Mais comum em mulheres, patologia provoca dor no
joelho e atrapalha a rotina de quem pratica atividade física
Recentemente, o ginasta Arthur Nory descobriu que sofre de uma doença
sem cura: a condromalácia patelar, um desgaste na cartilagem do joelho. O
atleta sentia fortes dores no joelho e levou meses para acertar o diagnóstico.
Silenciosa, a doença só provoca incômodo quando o quadro já está
avançado. “A condromalácia existe quando há um amolecimento anormal da
cartilagem articular da patela e é muito difícil os atletas e pacientes se
queixarem de dor logo no início do quadro, já que a cartilagem não possui
terminações nervosas”, explica Flávio Cruz, ortopedista especializado em cirurgia do joelho, traumatologia e lesões
esportivas.
Segundo o médico, na maioria dos casos, a dor surge nos
graus mais elevados de desgaste articular, quando já há perda da cartilagem e
exposição do osso subcondral. “Muitas vezes os pacientes sentem um
incômodo maior na parte anterior do joelho ao agachar, correr ou praticar
exercício. A dor também pode aparecer em situações cotidianas, como ao se
levantar da cadeira, assistir um filme no cinema e descer escadas. Pode haver
inchaço no joelho, e sensação de crepitação local ao dobrar e esticar o
joelho”.
Mulheres sofrem mais
As causas são múltiplas e podem estar associadas. No caso
de atletas e praticantes de atividades físicas, alguns distúrbios mecânicos do
joelho, como um aumento da pressão entre a patela e o fêmur durante o
movimento de flexão e extensão, podem ocasionar o desgaste da cartilagem.
Fatores anatômicos, neuromusculares e hormonais também
podem facilitar o aparecimento da doença. As mulheres, por exemplo, têm
maior incidência a sofrer com a condromalácia por conta do formato do joelho. “O joelho feminino tem uma tendência a ser do tipo Geno Valgo, ou seja,
tende a ter um desvio, pois a bacia da mulher é mais
larga e arredondada para acomodar o feto durante a gestação, favorecendo uma
maior rotação do quadril quando comparada ao homem”, explica o ortopedista.
Sobrepeso e obesidade também são fatores que podem aumentar o risco da doença.
Não há cura, mas há tratamento
“É sempre melhor optar pelo tratamento não cirúrgico no
início do quadro”, recomenda Cruz. De acordo com o médico, a combinação de
analgésicos e anti-inflamatórios com compressas de gelo local e fisioterapia
podem ajudar a amenizar a dor. Após o alívio, a recomendação é fortalecimento
muscular nos membros inferiores, alongamento das estruturas posteriores do
joelho, treinamento neuromuscular e correção biomecânica do joelho. “Em
alguns casos, pode ser indicado a injeção de medicações anti-inflamatórias
dentro do joelho, assim como aplicação de ácido hialurônico, com o objetivo de
hidratar e lubrificar a articulação. Mas vale sempre lembrar que o objetivo do
tratamento não é a cura da lesão, já que a cartilagem tem um potencial de
reparo muito baixo, e sim o controle do quadro de desgaste e do processo
inflamatório, aliviando a dor e o desgaste”. Para o especialista, só em casos
mais graves a artroscopia do joelho é recomendada.
Prevenir é possível
A principal orientação aos atletas e praticantes de
atividade física é a prevenção da lesão ou da piora acelerada do quadro de
desgaste da cartilagem. “Antes de iniciar qualquer tipo de treinamento mais
vigoroso, como treinos longos, é fundamental fazer fortalecimento muscular
desde o tronco e incluindo quadril, joelhos e tornozelos”, aconselha Cruz. “Ao
menor sinal de dor na região anterior do joelho durante corridas ou exercícios,
diminua o treino e busque avaliação de um especialista”.
O médico informa que pode ser necessário a realização de
exames de imagem (raio-X e ressonância) para identificar a lesão. Alguns
testes como isocinético, baropodometria e avaliação biomecânica em 3D da
corrida também podem ajudar a identificar possíveis alterações nos joelhos.
O controle de carga nos treinamentos é fundamental, com
aumento gradual dos treinos tanto no volume quanto na intensidade, evitando
exercícios de alto impacto no joelho. No dia a dia, as recomendações para quem
já sente algum incômodo são evitar subir e descer escadas e não manter o joelho
flexionado em 90° por muito tempo. “Atenção ao peso corporal nos casos de
sobrepeso associado ao desgaste articular também é fundamental para não agravar
o quadro”, completa.
Flávio Cruz - ortopedista, especialista em Traumatologia, lesões
esportivas e mestre em cirurgia do joelho. Há mais de 15 anos atuando em
Medicina do Esporte, tem passagens pela Confederação Brasileira de Futebol
(CBF) nas Seleções Feminina e Masculina, Confederação Brasileira de Desportos
Aquáticos (CBDA), Comissão Atlética Brasileira de MMA (CABMMA) e Clube de
Regatas do Flamengo (CRF), entre outras instituições esportivas, Cruz é
cirurgião no Aspetar Hospital, localizado no Qatar e referência mundial no
tratamento de atletas. É membro da SBRATE, SBCJ, SBOT, SBMEE e certificado pela
FIFA em Medicina do Futebol. Já atuou em mais de 30 países como médico de
delegações esportivas em competições internacionais.
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