual, como uma reunião, uma viagem ou trabalho. Percebemos que
os consumidores não querem ficar à mercê dos serviços de motoristas
particulares ou arcar com os custos fixos de possuir um automóvel. No modelo de
locação por hora, a pessoa paga apenas pelo tempo de uso e realiza todo o
processo digitalmente pelo aplicativo. É uma alternativa à mobilidade”, explica
o gerente de marketing do V1, Vinicius Carneiro.
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