Não
há quem nunca tenha se sentido ansioso ao menos uma vez na vida. O dicionário
Aurélio define o sentimento como uma “comoção aflitiva do espírito que receia
que uma coisa suceda ou não”, ou um “sofrimento de quem espera o que é certo
vir”. Provas, reuniões e apresentações importantes, a chegada de filhos, jogos
de futebol e incertezas em relação ao futuro, todos causam ansiedade. Porém, se
a emoção é tão natural, por que ela é conhecida atualmente como “o mal do
século”?
A ansiedade não é totalmente maléfica.
Ela serve como uma proteção e um alerta de nossos próprios corpos para nos
prepararmos para grandes desafios. O alto número de pessoas ansiosas, porém,
assusta. De acordo com relatório lançado pela Organização Mundial da Saúde
(OMS) na publicação “Depression and Other Common Mental Disorders: Global
Health Estimates”, o número estimado de pessoas que vivem com transtornos
de ansiedade no mundo é de 264 milhões. Este total para 2015 reflete um aumento
de 14,9% desde 2005. O Brasil lidera o ranking de maior taxa de
transtornos de ansiedade: são 18,6 milhões de pessoas afetadas, cerca de 9,3%
de sua população total.
A
ansiedade, quando exagerada, pode causar diversos sintomas, tanto físicos
quanto psicológicos, como contrações musculares
indesejadas, tonturas, formigamento e perda de sensibilidade nos membros
extremos, tensão e dores musculares persistentes, necessidade frequente de
urinar, dificuldade para respirar, falta de controle de pensamentos e
insônia. Este último pode ser especialmente prejudicial, já que o sono está
diretamente relacionado com a qualidade de vida de uma pessoa. Uma noite mal
dormida pode causar, além de um maior cansaço físico, um aumento do estresse,
uma porta aberta para novas complicações no futuro. Além disso, a ansiedade
pode chegar a um nível no qual a pessoa não consegue mais reagir às
dificuldades da vida, em uma espécie de paralisia. Aí, não restam dúvidas: é
necessário buscar ajuda profissional.
Mas,
afinal, quais são as causas da ansiedade? O gatilho pode ser qualquer
influência externa ou interna que afete o indivíduo - ou seja, elas são
extremamente variáveis e mudam de pessoa para pessoa. Assim, a verdade é que é
difícil prevenir a ansiedade. Em nosso mundo atual, com demandas de trabalho,
pessoais e também expectativas elevadas para todos os lados, os gatilhos são
cada vez mais comuns e frequentes. Praticamente tudo pode afetar nossa psique e
causar as tão temidas noites mal dormidas.
O
segredo, então, é almejar sempre viver de maneira equilibrada. Excessos na
alimentação e pouca atividade física são sempre nocivos à nossa saúde e podem,
sim, intensificar os sintomas da ansiedade. Inclusive, alimentos com altos
índices de triptofano, como banana e chocolate, são especialmente recomendados
nestes casos. É importante também saber identificar seus gatilhos pessoais e
buscar evitá-los.
O
noticiário está causando parafusos na sua cabeça? Busque outro, talvez menos
sensacionalista. O trabalho está te deixando louco? Pode ser a hora de desligar
o celular após o expediente. Você perde o sono quando seus filhos saem de casa?
Encontre maneiras de amenizar a preocupação, por exemplo, tentando saber melhor
onde eles estão e quem os acompanha. O primordial, porém, é procurar ajuda em
caso de extrapolo dos sintomas. Profissionais da psiquiatria são os mais
indicados para cuidar da ansiedade e o tratamento pode, inclusive, envolver
medicamentos para colocar a química do cérebro em ordem.
É
importante lembrar que você não está sozinho na luta contra a ansiedade.
Literalmente, centenas de milhões de pessoas no mundo sofrem com ela todos os
dias, não importa o sexo, idade, cor ou credo. Busque ajuda se você acredita
estar passando por alguns dos sintomas descritos aqui. O ganho em qualidade de
vida será imensurável.
Dra. Hanah Mustapha Abou Arabi - médica coordenadora de interconsultas
psiquiátricas do HSANP, centro hospitalar localizado na zona Norte de São Paulo.
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