Testes em
laboratório revelaram que a produção de açúcares simples pela lentilha d’água
após a biomassa da planta ser submetida a um processo chamado de sacarificação
foi maior do que a da cana-de-açúcar, a principal matéria-prima do etanol de
segunda geração hoje. Já o mata-pasto cresce muito rápido e pode ser uma
opção viável para produção de bioeletricidade na região amazônica a partir da
queima da biomassa da planta, sem causar desmatamento, avaliam os pesquisadores.
Os resultados dos estudos foram
publicados no periódico Bioenergy Research.
“O mata-pasto e a lentilha
d’água poderiam complementar ou ser alternativas à cana-de-açúcar para produção
de bioenergia”, diz à Agência FAPESP Marcos Silveira Buckeridge,
diretor do INCT do Bioetanol e coordenador dos projetos.
Os pesquisadores avaliaram a
composição e o potencial de sacarificação da biomassa das duas plantas para
produção de bioenergia. Os resultados das análises de cinco espécies de
lentilhas d’água – Spirodela polyrhiza, Landoltia punctata, Lemna gibba, Wolffiella caudata e Wolffia borealis – revelaram que três
monossacarídeos – glicose, galactose e xilose – constituem 51,4% da parede
celular planta.
Os
resultados também indicaram que a biomassa da lentilha d´água apresenta baixa
resistência à hidrólise ou sacarificação. Nesse processo, a biomassa
lignocelulósica é colocada em contato com um coquetel enzimático com o objetivo
de transformar os açúcares complexos presentes na parede celular da planta em
açúcares simples, que podem ser fermentados pelas leveduras para a obtenção de
etanol de segunda geração.
“A
lentilha d’água apresentou baixa resistência à hidrólise, provavelmente porque
quase não tem lignina”, avalia Buckeridge. A lignina é uma macromolécula que,
associada à hemicelulose e à celulose na parede celular, tem a função de
conferir rigidez, impermeabilidade e resistência a ataques biológicos e
mecânicos aos tecidos vegetais.
Já os resultados das análises
do mata-pasto (espécie Senna reticulata)
revelaram que quase 50% da biomassa das folhas e do caule da planta é
composta por pectinas, hemiceluloses e celulose. A lignina variou
consideravelmente entre os órgãos da planta, estando mais presente nas raízes
(35%), folhas (10%) e caule (7%).
“Ao
analisarmos a biomassa inteira da planta vimos que ela tem uma quantidade
enorme de amido nas folhas, muito maior do que já encontramos em outras
plantas”, compara Buckeridge.
Os
pesquisadores também avaliaram o efeito do aumento de dióxido de carbono (CO2)
na atmosfera na composição da biomassa do mata-pasto. Os resultados
indicaram que, embora não tenha alterado significativamente a composição de
lignina na parede celular, o CO2 elevado reduziu a proporção da macromolécula
nas folhas e raízes da planta. Além disso, aumentou 31% a concentração de amido
nas folhas e melhorou em 47% a sacarificação da biomassa da planta.
“O mata-pasto
se desenvolve muito bem sob altas temperaturas. Por isso é uma opção
interessante para geração de bioeletricidade pela queima da biomassa da planta,
principalmente na região Norte do país”, afirma Buckeridge.
A lentilha
d’água, por sua vez, também cresce em todas as regiões do mundo. Além de ser
uma opção para produzir etanol de segunda geração – por ser mais fácil de
hidrolisar do que a cana-de-açúcar –, a planta também serve para limpar água,
destaca o pesquisador.
“Outra
vantagem da lentilha d’água em relação a outras culturas que têm sido estudadas
para produção de bioenergia é que não precisa de terra para ser cultivada. Por
isso, não concorre com a produção de alimentos”, afirma Buckeridge.
O artigo Senna reticulata: a viable option for bioenergy production in the
Amazonian region (DOI: 10.1007/s12155-020-10176-x), de Adriana
Grandis, Bruna C. Arenque-Musa, Marina C. M. Martins, Thais Olivar Maciel,
Rachael Simister, Leonardo D. Gómez e Marcos S. Buckeridge, pode ser lido na
revista Bioenergy Research em https://link.springer.com/article/10.1007/s12155-020-10176-x.
E o artigo High saccharification, low lignin, and high sustainability
potential make duckweeds adequate as bioenergy feedstocks (DOI:
10.1007/s12155-020-10211-x), de Débora Pagliuso, Adriana Grandis, Eric Lam e
Marcos S. Buckeridge, pode ser lido na mesma revista em https://link.springer.com/article/10.1007/s12155-020-10211-x.
Elton Alisson
Agência
FAPESP
https://agencia.fapesp.br/planta-aquatica-e-arbusto-amazonico-revelam-potencial-para-a-producao-de-bioenergia/35252/
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