“O Brasil é o celeiro do mundo”. Essa frase foi um slogan nacional durante o governo de Getúlio Vargas que ganhou mais força nas últimas décadas em virtude dos resultados alcançados pelo nosso agronegócio, principalmente na produção de grãos.
Podemos afirmar que o Brasil alimenta quase 1
bilhão de pessoas ao redor do mundo, o que é uma imensa responsabilidade para
garantir sua segurança alimentar. Essa responsabilidade também é da cadeia
logística pós-colheita, principalmente do setor de armazenagem de grãos.
A capacidade estática de armazenagem de grãos não
tem acompanhado o crescimento da produção brasileira, apesar de todos os
esforços que existem dos governos que vem se sucedendo em investir na área. O
déficit tem sido crescente e alcançará 80-90 milhões de toneladas esse ano, um
recorde negativo. Não fosse a frustração de safra no sul do país, ele chegaria
a mais de 110 milhões de toneladas, o que poderia causar um verdadeiro caos logístico
no país.
Estamos produzindo cada vez mais, o que significa
que os produtores brasileiros são competentes e que há mercado para nossos
produtos. Temos uma projeção de crescimento da produção brasileira invejável
para o mundo, apesar de nós só cultivarmos ainda 9% do território nacional.
Podemos dobrar a área agrícola ao longo dos próximos anos, sem derrubar
árvores, usando pastagens degradadas em regiões de possível implantação da
agricultura.
O Brasil não está em um estágio de produção madura
como, por exemplo, estão os Estados Unidos. Estamos ampliando a produção. A
cada ano produzimos, em média, 10 milhões de toneladas de grãos a mais. Essa
produção circulando demanda mais caminhões, rodovias, portos, entrepostos
logísticos e sistemas de armazenagem. O produtor está ganhando eficiência e
produtividade, apoiado pela pesquisa que lança novas variedades e híbridos
todos os anos, desenvolve biotecnologia, orienta a correção dos solos e o
plantio direto, sempre visando a sustentabilidade da produção. O desafio
do país é acompanhar essa onda oferecendo uma infraestrutura mais racional e
suficiente para essa produção crescente.
Hoje, a armazenagem de grãos está muito concentrada
em centros urbanos e pouco dentro de fazendas. Segundo dados do MAPA, mais de
80% dos armazéns estão nas cidades, indústrias e portos, e menos de 20% estão
juntos às lavouras. Portanto, incentivar a construção de armazéns de grãos na
fazenda trará maior racionalidade ao processo logístico pós-colheita, maior
controle e economia para os agricultores e maior segurança alimentar aos
consumidores, pela distribuição da produção em armazéns em todo o território
nacional.
Para zerar o atual déficit armazenagem, o Brasil
precisaria investir em torno de R$ 80 bilhões, e esse investimento deveria
acontecer preferencialmente dentro das fazendas. Portanto, a oferta de crédito
em quantidade suficiente, prazo compatível e juros fixos são fundamentais para
que o produtor invista em armazenagem. O crédito para construção de armazenagem
tem sido o principal entrave para mitigação do déficit crescente e uma análise
sobre isso merece um artigo específico.
O custo para construção de um sistema de
armazenagem varia de R$ 900 a R$ 1.100 por tonelada estática, talvez hoje R$
1.200 porque o aço subiu muito. Só que desse total, apenas 45-50% está
destinada aos equipamentos (silos, secadores, limpadores, transportadores etc),
o resto são obras e serviços complementares ou de infraestrutura para implantar
a obra.
Os fabricantes brasileiros de equipamentos de armazenagem
estão preparados para o desafio de reduzir o déficit de armazenagem. Têm
tecnologia moderna, tanto é que essas empresas também exportam seus
equipamentos. A capacidade fabril brasileira de equipamentos de armazenagem tem
crescido, e pode crescer mais e rapidamente. As estatísticas do setor feitas
pelo Departamento de Estatística da Abimaq mostram, inclusive, uma capacidade
ociosa das fábricas que poderia ser suprida, caso o mercado demande.
A melhoria dessa infraestrutura de uma forma mais
organizada e com uma visão mais estruturada, vai causar um impacto de
crescimento significativo da agricultura brasileira e todo mundo vai ganhar com
isso, principalmente os consumidores que terão produtos mais baratos
armazenados com segurança. Mais armazéns também possibilitam “carregar”
estoques para períodos de entressafra, garantindo o suprimento de grãos e
reduzindo a oscilação de seus preços.
Paulo Bertolini - diretor da Granfinale Sistemas
Agrícolas e presidente da Câmara Setorial de Equipamentos para Armazenagem de
Grãos.
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