Hábitos alimentares e fatores externos como
estresse podem ser transmitidos às próximas gerações sem alterar o DNA. A
epigenética explica isso
Nem tudo já vem escrito no DNA. A herança genética que recebemos dos ancestrais não é transmitida apenas por ele. A alimentação de um casal, por exemplo, pode afetar o metabolismo dos netos futuramente e de outras gerações. O câncer, por exemplo, não é mediado apenas por mutações nos genes mas também muito influenciado por toda influência extra-gene. A explicação para isso está na epigenética. A epigenética é muito poderosa, atua como um maestro da expressão dos genes.
Dr. Conrado Alvarenga, urologista e especialista em andrologia e infertilidade masculina do Lab Saúde Reprodutiva, conta que quase todas as células do corpo têm uma cópia do material genético, porém os genes não respondem sozinhos pelas suas atividades. Aí entra a epigenética, que responde por parte dos traços característicos de cada um de nós. “Epigenética é a ciência que estuda as mudanças químicas que acontecem sobre o DNA, mas que, mesmo sem interferir em sua sequência de letras, podem ser transmitidas às gerações seguintes. É a epigenética que explica, por exemplo, porque gêmeos idênticos se tornam diferentes ao longo da vida, ou porque a abelha-rainha fica tão diferente das outras abelhas da colmeia.”
A transmissão da herança genética é
uma questão relevante para casais que recorrem a doadores de sêmen, devido a
problemas de infertilidade. “Converso muito sobre isso com meus pacientes e
casais que decidem recorrer a doadores de sêmen. Explico que a paternidade
afetiva não está sozinha, ela é muito aliada à epigenética – e mais do que
isso: algo que se transmite também. Portanto, o ambiente onde vive e suas
experiências neste ambiente vão contar futuramente ”, diz o médico, que também
é membro efetivo da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).
Existe a possibilidade de que
marcações epigenéticas sejam passadas de geração em geração. Há evidências
experimentais comprovadas em seres humanos e animais. “É como se, de fato, a
alimentação do seu pai ou da sua mãe hoje afetasse o metabolismo dos seus
netos”, acrescenta.
Ele lembra o estudo conhecido como “Os
filhos da fome que ficaram obesos”, da Laura Schulz,
publicado pela revista cientifica Proceedings of the National Academy of
Sciences, que demonstrou como esse processo epigenético afetou netos
de holandeses que passaram fome durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945),
levando-os à obesidade. “Também há outros estudos que mostram que pessoas que
passaram por um trauma podem ter descendentes naturalmente estressados por
causa disso. Ou seja, a herança que trazemos dos nossos ancestrais vai além do
DNA que recebemos deles.”
Lab Saúde Reprodutiva (LSR)
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