Com o aumento de
casos de depressão e ansiedade em adolescentes, pesquisa conduzida pelo
Instituto Vita Alere fala sobre a relação entre o uso de telas e a saúde mental
de jovens e adolescentes
Uma pesquisa de 2022 apontou que os brasileiros são
os segundos maiores usuários das telas, “perdendo” apenas para os filipinos.
Diariamente gastamos cerca de 3h40 em frente às telas, quase sempre dos
smartphones. Um dado alarmante que acompanhou a pesquisa: a faixa etária que
mais usa as mídias sociais online e plataformas de entretenimento são jovens
com idade variando entre 16 e 24 anos. Outra pesquisa, essa com foco no
comportamento digital de jovens, apontou que 93% dos brasileiros com idade
entre 9 e 17 usam a internet constantemente e que houve um crescimento de 89%
no uso da internet por esse mesmo público com relação aos dados de 2019, data
em que foi feita a pesquisa anterior. E qual é o impacto desses números na vida
fora das telas?
Dra Karen Scavacini, fundadora do Instituto Vita
Alere de Prevenção e Posvenção do suicídio fala sobre o tema: “O contexto
do confinamento trazido pela pandemia da Covid-19 fez com que jovens e
adolescentes passassem ainda mais tempo em frente às telas. Parte das escolas
transformou o ambiente escolar em digital e o convívio possível além do horário
escolar também era em um contexto online. Isso intensificou ainda mais a
relação entre jovens e seus smartphones, um hábito que seguiu mesmo no cenário
pós-pandemia e com a retomada dos compromissos presenciais”.
O uso exagerado das telas pode impactar a saúde
mental. Um estudo conduzido pelo Instituto Vita Alere, fundado por Karen,
apontou que a alimentação, o sono, a prática de atividade física, além dos
relacionamentos interpessoais são fatores de proteção à manutenção da boa
saúde. “Muito tempo online faz com que os jovens (e adultos também, importante
dizer) sejam mais sedentários, se alimentem de maneira menos saudável-
priorizando o que é “mais rápido” como industrializados e ultraprocessados e
durmam menos. Todos esses fatores são fundamentais na saúde física e na mental
e carecem de maior atenção dos pais ou responsáveis”, continua Dra
Karen.
É importante dizer que o uso excessivo das telas
pode trazer impactos sérios à saúde mental da população em geral, mas
especialmente aos jovens e adolescentes. Parte disso se deve ao amadurecimento
neurológico, algo que ainda está em desenvolvimento nos jovens e a outra parte
está na questão do acesso ao conteúdo, em muitas ocasiões sem o controle dos
pais ou responsáveis. “Há quem acredite que seu filho está seguro por
estar dentro de seu quarto. Grande engano. Um adolescente sozinho em seu quarto
com um smartphone sem controle pode ter acesso a conteúdos que não teria em sua
realidade off-line”, explica Karen. Para além do tempo de uso, a forma
de uso, o conteúdo consumido e a presença de alguma vulnerabilidade prévia do adolescente
deve ser levada em conta. “O uso ativo ou passivo, recreativo ou não
recreativo, social ou acadêmico, bem como o uso concomitante de várias telas, o
consumo de conteúdo que pode ser prejudicial, a presença de violências online
são aspectos importantes ao analisar e balancear os riscos e benefícios no uso.
São questões que se correlacionam”, diz a psicóloga.
O estudo publicado pelo Instituto Vita Alere revela
que o uso excessivo de smartphones pode, sim, influenciar na saúde mental e até
na mudança de comportamento de jovens e adolescentes, especialmente daqueles
que consomem conteúdo que os faça sentir mal. “O uso de mídias sociais sem
orientação ou conscientização, combinado com o uso excessivo de dispositivos
móveis e tempo de exposição às telas podem ser relacionados a comportamentos de
autoagressão, sintomas depressivos e de ansiedade, estresse, baixa satisfação
com a vida e baixa autoestima, daí a necessidade dos responsáveis conversarem a
respeito do uso dos smartphones e, mais do que isso, terem limites claros que
façam sentido dentro daquele contexto familiar, conheçam como funcionam as
redes e plataformas e o conteúdo consumido”, continua Karen.
A saúde mental é complexa e por isso não se deve
"culpar" somente o uso da tecnologia. “É preciso diálogo - muitas
vezes não apenas uma conversa única - para que compreendam qual a forma
saudável de uso e como ter limites. Alguns pais ou responsáveis não o fazem por
falta de orientação e é por isso que nós também trabalhamos para ajudar e
educar os pais com relação ao mundo digital. Muitos pais também precisam
aprender como lidar com o avançar da tecnologia - embora não devamos
colocar toda a responsabilidade da educação e segurança digital nos pais”,
fala Karen, que continua: “Também é importante salientar que os mais novos
também aprendem pelo exemplo e precisamos nós mesmos controlar o nosso tempo de
acesso aos smartphones”.
Para auxiliar na orientação aos pais, responsáveis
e educadores, o Instituto Vita Alere lançou recentemente a cartilha “Tempo de
Tela e Adolescentes - Encontrando o Equilíbrio”. Disponibilizada gratuitamente
no site do Centro de Pesquisa e Inovação do Instituto (www.vitaleere.com.br/cip) a cartilha reúne em 36 páginas conteúdos que informam, educam e
auxiliam pais e professores na condução da melhor relação entre o jovem e o
ambiente digital.
Sobre a iniciativa, fala Karen Scavacini: “Não podemos nos esquivar do mundo digital porque ele influencia diretamente o que acontece no offline. A revolução digital veio para ficar e, por isso, é preciso aprender como lidar com ela. A cartilha foi escrita como forma não só de educar, mas acolher pais e educadores que seguem na busca do equilíbrio saudável entre a vida dentro e fora das telas”.
Dra Karen Scavacini - idealizadora, cofundadora, coordenadora e responsável técnica do Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio. Formada em psicologia, Karen é doutora em "Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano" pela USP e mestre em "Saúde Pública na área de Promoção de Saúde Mental e Prevenção ao Suicídio" pelo Karolinska Institutet, localizado na Suécia. É representante do Brasil no IASP (International Association for Suicide Prevention), membro da American Association for Suicide Prevention, nos Estados Unidos; do LIFE (Living is for Everyone), na Austrália; do Global Mental health Action Network (GMHAN), e do Global Psychology Network, além de autora de um livro que auxilia pais e educadores a conversarem sobre suicídio, "E agora? - Um livro para crianças lidando com o luto por suicídio". Além disso, é membro do "SSI Advisory Commitee" do Facebook e grupo Meta.Palestrante, Dra Karen participou de eventos nacional e internacionais falando sobre a importância de se falar sobre saúde mental, prevenção e posvenção do suicídio. Entre os eventos participantes estão o Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sirio Libanês, o IPQ USP - Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e a Faculdade Getúlio Vargas (FGV).
Instituto Vita Alere