Comportamento de
professores e equipe escolar têm impacto direto sobre o que crianças aprendem
como certo e errado
O que é ética e o que é ser ético? Qualquer
professor que fizer essas perguntas durante uma aula receberá respostas
variadas, dependendo da idade dos estudantes, do conhecimento teórico deles
sobre o assunto e do contexto ao qual eles pertencem. Nenhum conceito teórico,
no entanto, seria capaz de ensinar a esses estudantes como ser uma pessoa ética
na vida cotidiana. Isso só pode ser feito usando uma das armas mais importantes
da Educação: o exemplo.
De acordo com o coordenador do Paideuma, o Grupo de
Estudos Clássicos da Faculdade de Educação da USP, Marcos Euzébio, todas as
pessoas estão ensinando ética a todo momento. “Um professor que chega e não
cumprimenta ninguém, por exemplo, ensina algo a seus alunos, que talvez passem
a considerar desnecessário cumprimentar uns aos outros. O ensino de ética nas
escolas está diretamente conectado à postura dos professores”, afirma. Para
ele, a ética está até mesmo na relação que cada educador mantém com a
disciplina que leciona. “Quando um professor se relaciona de maneira forte e
apaixonada com sua área do conhecimento, é um poderoso exemplo ético”, avalia.
Ainda que haja, atualmente, discussões sobre os
limites da escola no ensino de posturas morais, é impossível separar esse tipo
de abordagem dos currículos disciplinares formais. Para Edina Itcak,
supervisora pedagógica no Sistema de Ensino Aprende Brasil, “não se pode deixar
de ensinar ética porque, no dia a dia, todas as atitudes e condutas dos
educadores são também uma forma indireta de demonstrar às crianças e adolescentes
o que é certo e o que é errado. Mesmo que o educador não tenha intenção, ele
está o tempo todo ensinando algo”.
Agir de forma ética e refletir sobre as ações
Para ensinar ética, não basta, porém, agir de
maneira ética. O professor, psicólogo e escritor Marcos Méier explica que é
preciso convidar os estudantes a refletir sobre essas ações. “Os princípios
humanos mais universais só podem ser ensinados se houver uma reflexão sobre
eles. Se o professor fala sobre respeito, amor, consideração e empatia, mas não
demonstra esses sentimentos em suas atitudes, o aluno não vai entendê-los como
imprescindíveis. E, se o professor demonstra esses sentimentos, mas não fala
sobre eles, perdeu-se a oportunidade de refletir sobre esses comportamentos”,
ressalta. Agir, portanto, é o primeiro passo para suscitar a compreensão de que
determinada atitude é correta. O segundo passo, que termina de consolidar essa
compreensão, é debater a atitude em questão, falar sobre ela e provocar
conclusões pessoais a respeito.
Segundo Euzébio, também é papel da escola
contribuir para que as crianças e adolescentes desenvolvam a capacidade de
julgar por si mesmos os fatos com que se deparam no cotidiano. “A escola
precisa favorecer uma capacidade que, para mim, é a mais alta que se pode
esperar da boa Educação: a capacidade do juízo. E esse é um princípio presente
em Kant. Ele diz que um ser humano capaz de julgar bem agirá de modo mais ético
que aquele que não julga bem. A escola é o ambiente mais favorável para o
julgamento sem os riscos que ele terá no mundo real. Ali, eu posso emitir
julgamentos que funcionam como preparação para aqueles que farei fora da escola
e que terão consequências mais sérias”, destaca. Para o especialista, é preciso
exercitar o julgamento pessoal para além das respostas certas ou erradas.
Muitas vezes, perde-se a oportunidade de educar para a autonomia porque quem
vai melhor é aquele aluno que responde unicamente o que o professor pergunta,
sem questionar, duvidar ou colocar em perspectiva.
Segundo Edina, do Sistema de Ensino Aprende Brasil,
uma Educação promovida dessa forma, não é libertadora e não prepara os
estudantes para os muitos desafios e dilemas éticos que eles encontrarão ao
longo de suas vidas. Ele lembra que o desenvolvimento de competências como a
ética está compreendido inclusive na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). “A
ética e a autonomia permeiam todas as competências gerais trazidas pela BNCC,
mas a 10ª dessas competências menciona especificamente que o estudante precisa
‘agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, resiliência e
determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos,
inclusivos, sustentáveis e solidários”, pontua.
Marcos Méier e Marcos Euzébio falam sobre a
importância do ensino de ética por meio do exemplo no 24º episódio do podcast
PodAprender, cujo tema é “Como falar sobre ética com crianças e adolescentes”.
O programa pode ser ouvido no site do Sistema de Ensino Aprende Brasil (sistemaaprendebrasil.com.br),
nas plataformas Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Google Podcasts e nos
principais agregadores de podcasts disponíveis no Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário