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Você já deve ter ouvido falar que a igualdade de
gênero no mundo, pelo menos no que diz respeito à remuneração de homens e
mulheres que ocupam o mesmo cargo, só acontecerá em 2095 (segundo dados do
Fórum Econômico Mundial). Não gosto dessa "realidade" numérica, pois
ela engessa tomadas de decisão. Afinal, em 2095 estaremos (quase) todos mortos.
O que mais me preocupa é um outro índice do FEM,
segundo o qual, o Brasil ocupa o 124º lugar,
entre 142 países, no ranking de igualdade de salários. Atualmente, estamos na
penúltima posição nas Américas, à frente apenas do Chile. Por aqui, as mulheres
recebem, em média, 74% da remuneração dos homens, de acordo com a mais recente
pesquisa da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios).
Digo que isso me preocupa porque esse é um desafio
de muito fácil resolução. Simples de verdade. Basta às empresas fazer o
correto: pagar o mesmo a homens e mulheres que cumprem as mesmas funções dentro
da organização.
Estou há cerca de seis anos no PayPal Brasil.
Durante esse período, trabalhei muito, me foram confiadas diversas
responsabilidades, enfrentei grandes desafios e tive dois filhos - o segundo há
pouco mais de seis meses. Pouco depois de retornar de minha licença maternidade,
de volta ao dia a dia de executiva que é uma das razões da minha vida, fui
alçada ao cargo mais alto da companhia no País.
O que isso demonstra? Que mulheres são tão
competentes quanto os homens, tão qualificadas, tão importantes dentro do
organograma de qualquer empresa e devem ser tratadas como tal.
Segundo os últimos dados do IBGE, nós respondemos, atualmente, por 43,8% da
força de trabalho no Brasil. Mas nossa participação vai caindo conforme o nível
hierárquico sobe. As mulheres representam somente 37% dos cargos de direção e
gerência nas empresas nacionais. E lá no topo, nos comitês executivos das
grandes empresas, não chegamos aos 10%.
Se
levarmos em consideração uma
outra medição recente do Pnad, sobre escolaridade, esse gap fica ainda mais inexplicável.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, das mulheres ocupadas com 16 anos ou mais de idade, 18,8% têm ensino
superior completo, enquanto que, entre os homens na mesma categoria, esse
percentual é de 11%.
E mais: a escolaridade das mulheres é maior também
na esfera profissional. Elas são maioria nos cursos de qualificação de mão de
obra, de acordo com estudo do Plano Nacional de Qualificação, do Ministério do
Trabalho e Previdência Social (MTPS). Os números não mentem: de 2003 a 2012, do
1,8 milhão de alunos e alunas dos cursos de qualificação, 713 mil eram
mulheres, ou seja, mais de 60% do total.
Por isso, quando alguém vem a
público para relembrar a "realidade" do Forum Econômico Mundial, de
que, mantidas as atuais condições de temperatura e
pressão, mulheres e homens terão salários iguais em 2095, eu logo penso:
"2095? Nem pensar! Vamos continuar trabalhando pela igualdade
já!".
Paula Paschoal - diretora geral do PayPal Brasil
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