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sábado, 25 de maio de 2024

Ansiedade em adolescentes: a culpa é do celular?

Com o aumento de casos de depressão e ansiedade em adolescentes, pesquisa conduzida pelo Instituto Vita Alere fala sobre a relação entre o uso de telas e a saúde mental de jovens e adolescentes


Uma pesquisa de 2022 apontou que os brasileiros são os segundos maiores usuários das telas, “perdendo” apenas para os filipinos. Diariamente gastamos cerca de 3h40 em frente às telas, quase sempre dos smartphones. Um dado alarmante que acompanhou a pesquisa: a faixa etária que mais usa as mídias sociais online e plataformas de entretenimento são jovens com idade variando entre 16 e 24 anos. Outra pesquisa, essa com foco no comportamento digital de jovens, apontou que 93% dos brasileiros com idade entre 9 e 17 usam a internet constantemente e que houve um crescimento de 89% no uso da internet por esse mesmo público com relação aos dados de 2019, data em que foi feita a pesquisa anterior. E qual é o impacto desses números na vida fora das telas? 

Dra Karen Scavacini, fundadora do Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do suicídio fala sobre o tema: “O contexto do confinamento trazido pela pandemia da Covid-19 fez com que jovens e adolescentes passassem ainda mais tempo em frente às telas. Parte das escolas transformou o ambiente escolar em digital e o convívio possível além do horário escolar também era em um contexto online. Isso intensificou ainda mais a relação entre jovens e seus smartphones, um hábito que seguiu mesmo no cenário pós-pandemia e com a retomada dos compromissos presenciais”.

O uso exagerado das telas pode impactar a saúde mental. Um estudo conduzido pelo Instituto Vita Alere, fundado por Karen, apontou que a alimentação, o sono, a prática de atividade física, além dos relacionamentos interpessoais são fatores de proteção à manutenção da boa saúde. “Muito tempo online faz com que os jovens (e adultos também, importante dizer) sejam mais sedentários, se alimentem de maneira menos saudável- priorizando o que é “mais rápido” como industrializados e ultraprocessados e durmam menos. Todos esses fatores são fundamentais na saúde física e na mental e carecem de maior atenção dos pais ou responsáveis”, continua Dra Karen.

É importante dizer que o uso excessivo das telas pode trazer impactos sérios à saúde mental da população em geral, mas especialmente aos jovens e adolescentes. Parte disso se deve ao amadurecimento neurológico, algo que ainda está em desenvolvimento nos jovens e a outra parte está na questão do acesso ao conteúdo, em muitas ocasiões sem o controle dos pais ou responsáveis. “Há quem acredite que seu filho está seguro por estar dentro de seu quarto. Grande engano. Um adolescente sozinho em seu quarto com um smartphone sem controle pode ter acesso a conteúdos que não teria em sua realidade off-line”, explica Karen. Para além do tempo de uso, a forma de uso, o conteúdo consumido e a presença de alguma vulnerabilidade prévia do adolescente deve ser levada em conta. “O uso ativo ou passivo, recreativo ou não recreativo, social ou acadêmico, bem como o uso concomitante de várias telas, o consumo de conteúdo que pode ser prejudicial, a presença de violências online são aspectos importantes ao analisar e balancear os riscos e benefícios no uso. São questões que se correlacionam”, diz a psicóloga.

O estudo publicado pelo Instituto Vita Alere revela que o uso excessivo de smartphones pode, sim, influenciar na saúde mental e até na mudança de comportamento de jovens e adolescentes, especialmente daqueles que consomem conteúdo que os faça sentir mal. “O uso de mídias sociais sem orientação ou conscientização, combinado com o uso excessivo de dispositivos móveis e tempo de exposição às telas podem ser relacionados a comportamentos de autoagressão, sintomas depressivos e de ansiedade, estresse, baixa satisfação com a vida e baixa autoestima, daí a necessidade dos responsáveis conversarem a respeito do uso dos smartphones e, mais do que isso, terem limites claros que façam sentido dentro daquele contexto familiar, conheçam como funcionam as redes e plataformas e o conteúdo consumido”, continua Karen.

A saúde mental é complexa e por isso não se deve "culpar" somente o uso da tecnologia. “É preciso diálogo - muitas vezes não apenas uma conversa única - para que compreendam qual a forma saudável de uso e como ter limites. Alguns pais ou responsáveis não o fazem por falta de orientação e é por isso que nós também trabalhamos para ajudar e educar os pais com relação ao mundo digital. Muitos pais também precisam aprender como lidar com o avançar da tecnologia  - embora não devamos colocar toda a responsabilidade da educação e segurança digital nos pais”, fala Karen, que continua: “Também é importante salientar que os mais novos também aprendem pelo exemplo e precisamos nós mesmos controlar o nosso tempo de acesso aos smartphones”.

Para auxiliar na orientação aos pais, responsáveis e educadores, o Instituto Vita Alere lançou recentemente a cartilha “Tempo de Tela e Adolescentes - Encontrando o Equilíbrio”. Disponibilizada gratuitamente no site do Centro de Pesquisa e Inovação do Instituto (www.vitaleere.com.br/cip) a cartilha reúne em 36 páginas conteúdos que informam, educam e auxiliam pais e professores na condução da melhor relação entre o jovem e o ambiente digital. 

Sobre a iniciativa, fala Karen Scavacini: “Não podemos nos esquivar do mundo digital porque ele influencia diretamente o que acontece no offline. A revolução digital veio para ficar e, por isso, é preciso aprender como lidar com ela. A cartilha foi escrita como forma não só de educar, mas acolher pais e educadores que seguem na busca do equilíbrio saudável entre a vida dentro e fora das telas”.




Dra Karen Scavacini - idealizadora, cofundadora, coordenadora e responsável técnica do Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio. Formada em psicologia, Karen é doutora em "Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano" pela USP e mestre em "Saúde Pública na área de Promoção de Saúde Mental e Prevenção ao Suicídio" pelo Karolinska Institutet, localizado na Suécia. É representante do Brasil no IASP (International Association for Suicide Prevention), membro da American Association for Suicide Prevention, nos Estados Unidos; do LIFE (Living is for Everyone), na Austrália; do Global Mental health Action Network (GMHAN), e do Global Psychology Network, além de autora de um livro que auxilia pais e educadores a conversarem sobre suicídio, "E agora? - Um livro para crianças lidando com o luto por suicídio". Além disso, é membro do "SSI Advisory Commitee" do Facebook e grupo Meta.Palestrante, Dra Karen participou de eventos nacional e internacionais falando sobre a importância de se falar sobre saúde mental, prevenção e posvenção do suicídio. Entre os eventos participantes estão o Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sirio Libanês, o IPQ USP - Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e a Faculdade Getúlio Vargas (FGV).


Instituto Vita Alere

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