Karin Kenzler, psicóloga e orientadora
educacional do Colégio Humboldt, explica causas, sintomas e tratamentos para a
depressão em crianças e adolescentes
O
Brasil é o país mais deprimido da América Latina. Dados divulgados pela
Organização Mundial da Saúde (OMS) confrontam a imagem do brasileiro feliz e
apontam que 5,8% dos habitantes do país sofrem de depressão, maior taxa do
continente latino-americano. Já para os mais jovens, a OMS estima que a
depressão seja a terceira maior doença entre adolescentes e a segunda principal
causa de morte de pessoas entre 15 e 25 anos no mundo.
Para
Karin Kenzler, orientadora educacional do Colégio Humboldt e psicóloga, a
depressão na adolescência deve ser diagnosticada e tratada o quanto antes.
Porém, fazer um diagnóstico nesta fase torna-se mais complicado, uma vez que é
preciso diferenciar as crises normais da adolescência de um quadro patológico.
“A depressão, quando não tratada, torna-se cada vez mais grave e mais intensa,
conduzindo a diversos casos de suicídio, e esta é a consequência mais grave da
doença, mas não é a única, pois ela afeta múltiplas funções e causa danos
psicossociais significativos”, afirma.
Entender
os sintomas que a desordem pode causar nos jovens é o primeiro passo para dar
início ao diagnóstico. “Meninos e meninas reagem de forma diferente na
depressão”, conta a psicóloga. Segundo ela, os meninos tendem a assumir uma
postura mais agressiva, de desdém pelos outros, tornando-se violentos e com
problemas de conduta dentro de casa e na escola. Já as meninas costumam se
sentir extremamente entediadas, tristes, ansiosas e com baixa autoestima.
Apesar
de mais frequente na adolescência, é preciso que os pais deem atenção aos
indícios da doença que podem surgir já na infância. De acordo com Karin,
crianças deprimidas costumam exibir comportamentos de irritabilidade, mau humor
e falta de prazer em atividades habituais, além de apresentarem timidez e fugirem
da companhia dos demais. “A escola vai exercer um papel importante no
diagnóstico, pois os primeiros sinais são o baixo rendimento escolar e a
dificuldade em realizar as tarefas, devido à falta de concentração. A criança
não consegue verbalizar que está deprimida, por isso a constatação vem por meio
de testes e desenhos”, explica.
Entre
os principais fatores que desencadeiam a depressão infantil e juvenil estão
problemas conjugais na família, cobrança exagerada por parte dos pais e da
sociedade em relação ao desenvolvimento ou desempenho escolar, bullying, falta
de contato com os pais e traumas significativos, como o falecimento de um ente
querido ou maus tratos na família.
Como
tratar?
O
papel da família é fundamental para contornar a situação. Para a psicóloga, é
preciso que os pais acolham e compreendam os sentimentos do filho. “Acolher é
entender que cada um tem o seu próprio tempo e seus valores. O que funciona
para uma pessoa pode não funcionar para outra”, frisa. Além disso, o diálogo é
extremamente importante, principalmente para que a família escute e preste
atenção no que a criança e o jovem têm a dizer.
Negar
a existência do problema pode ser um grande obstáculo. “Para quem está em um
quadro de depressão profunda, procurar ajuda é muito difícil, por isso muitos
não o fazem. Jogar tudo nos ombros de quem passa por uma crise é injusto, e
cabe também aos amigos e familiares a responsabilidade de dividir os
problemas”, destaca Karin. “Não contrarie, negando ou minimizando o que a
criança sente. A hora não é apropriada para sermões e brigas. Se não tiver o
que dizer, apenas fique em silêncio”, completa.
Para
superar a doença, em qualquer idade, procurar um psicólogo ou psiquiatra é
essencial. Com os adolescentes, o tratamento envolve sessões de terapia e, se
necessário, também medicamentos antidepressivos. Com crianças, o tratamento da
depressão é amplo e envolve a família, escola, pediatra e psicólogo. “É
possível para os pais e professores auxiliarem no tratamento e principalmente
em sua prevenção, estimulando a criança a brincar, participar de atividades
recreativas para que possa melhorar seu humor e interagir com outras crianças.
Nesse sentido, é fundamental uma dinâmica familiar afetiva, com pais presentes
e envolvidos na criação dos filhos”, finaliza.
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