"Os dias eram assim", mudaram
radicalmente, mas podem ser muito melhores
Os avanços científicos aliados a políticas públicas bem-sucedidas afastaram o brasileiro da sentença de morte que a Aids representou no país (e no mundo) pela década de 1980, quadro que foi muito bem retratado na série “Os Dias Eram Assim” com o drama interpretado pela atriz Julia Dalavia.
Mas
se hoje a perspectiva de uma pessoa infectada pelo HIV é radicalmente
diferente, há dois pontos que também precisam ser lembrados para um efetivo
enfrentamento da doença: continuamos
sim sob o impacto de uma epidemia e não existe ainda vacina, tampouco cura,
logo o convívio com o vírus cobra cuidados regulares e contínuos.
Objetivamente,
a cada 15 minutos ocorre uma infecção pelo HIV no Brasil. Ao ano, portanto, são
ao redor de 35 mil novos casos. E embora existam grupos populacionais sob maior
vulnerabilidade, padrões culturais e comportamentais trataram de aproximar
qualquer indivíduo ao risco, independente de gênero e orientação sexual.
Basta
ver a razão matemática de ocorrências entre homens e mulheres ao longo da história.
Pelo início da epidemia, eram sete casos masculinos para um feminino. Em 2015,
essa divisão cai para três a cada uma, sendo que dez anos antes, havia um
empate técnico (1,2:1).
Ainda
que o Brasil tenha resultados expressivos na perseguição da meta 90-90-90
instituída pela UNAIDS para contribuir com o fim da epidemia (90% de
diagnosticados, 90% em tratamento e 90% com supressão viral), há desafios
relevantes por superar.
Do
universo de 827 mil pessoas vivendo com o HIV no país, 112 mil não foram ainda diagnosticadas,
logo desconhecem sua condição, e metade (417 mil) não tem a carga viral
suprimida, situações que favorecem a circulação do vírus.
Já
quanto ao segundo ponto a ser lembrado, este relativo ao aspecto terapêutico,
cabe observar que, de fato, foi-se o tempo no qual a ciência objetivava somente
prolongar a sobrevida do paciente. Agora, a busca em pesquisa e desenvolvimento
para tratamentos é prover cada vez mais qualidade de vida aos pacientes, tanto
facilitando sua adesão com posologias confortáveis, reduzindo a possibilidade
de eventos adversos, como melhorando a eficácia das formulações na supressão
viral.
Mas
para que todas as evoluções obtidas pela ciência se traduzam em uma vida comum,
possibilitando planos diversos, como a paternidade ou maternidade, é inegável
que o paciente vivendo com o HIV precisa seguir uma rotina de cuidados e
vigilância permanentes. E ainda possivelmente enfrentará o estigma e
preconceito infelizmente ainda associados a essa condição.
Conhecimento
e entendimento acerca dessas realidades são fundamentais porque mantém nossos
pés firmes no chão, de modo a estimularmos um comportamento pautado pela
segurança, sempre. A base de suporte nessa direção existe: sabe-se muito hoje
sobre o HIV/Aids e existe uma estratégia preventiva como política pública que
combina diversos métodos complementares para bloqueio de novos casos. O desafio
é manter todos os atores dessa trama engajados e conscientes porque se os dias
já são diferentes, podem ser muito melhores.
Anita Campos - diretora médica da Gilead Sciences na América do Sul
Fonte: http://unaids.org.br/estatisticas/
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