Nas grandes cidades a chuva está longe de ser um
problema apenas climático. Como temos visto todos os anos, os assustadores
alagamentos, enchentes e deslizamentos têm se tornado cada vez mais comuns.
Não é novidade nenhuma que a urbanização ocorreu de
forma desenfreada, muitas vezes sem o planejamento necessário e cobrindo rios
que, anteriormente, faziam parte dessas cidades. Avaliando desta forma, não
precisamos ser especialistas para saber que a drenagem da chuva precisa ser
mais eficiente nos centros urbanos já que, por conta das pavimentações, a água
não consegue achar um local para ser absorvida. Os bueiros, que deveriam ser
uma solução para o excesso de água, acabam bloqueados pelo lixo e não dão conta
da vazão, resultando em transbordamento nos períodos de fortes chuvas.
Desde o início da história contemporânea, o ser
humano sempre teve participação na degradação do meio ambiente. No entanto,
antigamente a reposição natural desses recursos extraídos era feita de forma
espontânea, orgânica. Atualmente, o que acontece são transformações no território
e alterações nos ecossistemas e na biodiversidade de forma sistemática e em
larga escala, o que tem colocado em risco a própria existência humana.
Por conta disso, é que nos últimos anos começaram a
surgir as Soluções Baseadas na Natureza que, nada mais são do que intervenções
humanas inspiradas em ecossistemas saudáveis, para solucionar desafios urgentes
da sociedade e que usam a própria natureza a favor disso. Os problemas podem
ser diversos, desde o avanço do nível do mar até a escassez hídrica, por exemplo.
Nós dependemos e sempre vamos depender do patrimônio natural, por isso, por
meio das SBNs, garantimos também a proteção da economia e sociedade.
O conceito ainda é novo aqui no Brasil, o que
dificulta a aplicação à realidade brasileira. Mas isso não quer dizer que já
não existam bons exemplos de SBN por aqui. Alguns deles, inclusive, foram
selecionados em uma chamada de casos promovida pela Fundação Grupo Boticário,
em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e o GVces, e reconhecidos como
alternativas viáveis em diversas cidades do Brasil. E para o caso das chuvas e
inundações algumas das soluções são muito simples.
Vejamos um exemplo da cidade de Curitiba, no
Paraná. O Parque Barigui, criado em 1972, foi construído com a intenção de
conter as enchentes e preservar a mata nativa da bacia do Rio Barigui na
região. Além dele, outros parques da cidade foram projetados com o mesmo
intuito e são chamados de parques lineares, que integram a proteção da
biodiversidade à criação de espaços de lazer e também a segurança da população.
Essas áreas são essenciais para a infiltração da água das grandes tempestades,
e, em caso de transbordamento dos rios, não causa grandes prejuízos ao
patrimônio público e privado por serem áreas verdes sem a presença de casas, avenidas
e outras construções.
No entanto, é importante ressaltar que, quanto mais
ocupada é uma área da cidade, maior é o desafio de incluir uma área verde no
local. O exemplo do Barigui deu certo justamente por ter sido construído em uma
área que não estava ocupada. Telhados verdes, cisternas para captação de água
da chuva, e recuperação de matas ciliares são outros exemplos de ações que
podem ser implementadas em grandes cidades para diminuir os riscos das
enchentes e dos alagamentos.
Está cada vez mais difícil conseguirmos reverter os
impactos criados ao longo do tempo, mas ainda é possível juntarmos forças com a
natureza para prevenirmos novos estragos. E a natureza é nossa maior aliada.
André Ferretti - gerente de Economia da
Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e membro da
Rede de Especialistas em Conservação da Natureza.
Nenhum comentário:
Postar um comentário