Especialista em
habilidades socioemocionais explica como os pais devem lidar com a situação e
tomar a melhor decisão para o próximo ano
Segundo o Unicef, cerca de 3,5 milhões de alunos
reprovaram ou abandonaram a escola em 2018. O estudo, divulgado recentemente em
parceria do Instituto Claro, analisou o Censo Escolar 2018 e mostrou que esse
número reflete a realidade, principalmente, dos anos finais da Educação Básica,
no Ensino Médio. Saber como lidar com a notícia de repetência escolar do filho
não é uma tarefa fácil e exige atenção dos pais para a tomada de decisão que
diz respeito ao próximo ano letivo.
Para Tania Fontolan, educadora e diretora do
Programa Semente – metodologia que desenvolve a aprendizagem socioemocional em
escolas brasileiras – a repetência escolar é o resultado final de um processo
que aconteceu durante todo o ano, e o primeiro passo após a notícia é analisar
qual a razão que levou à reprovação. “Foi uma dificuldade de aprendizagem? Foi
uma incompatibilidade entre determinadas características cognitivas desse aluno
e o modelo de ensino da escola? Foi o resultado de um processo de pouca
dedicação? ”, questiona.
Entender o que levou à reprovação mostra o que
faltou no ensino e na aprendizagem do aluno no decorrer do ano e, dependendo da
razão, a postura da família deve ser diferente. “Se o aluno se dedicou, mas
obteve notas ruins, a razão pode ter sido dificuldades reais de aprendizagem.
Neste caso, vale pedir uma reconsideração na escola pensando no próximo ano
como uma nova oportunidade. Se a reprovação for por conta da
incompatibilidade cognitiva entre aluno e escola, a sugestão é mudar de
instituição. Se a razão for falta de dedicação, os pais precisam tentar mostrar
como más decisões, - não estudar, por exemplo - têm consequências”,
ressalta Tania.
O ideal é que os pais saibam cobrar esforço e
empenho do filho, e não resultado. “Às vezes a nota 5 de um aluno vale mais do
que a nota 9 do outro”, diz a diretora do Programa Semente. “A questão do
empenho é crucial. Porque ninguém é bom em tudo o que faz, mas com dedicação,
esforço e perseverança, é possível alcançar o seu máximo. ”
Meninos reprovam mais - Quando se trata dos meninos, por exemplo, a atenção deve ser ainda maior. De acordo com a pesquisa do Unicef, os meninos têm 64% mais chance de repetirem de ano do que meninas. Segundo Tania Fontolan, as meninas amadurecem mais cedo cognitiva e neurologicamente e isso reflete em sua auto-percepção e exteriorização de seus medos e dificuldades. Por isso pedem ajuda com mais facilidade. Já os meninos, geralmente, apresentam mais dificuldade em falar sobre suas próprias emoções, o que, às vezes, gera uma barreira para que ele consiga externar suas dificuldades.
“As meninas desenvolvem a perseverança de um jeito mais responsável e antes dos meninos; além disso, há um pensamento de que se o menino for focado e centrado, ele será o ‘bobo’, o ‘nerd’. Então por vezes, considera-se mais natural que ele ‘bagunce’, que jogue futebol e vá bem nos esportes e não se empenhe nas disciplinas obrigatórias na escola, esse pensamento cultural precisa ser mudado”, conclui Tania.
Programa
Semente
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