Há anos venho discutindo o contexto da
publicidade infantil na sociedade em que vivemos. Até que ponto a publicidade é
realmente a responsável por hábitos de consumo? Até que ponto ela determina os
desejos de crianças e jovens?
Tenho convicção que não existe resposta
definitiva a essas perguntas. Há estudos recentes, realizados pela USP, por
exemplo que contradizem aqueles mais antigos.
E porque, depois de uma década debatendo o
assunto, não chegamos num modelo que satisfaça as partes? Simplesmente porque
as discussões que se travam são sempre polarizadas. Depois de anos de reflexões
e estudos, percebo que qualquer extremo é um grande equívoco e prejudica
muitíssimo o debate.
Bato nessa tecla há muito tempo. Porque temos
que ser extremistas? E, se você vai me dizer que quando se trata de proteger as
crianças, devemos ir aos extremos, tenho que te dizer que, com todo respeito,
você não entende de crianças e nem do mundo em que vivemos.
Se cada criança é um indivíduo único e vive
em uma realidade única, como podemos dizer que a recepção de mensagens
midiáticas pode “bater” da mesma maneira para todas as crianças?
Tenho dois filhos e duas netas. Nada do que
foi aplicado individualmente a qualquer um deles, pôde ser replicado da mesma
forma aos demais. Cada um necessitou e necessita de uma abordagem diferente no
momento de uma conversa. Cada um deles sente o mundo e o percebe à sua maneira.
Como podemos avaliar o conteúdo infantil pelo
prisma adulto? A visão infantil deve ser avaliada desta maneira? Não vejo como
algo coerente ou justo. Quem convive verdadeiramente com uma criança, sabe que
elas são surpreendentes. Fazem caminhos que muitas vezes nós adultos
desconsideramos.
Eu realmente não acredito que a publicidade
seja a vilã do consumismo infantil. Acreditar que a proibição da publicidade
vai proteger a criança de alimentar desejos de consumo é leviano. Desconsidera
o que mais pesa na formação do indivíduo: o exemplo. A criança é espelho e
esponja. A mensagem midiática se sobrepõe ao contexto social e familiar? No que
você acredita?
Eu acredito verdadeiramente numa posição
equilibrada em relação a esse tema. Acredito na eficácia da classificação
indicativa, em políticas públicas de educação e em regras claras para a
publicidade. Mas eu realmente não acredito num mundo de extremos. Eu não acho
que calar a voz de um mercado seja justo nem tampouco ético.
A polarização é uma violência contra as
ideias e contra a reflexão. Polarizar é julgar, violentar e agredir. A
polarização significa que ninguém escuta ninguém. E eu não vejo onde podemos
chegar desta maneira. Eu não vejo ganhos para lado algum nesse formato de
debate.
A verdade jamais estará nos extremos, nas
pontas de nenhum debate. A virtude está no equilíbrio dessas verdades, na
conciliação. Na união para o bem comum. Essa é a minha verdade. É nisso que eu
acredito e pelo que vou batalhar até o fim. Vamos juntos?
Marici Ferreira - presidente da ABRAL – Associação Brasileira de Licenciamento
e diretora de redação das revistas Zero à Três e Espaço Brinquedo,
especializadas no segmento infantil.
Abral
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