Há décadas uma questão assombra aqueles
que, como eu, sabem da importância que a embalagem tem para os negócios. Nós
sempre nos perguntamos por que as empresas brasileiras não percebem este valor,
e por que ainda não utilizam este recurso para potencializar o desempenho do
produto no mercado.
Pesquisas realizadas por escolas e
instituições do setor concluíram que os profissionais estão, em sua maioria,
dedicados à redução de custos da embalagem, ao invés de se dedicarem a
utilizá-la de forma melhor: aproveitando a contribuição que o investimento
feito pela empresa neste item pode proporcionar, como por exemplo, a utilização
da embalagem como ferramenta de marketing, veículo de comunicação e elo de
conexão com a internet.
A embalagem é uma poderosa ferramenta de
competitividade que não pode mais ser utilizada apenas para carregar o produto:
ela precisa ajudar a impulsionar o negócio da empresa.
Não faço aqui uma crítica aos
profissionais de embalagem, que muitas vezes são forçados pelas demandas de
seus empregadores. O nó da questão deste artigo diz respeito ao porquê das
empresas brasileiras não utilizarem todo o potencial de suas embalagens e, na
maioria das vezes, nem sequer perceberem o valor que elas têm.
Demorou, mas finalmente encontrei uma
hipótese que pode nos levar a um entendimento melhor sobre esta questão:
precisamos mudar a mentalidade que se estabeleceu nas empresas, que as fazem
enxergar a embalagem apenas como um custo, um insumo de produção como os
demais. Um entendimento equivocado, que faz com que as companhias entendam como
produto apenas aquilo que elas fabricam, ou seja, aquilo que vai dentro da
embalagem, fabricada numa outra empresa que fica longe e está cadastrada em seu
departamento de compras.
Eles não sabem que, para o consumidor, a
embalagem e o conteúdo constituem uma única entidade indivisível, conhecida
pelo nome de produto. Portanto, produto para o consumidor quer dizer
embalagem e seu conteúdo, uma vez que uma coisa não existe sem a outra. É neste
entendimento truncado que reside o nó da questão.
Não é fácil mudar mentalidades arraigadas
e, para isso, todo o setor de embalagem, as empresas e profissionais que atuam
na cadeia, precisam se dedicar a mudança do “mindset” pois, como ensinou
o venerável sábio chinês Lao Tsé, “mais vale acender uma vela que maldizer a
escuridão”.
Não adianta ficar reclamando que as
empresas não dão valor para a embalagem e que estão obstinadamente dedicadas a
redução de seu custo. Precisamos acender uma vela e lembrar em todas as
oportunidades que, para o consumidor, o produto e a embalagem constituem uma
única entidade indivisível. Além de lembrar a todos que esta entidade participa
e interfere na percepção de valor que o consumidor forma sobre o produto. Quem
sabe assim encontramos um ponto de partida para tentar desatar o nó.
Fábio Mestriner - consultor da Ibema
Papelcartão. Designer,
professor do curso de pós-graduação em Engenharia de Embalagem do IMT Mauá e
autor dos livros Design de Embalagem – Curso Avançado, Gestão Estratégica de
Embalagem e Inovação na Embalagem – Método Prático.
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