Relações familiares, hábitos de vidas e
consequências físicas e emocionais sofreram alterações na vida dos
sobreviventes da doença, apontou estudo do INCA
“Sem chão”. Esse foi o primeiro sentimento que a
servidora pública, Osmarina Gomes, de 55 anos, e sua família tiveram após ser
diagnosticada com câncer de mama, em 2001. Mas, após receber o apoio da família
e realizar todo o tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS), hoje está curada
e é uma das sobreviventes do câncer. Casos semelhantes ao de Osmarina foram
mote da pesquisa “Compreendendo a Sobrevivência ao Câncer na América Latina: os
casos do Brasil”, divulgada pelo Ministério da
Saúde e o Instituto Nacional do Câncer (INCA), nesta segunda-feira
(04/02), na sede do INCA, no Rio de Janeiro, durante cerimônia em alusão ao Dia
Mundial do Câncer.
Com o crescimento do número de casos novos e as
atuais taxas de sobrevida para o câncer no
Brasil, o número de pessoas que sobrevive à doença tem aumentado
significativamente, tornando o acompanhamento desse grupo um grande desafio
para a rede de saúde. Desta forma, o estudo apresentado tem uma abordagem
qualitativa e aprofundou temas ligados à sobrevivência em entrevistas com
pacientes e familiares.
De acordo com a
diretora do Departamento de Atenção Especializada e Temática, do Ministério da
Saúde, Inês Gadelha, o levantamento é importante para identificar que a
população é a principal aliada na prevenção da doença. “O controle do câncer
exige muito mais que acesso, organização de serviço, diagnóstico e tratamento.
Ele exige uma população atenta, consciente de que ela tem o maior ativo nesse
controle. Se nós adotarmos hábitos saudáveis de vida, combater o sedentarismo e
o tabagismo, poderíamos evitar cerca de 70 mil mortes por câncer”, pontuou dra.
Inez Gadelha.
Para o estudo,
foram entrevistados 47 indivíduos diagnosticados há pelo menos 12 meses com
câncer de próstata, mama, colo de útero e Leucemia Linfoblástica Aguda (LLA) e
12 familiares/cuidadores, em hospitais públicos e privados, nas capitais Rio de
Janeiro (RJ) e Fortaleza (CE) em 2014 e 2015.
A maioria dos
entrevistados já havia sido submetida ao tratamento e estava na fase de
acompanhamento oncológico, que pode durar até cinco anos. Outros entrevistados
ainda estavam na fase final do tratamento ou no período de tempo entre 5 e 18
anos após o diagnóstico. De acordo com o INCA, estudos apontam que, a sobrevida
mediana estimada, com base em registros de câncer, para o câncer de mama é de
74%, para o câncer de próstata, de 79% e, para o câncer do colo do útero, de
64%.
A pesquisa
“Compreendendo a Sobrevivência ao Câncer na América Latina” se baseou em três
vertentes: consequências físicas, emocionais e socioeconômicas do tratamento;
mudanças no estilo de vida; e atendimento pela rede de atenção oncológica
pública e privada. Entre alguns dos resultados, foi apontada a importância de
se ter suporte emocional não só para os pacientes como também para os
familiares, que também sofrem no processo. Outra constatação foi que a doença
estreitou laços afetivos e atraiu a manifestação de apoio e solidariedade
vindos de grupos familiares, religiosos, colegas de trabalho e também dos profissionais
de saúde.
A pesquisa trouxe o
relato dos pacientes e de familiares que apontaram a necessidade de alterações
nas atividades do dia a dia, após o tratamento da doença. Eles citam, por
exemplo, o retorno às atividades laborais, alguns agora com restrições físicas
e emocionais importantes. Ainda nos relatos, os familiares, em função do
cuidado intensivo que alguns indivíduos com câncer passam a demandar,
destacaram a necessidade de adaptar horários de trabalho e lazer.
Ainda durante a
cerimônia no Inca, foi lançada a Campanha “Eu sou e eu vou”, da União
Internacional para o Controle do Câncer (UICC), o qual a diretora-geral do
INCA, Ana Cristina Pinho, é integrante. A ação tem o objetivo de fazer um apelo
ao compromisso pessoal e representar o poder que uma ação individual tomada no
momento presente tem de impactar o futuro. Além disso, a campanha tem o intuito
de informar ao indivíduo que ele tem o poder de reduzir o impacto do câncer na
sua vida, na vida das pessoas com que convive e no mundo. A campanha terá
duração de três anos (2019-2021).
"A campanha é
importante porque nos faz compreender nosso papel na sociedade em relação à
doença. E mostra que podemos mudar nossos hábitos, nos informar, ter um papel
de destaque, com relação à prevenção da doença", destacou a diretora-geral
do Instituto Nacional do Câncer (INCA), Ana Cristina Pinho.
HÁBITOS SAUDÁVEIS CONTRIBUEM
NO TRAMENTO DO CÂNCER
Estimular o consumo
de alimentos frescos e ricos em nutrientes, reduzir o sedentarismo, além de
evitar o uso abusivo de álcool e o tabagismo, por exemplo, podem contribuir na
mudança dos comportamentos de risco para doenças crônicas, como o câncer. Por isso,
o Ministério da Saúde trata esses temas como prioridade.
Desde 2011, os
municípios recebem recursos financeiros para implantar o programa Academia da
Saúde. Atualmente, o programa conta com mais 3.800 polos habilitados. Nesses
locais, a população pode contar com uma infraestrutura e equipamentos
adequados; e profissionais qualificados para promover práticas corporais e
atividade física, promoção da alimentação saudável e educação em saúde. Além
disso, a pasta adotou internacionalmente metas para frear o crescimento do
excesso de peso e obesidade no país.
Outra ação para a
promoção da alimentação saudável é o Guia Alimentar para a População
Brasileira, do Ministério da Saúde. Em parceria com a Associação Brasileira das
Indústrias da Alimentação (ABIA), o Ministério também conseguiu retirar mais de
17 mil toneladas de sódio dos alimentos processados em quatro anos.
PREVENÇÃO E TRATAMENTO
O Sistema Único de
Saúde oferta exames preventivos, como mamografia e papanicolau, e tratamento
integral e gratuito para todos os tipos de câncer, seja paliativo,
medicamentoso, cirurgias oncológicas, radioterapia e quimioterapia. Todos os
hospitais do SUS, habilitados em oncologia, recebem mensalmente recursos
federais para a compra e oferta de medicamentos. Em 2018, o Ministério da Saúde
destinou R$ 5 bilhões para essas unidades.
O Ministério da
Saúde também oferece gratuitamente outros sete medicamentos: a talidomida para
o tratamento do mieloma múltiplo, do mesilato de imatinibe para a quimioterapia
do tumor do estroma gastrointestinal (GIST), da leucemia mieloide crônica e da
leucemia linfoblástica aguda cromossoma Philadelphia positivo; o trastuzumabe,
para a quimioterapia do carcinoma de mama inicial e locorregionalmente
avançado; o rituximabe, para a quimioterapia do linfoma difuso de grandes
células B e do linfoma folicular; e o dasatinibe e onilotinibe para a
quimioterapia da leucemia mieloide crônica de adultos.
Para o Brasil,
foram estimados para 2018 e válidos para 2019, 417.010 novos casos de câncer
(excluindo câncer de pele não melanoma). O de próstata ocupa o primeiro lugar
geral e o primeiro entre os homens, com 68.220 novos casos. O de mama é o
segundo total e o primeiro entre as mulheres com 59.700 novos casos. O do colo
do útero ocupa o sexto lugar geral e o terceiro entre as mulheres, com 16.370
novos casos, enquanto as leucemias estão em nono lugar, com 10.800 novos casos,
de acordo com o INCA.
Victor Maciel
Agência Saúde
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