Um bochecho com
água até pode eliminar restos de alimentos, mas não elimina a comunidade
microbiana que vive em nossas bocas.
Imagine estar em condições extremas e não poder
escovar os dentes. Qual seria o maior desespero: a sensação de estar com os
dentes “sujos”, ter de aguentar o próprio mau hálito ou estar vulnerável a
possíveis doenças da boca e dos dentes?
É exatamente por isso que estão passando os
participantes do reality global ‘No Limite’, que além de provas que desafiam o
corpo e a mente também têm de lidar com a falta de escova, pasta de dente, fio
dental e itens de higiene pessoal, produtos que só são adquiridos conforme as
boas performances nas provas, e apenas pelo grupo ganhador, que recebe o tão
esperado kit de higiene.
Mas, e quanto aos perdedores, tem algum jeito de
eles fazerem a higiene bucal? “Não”, responde categoricamente o Dr. Ricardo
Jahn, professor de Periodontia da Universidade Santo Amaro. Segundo ele, um
bochecho com água até pode eliminar restos de alimentos, porém, não desorganiza
e nem elimina a comunidade microbiana que vive em nossas bocas.
“Não existe uma forma alternativa de higiene. Claro
que a sabedoria popular fala em escovar com gravetos, raízes, folhas de plantas
ou ainda usar algum pedaço de tecido. Porém, estas alternativas não serão
realmente eficientes”.
Até mesmo aquela “escovada com o dedo”, que muitas
pessoas provavelmente devem ter feito em algum momento da vida por ter
esquecido a escova de dentes, também não é aconselhável. “Não funciona. É puro
mito”. A melhor opção é comprar uma escova e fazer a higiene correta assim que
possível, destaca o cirurgião-dentista.
“Não imagine que limpar os dentes com os dedos será
realmente efetivo. Isso é um mito. Não conseguiremos alcançar o espaço entre os
dentes como fazemos com o fio dental e nem limpar a superfície dos dentes
próximas à gengiva. Se você não consegue adquirir uma escova no exato momento,
aguarde a próxima oportunidade, o mais breve possível, de acesso a uma escova e
então realize a higiene oral adequadamente”.
Ele adverte que ficar sem escovar os dentes por
mais de duas semanas pode deixar a saúde bucal frágil. “Um dos artigos
científicos mais importantes na história da Odontologia foi escrito em 1965
(tem mais de 50 anos, portanto) por Löe, Theilade e Jensen e é conhecido como
gengivite experimental em humanos. Nele, os autores suspenderam o uso da
higiene oral em um grupo de 12 estudantes de Odontologia saudáveis. Todos eles
desenvolveram gengivite (inflamação na gengiva) no intervalo entre 10 e 21
dias. Desde então, muitos outros estudos confirmaram esses resultados, que são
consenso na Odontologia. Quem não realiza higiene oral tem alto risco de desenvolver
doença inflamatória e também cárie dentária”.
Nem mesmo alimentos popularmente considerados
“autolimpantes” têm alguma evidência científica de higiene bucal, ou seja, a
boa escova de dentes e o creme dental são as únicas soluções.
Portanto, Ricardo Jahn reforça que a higiene bucal
é imprescindível para a prevenção das doenças dentais e periodontais que, por
sua vez, estão relacionadas a outras doenças sistêmicas dos indivíduos. Ele
aconselha: “Se você estiver em uma situação em que não tem acesso a métodos de
higiene oral, procure ter acesso o mais breve possível”.
Conselho Regional de Odontologia de São Paulo - CROSP
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