O sinal está fechado para nós,
todos, os que são jovens, os que já passaram por isso e os que estão
chegando. O tempo passa ligeiro, alta velocidade, e sempre parece que
estamos na contramão, sem saber para que lado virar, quando parar. Acabamos
sendo multados por isso.
Desde muito
criança tenho a mania de ler tudo o que passa pela frente. Os letreiros
das lojas, as faixas espalhadas pelas ruas, os cartazes, os muros. As placas
dos carros, inventando expressões e frases surgidas com as três letras. No
final do dia o cansaço urbano, incluindo a falta de horizontes daqui de São
Paulo, onde procuro frestas entre prédios para espichar o olhar. Não admira que
nossa visão seja tão embaçada.
A desorientação é geral. A da
realidade, de nossos caminhos. Que nos fazem perder-nos sempre e que
agora até se julga possível de reverter com aplicativos , mostrando os traçados
que bem entendam que devamos seguir. Mas que nos fazem perder ainda mais.
Experimenta precisar de orientação: as placas não estarão lá, ou estarão
tortas, chutadas, pichadas, sujas, cobertas, erradas.
Por aqui a coisa anda ainda pior, porque é ao
léu, ao vento da decisão de algum gênio dentro de algum gabinete. De repente
criam uma faixa que não existe, uma ciclovia feita por cones patrocinados de um
banco, revertem a mão de direção e você tem de andar e olhar no relógio porque
é confusão total de horário para ir e vir. Apareceu agora a mania de pendurar
faixas horrorosas atravessando as avenidas e que, se quiser saber qual é o
alerta, é melhor parar e ir a pé bem debaixo delas para tentar ler toda e
tentar entender o que dizem, sempre com sérios problemas de pontuação. Já
vi uma de cinco linhas, e as letrinhas, Ó, o tamaninho delas. A tal faixa exclusiva de
ônibus funciona de tal hora a tal hora, mas só depois de uma outra tal hora,
dependendo se se é sábado, domingo ou feriado. Se está quente ou frio, seu
sexo, se gosta de azul ou de vermelho, se tomou café-da-manhã, etc.
Sinceramente, anda difícil fazer tudo
direito. E preciso lembrar que a tal famigerada faixa de ônibus, que você tem
de invadir em alguma hora ou para procurar caminhos ou para poder virar para
onde está indo, custa uma multa de infração gravíssima. Tão sem nexo porque
igual a que tomam aqueles caras que todo dia a gente vê matando ou aleijando as
outras pessoas nas ruas, atropeladas, ou porque estão bêbados e resolveram
barbarizar.
Não tem como não fazer um paralelo com o
momento que vivemos, essa confusão sem precedentes e que parece um buraco sem
fim. É o vai não vai, o não-anda-nem-sai-da-frente, lombadas, obstáculos,
desvios, guinadas mal sinalizadas que nos pegam desprevenidos.
Estradas que não dão em nada, pontes que não
ligam nada a lugar algum. Ruas sem saída. Rotatórias que nos fazem ficar
girando em torno do mesmo assunto, como se outros caminhos nos fossem
bloqueados.
Sem direção e congestionados, com duas
dezenas de candidatos que se atropelam e que não sinalizam para onde querem nos
conduzir, entre eles alguns veículos bem antigos e ultrapassados que já pararam
e nos deixaram na mão várias vezes quando mais precisávamos.
Precisamos urgente rever nossas orientações,
nossas placas. Que sejam escritas em bom português. Fora. Chega. Não. Já vai
tarde. Não somos idiotas. Parem. Cuidado com nossas crianças. É hora de mãos à
obra mais à frente.
Que não nos multem mais por seus próprios
erros e omissões.
Marli Gonçalves -
jornalista – a
minha predileta é “É Proibido Proibir”. Muito boa
para agora, essa época de Carnaval com tudo.
Brasil, desorientado, 2018
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