70% das pessoas com câncer de boca fumam e o problema não está só no cigarro industrializado
Maio é o mês marcado pela luta contra
o fumo, graças ao Dia Mundial sem Tabaco (31/5). Essa
é uma das principais datas no calendário da Saúde e da Odontologia, uma vez que
o tabagismo aumenta e muito o risco de câncer de boca, um dos tipos mais comuns
entre fumantes - 70% das pessoas com câncer de boca fumam, revela o Instituto
Nacional do Câncer (INCA).
Diante desse cenário, o Conselho
Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP) faz um alerta para os ‘novos
cigarros’, opções mais atraentes do que o industrializado, mas que escondem
grandes perigos. São os narguilés, os vapes - cigarros eletrônicos - e até as
versões disfarçadas de naturais, com camomila, sálvia, jasmim ou essências de
sabor, em que o próprio fumante prepara o cigarro. “Não existe consumo seguro
de tabaco. Se tem tabaco, sempre tem o risco, pois são as substâncias
que estão nele que prejudicam a saúde bucal e, consequentemente, o corpo em
geral. Nicotina, alcatrão, monóxido de carbono e até a fumaça e o calor geram
danos à mucosa da boca”, avisa a cirurgiã-dentista Silmara Regina da Silva,
integrante da Câmara Técnica de Estomatologia do CROSP.
São poucos os estudos que abordam os
diferentes formatos, mas já se sabe, por exemplo, que “uma hora de cigarro
eletrônico equivale a 10 cigarros convencionais fumados”, explica o presidente
da mesma Câmara Técnica do CROSP, Fábio de Abreu Alves. A comparação é
importante, pois as versões eletrônicas chamam a atenção por emitir menos
fumaça e pela discrição, já a ameaça está na alta concentração de nicotina,
provocando a depedência de forma mais intensa.
Mas, até o surgimento de problemas,
existe um caminho: dos menos graves, como manchas nos dentes e doenças
periodontais, ou seja, que afetam os tecidos de suporte, levando, muitas vezes,
à perda de dentes e ao insucesso dos implantes dentários; até os de maior
complexidade, sendo o câncer de boca o mais preocupante. Ainda segundo o INCA,
a estimativa é de que 15 mil pessoas tenham desenvolvido a doença em 2020 no
Brasil, além das mais de 6,6 mil mortes registradas em 2019.
Esse percurso do tabagismo no corpo é
silencioso e aumenta em até oito vezes o risco de uma pessoa desenvolver câncer
de boca em relação a quem não fuma. “A doença é mais comum a partir dos 40 anos
porque o tempo e a quantidade ingerida são fatores que influenciam. Mas,
dependendo da suscetibilidade da pessoa, uma quantidade pequena já pode
desencadear o câncer”, afirma Silmara. “Os sinais surgem em feridas que não
cicatrizam por mais de 15 dias, manchas vermelhas ou esbranquiçadas e nódulos
(caroços) em qualquer região da boca: língua, gengiva, bochecha ou palato (céu
da boca), por exemplo. Ao notar um desses sintomas, é preciso procurar
imediatamente por um serviço de Saúde”, enfatiza.
Por não existir consumo seguro,
também não há meios de prevenir os efeitos do cigarro na cavidade oral. “Nenhum
cuidado com higiene bucal pode evitar os riscos trazidos pelo tabaco.
Contudo, bons hábitos como a correta higienização, o consumo de frutas e
vegetais e a periodicidade das consultas com o cirurgião-dentista são
fundamentais para fazer o diagnóstico precoce e tratamento das possíveis
alterações”, conta Silmara.
Fábio recomenda que as visitas dos
fumantes ao consultório sejam de duas a três vezes por ano. “O câncer de boca
na fase inicial, em geral, não tem sintomas, por isso é tão importante a
avaliação da cavidade oral por exames odontológicos. O diagnóstico precoce
oferece 90% de chance de cura. No diagnóstico tardio, essa chance diminui para
50%”.
O enfrentamento à dependência
O tabagismo é uma doença crônica de
dependência química da nicotina, presente no tabaco, e faz parte do grupo
de transtornos mentais e comportamentais pelo uso de substância psicoativa,
conforme a Revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e
Problemas Relacionados à Saúde (CID-10).
“O Brasil é o segundo país no mundo,
depois da Turquia, a promover um modelo exitoso de implementação da
Convenção-Quadro para Controle do Tabaco (primeiro tratado
internacional de saúde pública, assinado e ratificado por 181 países), um
conjunto de medidas que permite o enfrentamento ao tabagismo. Isso possibilitou
uma queda significativa na prevalência da doença, mas há muito a ser feito”,
fala a coordenadora Estadual do Programa Nacional de Controle de Tabagismo de
São Paulo, pelo Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras
Drogas (CRATOD), e integrante da Comissão de Políticas Públicas do CROSP,
Sandra Marques.
No ano passado, com o desafio da
pandemia do novo coronavírus e o agravamento das condições de saúde mental, a
Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou a campanha Comprometa-se a
parar de fumar durante a Covid-19 para o Dia Mundial sem Tabaco de
2021. “O cirurgião-dentista tem papel fundamental na estratégia de ampliação
das ações de enfrentamento ao tabagismo e integralidade do cuidado. Assumir
esse protagonismo perante um grave problema de saúde pública nos remete à
concepção do papel que exercemos enquanto profissionais de Saúde. Precisamos
desmistificar a dependência química e entendê-la como patologia para tratá-la”,
completa.
Conselho Regional de Odontologia de
São Paulo - CROSP
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