Preconceito é algo que se
aprende. Não nascemos preconceituosos. Basta observarmos as crianças. Entre
elas, num ambiente escolar de primeira infância, não há discriminação entre os
amiguinhos. Brincam juntos, comem juntos, divertem-se. As crianças empregam o
juízo crítico entre os colegas e os professores de forma natural.
Vão, aos
poucos, escolhendo os amigos com quem se identificam mais, os professores que
apreciam, mas nunca em razão de outra coisa que não sejam apenas as atitudes e o
comportamento. Se alguns colegas são mais fraternos e companheiros, ficam mais
chegados; se determinada professora ou professor é mais atencioso e paciente,
passa a ser mais admirado. É no desenvolvimento dessas experiências que a
criança escuta, observa e testemunha atitudes e, a partir daí, começa a
formular conceitos ou, como pressupõe a palavra, uma ideia prévia que antecede
a elaboração mental dos conceitos: os pré-conceitos.
Mas, a criança aprende mais em casa do que na
escola. Aprende ouvindo a opinião dos pais, dos vizinhos, dos visitantes.
Aprende observando como se comportam todas essas pessoas. E desenvolve, por
imitação ou contestação, ideias próprias. Algumas delas preconceituosas em suas formas: social, racial, religiosa e
sexual. O preconceito surge por meio das diferenças entre as pessoas e as
opiniões que cada um sustenta. E esse juízo pré-concebido,
que se manifesta numa atitude discriminatória perante pessoas, crenças,
sentimentos e tendências de comportamento, como funciona no ambiente de
trabalho?
Imagine a seguinte cena: o profissional é recrutado ou consegue recolocação.
Até este momento só conheceu o entrevistador, que não lhe deu mais detalhes a respeito da
corporação onde atuará. Ao longo do processo, o entrevistador estava mais
preocupado em conhecer o candidato do que em explicar a ele os detalhes da
cultura da empresa. Cumpridos os procedimentos burocráticos, marca-se a data e
o candidato passa a ser empregado – ou colaborador, como as empresas costumam
referir-se, de modo politicamente correto, aos profissionais. Vem o primeiro
dia de trabalho. O novo colaborador é apresentado aos colegas. Para ele tudo é
novo, não há ideias formadas sobre as pessoas, os métodos de trabalho, a
cultura da empresa. Vai levar algum tempo para se acostumar. E se acostumar
significa elaborar mentalmente conceitos, não apenas a partir do que vai
escutar, observar e testemunhar dentro do ambiente corporativo, mas
principalmente a partir das informações que o grupo em que está sendo inserido
vai lhe oferecer.
Nada mais normal do que nos
unirmos com pessoas que possuem certas afinidades conosco. Esse novo empregado vai interagir com um ou mais de um dos grupos
existentes na empresa. Sua experiência anterior vai definir em qual grupo se
encaixa melhor. E, como sabemos, às vezes, cada escolha traz determinadas
consequências que – quase sempre – decorrem de preconceitos.
Fazer parte de um
grupo pode levar a ser antipatizado por outro grupo e ser rotulado. Se ficar mais
próximo do chefe, vai ser suspeito de bajulador. Se ficar mais
perto dos críticos, pode ser tachado de rebelde. Mais perto dos veteranos,
careta. Mais perto dos jovens, descompromissado. Mais perto das mulheres,
afeminado ou galanteador. Mais perto dos homens, machão ou misógino. E por aí
adiante.
Da parte do novo empregado, todo o seu esforço pessoal
vai estar focado no sentido de ser aceito. De preferência, por todos os grupos.
Geralmente, funciona assim. Mas há quem já chegue com ideias prontas e prefira
ficar isolado. Portanto, nem sempre o preconceito é do grupo, mas do próprio
recém-chegado.
Da parte do líder, o grande desafio consiste em integrar
os novos colaboradores de uma forma que evite a formação de estereótipos
preconceituosos. É importante enxergar além de rótulos. Entender os grupos e os
novos colaboradores, cada qual com suas razões e características, e enfatizar o prejuízo que causam os
preconceitos. Neste caso, qual será o principal papel do líder ou dos
profissionais de RH contra o preconceito em suas equipes? Ouvir.
Ouvir não é apenas escutar, mas assimilar com atenção o
que for dito pelas pessoas. Ouvir é compreender atitudes, comportamentos,
reações. Somente com a compreensão nasce a habilidade de ouvir. Assim, o líder
será capaz de verificar semelhanças e diferenças e agir para estimular aquelas e
amenizar essas últimas.
Diferença é coisa boa. Mas
as diferenças que completam, não as que separam. O líder precisa ser como o
Papa, que não é chamado de pontífice à toa. Pontífice é o construtor de pontes,
o que promove a ligação entre as pessoas. Mencionei a figura do Papa, porque a
questão religiosa é um dos principais problemas ligados ao preconceito.
Em qualquer ambiente, a
melhor estratégia para vencer o preconceito é o respeito. E respeito também é
coisa que se aprende. De preferência em casa e na escola. O ambiente de
trabalho também pode ensinar. Cabe a cada um entender esses personagens. Mas
cabe a todos compreender melhor as pessoas e ideias ao seu redor.
Norberto Chadad - Engenheiro Metalurgista pela
Universidade Mackenzie, Mestre em Alumínio pela Escola Politécnica, Economista
pela FGV, Master em Business Administration pela Los Angeles University e CEO
da Thomas Case & Associados, consultoria de soluções em gestão de pessoas e
de carreiras com 40 anos de atuação. www.thomascase.com.br
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