O mundo muda cada vez mais rapidamente e os negócios também. Empresas e empreendedores se dão conta de que para atender os clientes (que são também cidadãos e eleitores), não basta produzir bons produtos a preço competitivo, é necessário fazer a coisa certa do ponto de vista ético, social e ambiental. Estamos vivendo a transição do capitalismo de shareholder para o capitalismo de stakeholder, que engloba todas as partes interessadas além do acionista, como colaboradores, consumidores e a sociedade como um todo. Com isso, as empresas precisam não só fazer a coisa certa, mas também comprometer-se com ela. O termo ESG (Ambiental, Social e Governança, em português), tem a ver com isso e foi criado em um documento do Banco Mundial e do Pacto Global da ONU, denominado “Who Care Wins” (Quem se Preocupa Ganha). O termo está ligado aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, que englobam, por exemplo: erradicação da pobreza, fome zero, agricultura sustentável e ação contra a mudança global do clima.
Quando falamos de operações financeiras ESG,
estamos falando de uma maneira das empresas comprometerem-se publicamente com
metas específicas ligadas a algum desses 17 Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável. Grosso modo, existem duas formas de se fazer operações ESG, a
primeira é emitir títulos ou tomar empréstimos específicos para financiar
alguma ação socioambiental, como, por exemplo, os chamados Títulos Verdes. A
segunda é emitir dívida ou tomar empréstimos sem utilizar o dinheiro para um
propósito específico, mas comprometendo-se com
metas socioambientais específicas. Esses papéis são conhecidos como
“Sustainable Linked” ou título de dívida atrelado a metas de sustentabilidade
.
Nos “títulos ou empréstimos verdes” os recursos têm
que ser obrigatoriamente utilizados em investimentos socioambientais. Um bom
exemplo é um Bond emitido por uma empresa brasileira de papel e celulose em
2016, cujos recursos deveriam ser obrigatoriamente utilizados em manejo
florestal sustentável, preservação e gestão do uso da água, eficiência
energética e energia renovável. Cada investimento com esses recursos possui
metas específicas e mensuráveis definidas para serem atingidas ano a ano e são
acompanhadas sempre por um auditor externo.
Já nos “sustainable linked bonds”, os recursos
podem ser usados para qualquer coisa, mas a empresa se compromete
contratualmente com metas socioambientais específicas e fica sujeita a pagar
uma penalidade, na forma de aumento da taxa de juros, se essas metas não forem
atingidas. Um exemplo é um CRA, emitido por uma Usina de Açúcar em 2021, que
prevê um aumento de 0,25% na taxa de juros da operação, caso não sejam
atingidas metas de redução do consumo de água, redução de resíduos sólidos e
reintrodução de duas espécies nativas em extinção no ecossistema.
O número de emissões e empréstimos ESG no Brasil
saiu de apenas uma em 2015, no valor de US$ 454 milhões, para 103 em 2021, num
total de US$ 15,3 bilhões. Das emissões de 2021, 38 delas (37%) foram de
empresas da cadeia do agronegócio (incluindo produtores rurais) e totalizaram
US$ 7,1 bilhões (47%). O mercado (fundos e outros investidores) têm pago
prêmios sobre esses títulos, o que significa que saem mais baratos para a
empresa emissora, quando comparado com uma emissão não ESG. É, portanto, uma
oportunidade de ganhar dinheiro fazendo a coisa certa. Como dizia o título
daquele documento, “who care wins”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário