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sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Dezembro: mês de festa contrasta com melancolia dos idosos


O mês de dezembro chegou e com ele também começam a surgir convites para festas e reuniões de amigo-secreto, sofisticadas vinhetas de fim de ano e inúmeras propagandas convocando para um Natal feliz, cheio de presentes trocados por gente bonita, alegre e carinhosa. Tudo muito animador, mas pouco realista num país com sérios problemas socioeconômicos. Em meio a tudo isso, um problema ainda mais grave: a melancolia que esta época do ano traz para muitos idosos contrasta com tanta animação. Na opinião da psicóloga Beatriz Leite Machado, especialista em psicologia hospitalar com ênfase em geriatria, “as festas de fim de ano mobilizam muitos afetos de forma geral, sendo que nos mais velhos podem evocar memórias e sentimentos que resultam em manifestações de inquietação e angústia durante o período”.

Beatriz diz que, para muita gente – em especial para os idosos – as festas de Natal e Ano Novo estão associadas a uma certa melancolia. “Há um imaginário de comunhão com a família e amigos, de um amor incondicional mágico, bastante distante da realidade, mas que faz parte em maior ou menor medida das expectativas de cada um. O Natal, em especial, sugere uma série de rituais que nos remete a sentimentos de fraternidade e solidariedade. Porém, a manutenção dessa atitude benevolente e compassiva no meio social atual é quase uma contradição diante do excesso de consumismo que acaba esvaziando o significado das reuniões familiares, além da indiferença em relação a muitos idosos”.

Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam um aumento de quase 20% na população de idosos entre 2012 e 2017. Hoje, eles são mais de 30 milhões. No mesmo período, outro dado salta aos olhos. A quantidade de pessoas com mais de 60 anos que estão vivendo em albergues públicos e casas de repouso está beirando os 100 mil – revelando uma escalada assustadora de solidão. “A pessoa idosa pode sentir algumas perdas de forma mais profunda. Primeiramente, ela perde seu status profissional, seu padrão de vida, seu grupo de amigos, e às vezes até a saúde. Depois, quando começa a perder pessoas muito próximas e familiares, a tristeza precisa ser bem trabalhada para que ela continue encontrando motivações para ser feliz. Muitos conseguem refazer um círculo de amigos quando se dedicam a hobbies ou passam a frequentar grupos de terceira idade, participando das diversas atividades propostas. Outros ingressam em grupos de dança, ginástica e até mesmo de viagem. Mas nem todos têm condições financeiras para desfrutar tudo isso. Por isso é tão importante que o Estado esteja pronto para oferecer mais acolhimento e assistência a essa parcela importante da população”, diz a psicóloga.

Para a especialista, o fim de ano – por marcar o fim do calendário – pode suscitar a finitude da vida. É o fim de um ciclo. Sendo assim, pessoas mais vulneráveis podem se deparar com questionamentos que remetem à própria finitude. “É fundamental que os idosos sejam bem acolhidos e valorizados por suas famílias. Mas também é importante manter uma rede de apoio e investir na manutenção de vínculos não só em datas festivas. A integração entre as gerações pode trazer ganhos para todas as partes, principalmente quando se trata de investimento afetivo. As relações intergeracionais possibilitam a ressignificação de papéis – em que o velho transmite sua experiência ao mais jovem e, ao mesmo tempo, se atualiza e sente-se inserido no contexto atual. Afinal, alguém que vive insatisfeito consigo mesmo e com seu entorno enfrentará mais dificuldade para viver bem e feliz”.

Beatriz ressalta, também, que é preciso valorizar outras composições familiares que têm dado muito certo. “Pessoas que não podem ou não querem contar com a família têm se reunido com amigos escolhidos por afinidade. Isso tem se tornado cada vez mais comum, tanto que tem ganhado força o conceito de ‘república de idosos’. Geralmente são pessoas solteiras ou viúvas, de diversas idades, que têm muito em comum e resolvem deixar seus lares solitários para viver em companhia umas das outras. O mais importante é investir na troca. Seja como for, os idosos devem sentir-se acolhidos e ter sua importância reconhecida, independentemente do núcleo ao qual pertencem hoje em dia.”






Fontes:
Beatriz Leite Machado - psicóloga (CRP 06/134462), especialista em Psicologia Hospitalar com ênfase em Geriatria. Mais informações: leitebeatriz@rocketmail.com





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