A ditadura da beleza é um
fenômeno que penaliza. A busca por uma pseudo perfeição se tornou praticamente
uma obrigação para muitas pessoas. Uma exigência para si mesmo e para os
outros. A todo momento surgem novas dietas, técnicas de estética e um arsenal de
produtos que remete a padrões de beleza cada vez mais extremistas. Conceitos
que levam a promessas duvidosas para aqueles insatisfeitos com o que enxergam
no espelho.
Segundo Elaine Di Sarno,
psicóloga com especialização em Avaliação Psicológica e Neuropsicológica; e
Terapia Cognitivo Comportamental, ambas pelo Instituto de Psiquiatria do
Hospital das Clínicas – FMUSP; essa idealização já está arraigada na nossa
sociedade, como se fosse uma verdade absoluta e não houvesse opção de escolha.
Veja alguns pontos destacados pela psicóloga que farão você rever estes
conceitos:
Plástica não faz
milagre
Para seguir a ditadura da
beleza, pessoas recorrem a grandes procedimentos, muitas vezes, desnecessários
e até perigosos. “Dependendo do porte, uma plástica, por exemplo, não deixa de
ser uma cirurgia que, como qualquer outra, tem risco de complicações”, diz
Elaine. Para ela, muito desta fixação pela aparência é motivada pela mídia, que
reverencia o culto ao corpo ideal, ostentado em novelas, comerciais, revistas
e, principalmente, nas redes sociais. “O cuidado que as celebridades têm com a
aparência faz parte do trabalho. Muito do que vemos na televisão ou nas
revistas é produto da profissão, eventualmente promovido pelas emissoras,
editoras e pelos patrocinadores”.
A psicóloga ressalta que a
plástica só justifica quando há alguma parte em discordância com o corpo e que
realmente incomode a pessoa, como um nariz muito grande, em desarmonia com o
rosto. “Correr o risco de uma cirurgia na tentativa de se assemelhar a uma
determinada celebridade é irreal, pois cada um tem características físicas
diferentes. O que pode ser lindo numa pessoa pode ficar desproporcional ao seu
biotipo. Insistir nessa busca só vai trazer frustração e transtornos de
autoimagem”, esclarece Elaine.
Mulheres são as
mais cobradas
No caso das mulheres, ainda há
a exigência de uma dupla ou tripla jornada (cuidar da casa, do marido, das
crianças, do emprego, do curso de especialização, do supermercado e ainda estar
impecável na aparência). “Não importa se você seja ocupada demais. As pessoas
sempre vão reparar se você engordou, se está com as unhas feitas, o cabelo
arrumado ou com a pele bonita”. Diante disso, segundo Elaine Di Sarno, vem o
stress, a sobrecarga e a ansiedade. “Não à toa, as mulheres são mais
predispostas a ter depressão e a desenvolver transtornos de ansiedade. Enquanto
cerca de 20% delas apresentam algum episódio depressivo ao longo da vida,
apenas 12% dos homens sofrem o mesmo. Claro que há influência de hormônios,
especialmente em determinadas fases, como na tensão pré-menstrual, na menopausa
ou durante a gestação. Mas os fatores sociais certamente acentuam estes
sintomas”.
Transtorno
alimentar: o maior dos perigos
Em um determinado momento,
segundo a psicóloga, os excessos poderão ter uma consequência danosa ao
organismo, como os distúrbios alimentares. Termos como Ana e Mia designam as
doenças anorexia e bulimia, respectivamente. Doenças estas cujas mulheres se
identificam em perfis das redes sociais ou blogs que “ensinam” como ficar sem
comer por horas, entre outras dicas para atingir o inatingível padrão de
beleza. Tanto a anorexia como a bulimia são mais comuns entre adolescentes e
mulheres jovens - cerca de 0,5 a 3% das mulheres sofrem de transtornos
alimentares, segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais
IV (DSM-IV).
Cuide da estética, mas principalmente da saúde
De acordo com a psicóloga, se as pessoas acreditassem na sua beleza genuína e singular, não importaria o que as indústrias da moda, da beleza, do consumo e os meios de comunicações nos impõem. “Cuidar-se é saudável, mas se deixar escravizar a ponto de colocar a própria vida em risco é doença, e que deve ser tratada. Cada um deve encontrar o seu equilíbrio, buscando seu bem-estar dentro de suas limitações. Talvez fosse importante que as pessoas resgatassem outros interesses, como cultura ou hobbies, que poderiam ocupar a mente e dar menos espaço a todo esse frisson de padrão de beleza”, finaliza Elaine Di Sarno.
Nenhum comentário:
Postar um comentário