Abordagem
ainda é nova no Brasil, mas amplamente conhecida no exterior;O movimento undieting defende a consciência alimentar e emocional,
com base em uma boa relação com a comida. Crédito: Freepik
A franco-brasileira Sophie Deram, PHD em Nutrição e
autora do best-seller
"O Peso das
Dietas", é pioneira sobre essa abordagem nutricional sem dieta
Não é mais novidade
que a "velha fórmula" que combina dieta restritiva e exercícios para
emagrecer já é ultrapassada e pouco eficaz para a manutenção do peso a médio e
longo prazo. O "fechar a boca e malhar", o "foco, força e fé",
funcionam no começo, mas facilmente se percebe que não é algo sustentável, e
até faz engordar ao longo prazo. Hoje, muitas pessoas ainda não conseguem
enxergar outras soluções para eliminar os quilos indesejados.
Uma estratégia que
vem sendo cada vez mais difundida no mundo todo, e ganhando cada vez mais
adeptos, é o undieting - movimento que defende a consciência alimentar e
emocional, com uma boa relação com a comida, evitando o terrorismo nutricional
e abolindo de vez as dietas restritivas que impõem proibições em excesso.
"Estudos
comprovam que as dietas que restringem radicalmente a quantidade ou variedade
de alimentos são um dos principais fatores do ganho de peso a longo prazo. Isso
porque, uma vez que a pessoa volta aos seus antigos hábitos alimentares, tende
a recuperar o peso eliminado, podendo inclusive ganhar ainda mais peso. Ou
seja, quanto maior a restrição, maior o risco de exagero", explica Sophie.
Segundo a
nutricionista franco-brasileira, hoje há um excesso de informação sobre
alimentação, com muitas regras sobre "o que se pode ou não se pode"
comer, e isso é prejudicial. "O ‘terrorismo nutricional’ de nada ajuda no
emagrecimento, prova disso é que nunca se falou tanto sobre nutrição e dietas,
e jamais a população sofreu tanto com obesidade. Há um paradoxo nesta
situação", defende a expert.
Buscando justamente
um contraponto ao ‘terrorismo nutricional’, surgiu o movimento undieting, que
visa deixar a relação com a comida mais leve, consciente e intuitiva, sem a
preocupação excessiva com o nutriente que se come ou com o valor calórico dos
alimentos. "Em outros países, como nos Estados Unidos, por exemplo, os
profissionais de saúde já não prescrevem dietas muito rigorosas aos pacientes.
Já está mais do que comprovado, no mundo todo, que ‘passar fome’ e se privar
não é a resposta adequada para a questão da obesidade e pode até ser
contraprodutivo", opina a PHD em Nutrição.
Sophie lista 3 atitudes
que ajudam a aderir ao undieting:
Conecte-se com seu corpo
O corpo é
inteligente e manda sinais daquilo que necessita. De acordo com Sophie, é
importante aprender a identificar esses sinais na hora de se alimentar, e fazer
escolhas conscientes, de acordo com aquilo que seu corpo pede no momento. Seu
corpo tem muita sabedoria, é importante se reconectar com ele.
"Não existem
alimentos ‘bons’ ou ‘ruins’, nada deve ser visto como proibido, e sim como
escolhas alimentares, que devem respeitar a vontade do organismo", ensina
a especialista. "Quando prestamos mais atenção ao nosso próprio corpo
aprendemos a detectar corretamente a fome, e inclusive diferenciar se ela é uma
necessidade física ou se é fome emocional- incentivada por emoções e
sentimentos como ansiedade, frustração, raiva, tédio e até sede", orienta
Sophie.
Torne natural a relação com a comida
O excesso de
informações e a atenção excessiva com o que se come e o quanto se come acaba
sendo mais maléfico do que benéfico. "Não conte calorias, nem fique
pensando incessantemente no que comeu durante o dia, ou se preocupe de antemão
antes mesmo de ingerir algo. A relação com a comida deve ser algo natural,
deixando de lado a ‘enxurrada’ de regras que acaba levando aos deslizes. Faça
as pazes com a comida e com o corpo", finaliza.
Coma melhor, não menos
Ao dizer não à dieta
restritiva e ‘abraçar’ o conceito do undieting, a ideia é investir na
qualidade, e não necessariamente no comer menos. "Procure se alimentar de
forma variada, montando pratos coloridos, e busque ter prazer com o ato de
comer, respeitando a fome. A comida não é sua inimiga, pelo contrário, ela é
fundamental para nossa saúde e comer é algo prazeroso. O que causa sofrimento e
ganho de peso são os excessos, não a comida em si. O que deve mudar é a
mentalidade e a relação com o alimento, não somente aquilo que se coloca no
prato", finaliza.
Sophie Deram - Autora do livro "O Peso das Dietas", é engenheira agrônoma de AgroParisTech (Paris), nutricionista franco-brasileira e doutora pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) no departamento de Endocrinologia. Além de especialista em tratamento de Transtornos Alimentares pelo AMBULIM - Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP, é coordenadora do projeto de genética e do banco de DNA dos pacientes com transtorno alimentar no AMBULIM no laboratório de Neurociências.
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