A chance de debater terapias que tiveram recomendação desfavorável à incorporação no SUS é importante para a democracia e a saúde pública. Caso recente com a Doença de Pompe deixa isso claro
Há quase dois anos, o movimento A Regra é
Clara busca evidenciar descumprimentos de regras para a
efetivação de políticas públicas, com o objetivo de aprimorar o acesso à saúde.
Uma de suas bandeiras é a #ParticipaçãoSocialÉRegra. E uma
das propostas dentro dessa bandeira é que todos tenham a chance de debater
junto às autoridades sobre as terapias que tiveram recomendação desfavorável à
incorporação no SUS, em uma audiência pública, antes da tomada
de decisão final.
“É no âmbito das audiências públicas que a sociedade civil pode apresentar suas
contribuições, expor suas perspectivas sobre as tecnologias em análise, apresentar
estudos econômicos paralelos, oferecer subsídios e evidências, analisar
criticamente os processos de avaliação de tecnologia e os pareceres da
CONITEC”, explica o pediatra e alergista, paciente e idealizador da Associação
Brasileira de Pompe (ABRAPOMPE), Welton Correia Alvez. “Mas, de acordo com o
art. 19-R, IV, da Lei 8.080/90, a convocação de audiências públicas constitui
hoje uma faculdade discricionária da Secretaria de Ciência, Tecnologia,
Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde, do Ministério da Saúde, a quem
compete reconhecer a ‘relevância da matéria’ e decidir pela conveniência e a
oportunidade da convocação”, completa.
Alvez traz o exemplo recente da Doença de Pompe, um transtorno genético
neuromuscular de natureza metabólica que afeta progressivamente a capacidade
respiratória e de locomoção. Estima-se que existam entre 2.000 e 2.500
brasileiros com a condição. Atualmente, uma terapia moderna voltada para um
subgrupo desses pacientes encontra-se em fase de consulta pública para
incorporação junto ao SUS, mas teve um primeiro parecer desfavorável.
“Almejamos a oportunidade de argumentar em audiência pública a importância
dessa terapia, uma vez que saúde é um direito e queremos ter certeza de que ele
seja cumprido”, conclui.
A CONITEC deve seguir regras e prazos para incorporação de tecnologias em saúde
no SUS. Essas mesmas normas estabeleceram a necessidade de participação social
no processo de incorporação, por meio de consultas e audiências públicas.
“É muito válido que seja considerado o cenário de doenças raras, já que os
pacientes são proporcionalmente poucos e, muitas vezes, não conseguem se
articular a ponto de gerar visibilidade para as suas demandas. Audiência
pública é regra e o poder de exercer influência sobre os tomadores de decisão
deve ser igual para todos”, considera Alvez.
Para ele, esse processo é essencial para a qualidade de vida
de pessoas com enfermidades raras, inclusive as que têm Doença de Pompe.
Movimentos como o A Regra é Clara são fundamentais para aperfeiçoar o sistema e
reduzir o lapso de tempo entre a incorporação e a efetiva disponibilização de
medicamentos à sociedade. A vida de pacientes raros não pode esperar.
A Regra é Clara (AREC)
O movimento contribuiu, de diferentes formas, para a melhoria de questões estruturais
do sistema pública. O AREC atua em consultas públicas, projetos de lei,
recursos administrativos, lei de acesso à informação e processos judiciais e
administrativos. Também realiza webinars e outras ações de comunicação e
Advocacy.
Nenhum comentário:
Postar um comentário