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terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Transações de usados têm queda de 4,07% em novembro

 No ano, no entanto, volume de trocas de titularidade apresenta crescimento de 24,79%.

 

Segundo dados da FENABRAVE – Federação Nacional da Distribuição de Veículo Automotores, as transações de veículos usados fecharam novembro com retração de 4,07%, na comparação com o mês de outubro, e queda de 17,20% sobre novembro de 2020. Este é o terceiro mês consecutivo com diminuição no volume de trocas de titularidade. No ano, no entanto, o resultado apresenta crescimento de 24,79% sobre o acumulado de 2020, com um total de 13.932.777 transações.

“O resultado do acumulado do ano mostra que as vendas de usados ainda estão aquecidas. É natural que, aos poucos, o mercado vá se reequilibrando e apresente certa volatilidade nas transações, inclusive em função da retomada gradativa do abastecimento de veículos novos. Até porque ainda persiste a baixa oferta de alguns modelos mais demandados”, explica Alarico Assumpção Júnior, Presidente da FENABRAVE.

Entre os Automóveis e Comerciais Leves, os modelos com até 3 anos de fabricação corresponderam a 14,19% do total de transações de novembro. No acumulado do ano, estes veículos somam 11,90% do total.

Transações de usados em novembro e no acumulado do ano



Aprender a dialogar é a lição mais urgente na escola e fora dela

O mundo passa por transformações em diferentes âmbitos. No campo do trabalho, as relações e o consumo demandam ações de pessoas que compreendam a sociedade complexa na qual estão inseridas. A educação, importante meio para a formação desses atores sociais, como reza o artigo 205 da Constituição Federal de 1988, deve, necessariamente, visar ao pleno desenvolvimento da pessoa e seu preparo para o exercício da cidadania. 

Dessa forma, cabe à educação formal preparar os jovens para atuarem na sociedade em que vivem local e globalmente. Assim, as informações trabalhadas para geração de conhecimento devem fazer sentido para seus sujeitos, considerando seus contextos, histórias e crenças, estabelecendo um diálogo intercultural, possibilitando a compreensão entre de todos os envolvidos. 

Sem a abertura para esse diálogo em rede, corremos o risco de termos uma população sem conhecimento, ainda que com muito acesso à informação, sem capacidade para construção social, ainda que conectados virtualmente. Havemos de considerar também que, nesta sociedade da informação, o valor está no aprender a aprender, portanto, a pesquisa é o princípio educativo primordial, capaz de selecionar informações fundamentadas, relevantes e passíveis de aplicabilidade, de acordo com as necessidades específicas individuais e coletivas. 

Cabe ao ensino formal  promover o diálogo entre o local e o global, entre o individual e o coletivo, considerando as culturas sem dispensar a compreensão dos procedimentos que produzem o conhecimento científico, fundamentado em evidências práticas e verificáveis, baseadas na observação sistemática e controlada. 

As competências desenvolvidas durante os 13 anos da educação básica necessitam desenvolver a pessoa, o cidadão e o construtor social como um ser único. Por isso, ciência, arte e cultura constituem-se como dimensões intrínsecas no processo educativo; como partes constitutivas da pessoa que vive conforme suas informações, conhecimentos, valores e crenças. Os processos formativos que desconsiderarem uma dessas dimensões correrão o risco do iminente fracasso. 

Aprender a dialogar parece ser a lição mais urgente a se ensinar na escola (e fora dela). Diálogo entre áreas do conhecimento, entre disciplinas, entre gestores, entre gestores e docentes, entre docentes, entre todas essas esferas e estudantes. Talvez, assim meninas e meninos tenham a oportunidade de exercitarem, não só o debate, mas na construção de propostas que considerem todos os envolvidos, investindo, de fato, na constituição de uma sociedade equânime em conhecimento e oportunidades.

Márcia Azevedo - pesquisadora e colaboradora na Universidade Estadual de Campinas – Unicamp. Membro da Cátedra de Educação Básica Alfredo Bosi do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) e Coordenadora Pedagógica no Colégio Espírito Santo (SP).


Dia da Criança Especial: vamos falar sobre autismo infantil?


O dia 09 de dezembro foi instituído como Dia da Criança Especial, com o objetivo de voltar a atenção para as crianças que possuem algum tipo de necessidade especial a fim de melhorar a qualidade de vida e ajudar no seu desenvolvimento, mesmo com todas as suas limitações. 

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 1 bilhão de pessoas tem algum tipo de deficiência no mundo e, uma em cada dez, é criança. No Brasil, 45,6 milhões de pessoas são portadoras de deficiência. Destas, 7,5% são crianças de até 14 anos de idade, segundo o último censo do IBGE, de 2010, ou seja, cerca de 3,5 milhões de crianças. 

Já segundo o CDC (Center of Diseases Control and Prevention), órgão ligado ao governo dos Estados Unidos, uma criança a cada 100 nasce com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). O aumento é grande: há alguns anos, a estimativa era de um caso para cada 500 crianças. Estima-se que 70 milhões de pessoas no mundo tenham TEA, sendo 2 milhões delas no Brasil.

 

Entenda o TEA na infância

Segundo a Dra. Danielle H. Admoni, psiquiatra da Infância e Adolescência na Escola Paulista de Medicina UNIFESP e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria); o diagnóstico começa pela observação do comportamento da criança.  

“O TEA, na realidade, envolve um grupo de doenças do neurodesenvolvimento, de início precoce (antes dos 2-3 anos de idade), e que se caracteriza por dois aspectos principais: dificuldade de interação social e de comunicação. Uma criança neurotípica (que não possui problemas de desenvolvimento neurológico) começa a interagir com outras pessoas em torno dos 4-6 meses de idade”.  

De acordo com a psiquiatra, a criança é capaz de sorrir quando vê alguém conhecido ou reagir com medo se um estranho, por exemplo, tenta pegá-la no colo. A medida que a criança cresce, o amadurecimento permite que a interação com outras pessoas se torne possível antes da aquisição da linguagem e da fala.  

Ao longo dos primeiros anos de vida, estas evoluções indicam o progressivo aumento da capacidade de interação social da criança. Já aquela com TEA se mostra indiferente à interação social e não expressa a reciprocidade no contato com outras pessoas. Tem grande dificuldade na comunicação verbal e não verbal, e parece desligada do ambiente em torno de si. A linguagem corporal e o contato visual com outras pessoas se mostram prejudicados.  

“Numa idade maior, o desinteresse em brincar com outras crianças é ainda mais nítido. Normalmente, ela se isola e se fixa em uma única atividade, com ritualização de movimentos repetitivos. Outra característica é a dificuldade de seguir rotinas, além de apresentar hipo ou hiperatividade aos estímulos sensoriais”, reforça Danielle Admoni.

 

Tratamento

O acompanhamento multidisciplinar é fundamental, envolvendo psicólogo, pediatra, psiquiatra, fonoaudiólogo, neurologista, entre outros especialistas. Medicamentos são utilizados quando há outros sintomas associados, como ansiedade, TDAH, depressão, transtorno obsessivo compulsivo, agitação, irritabilidade, distúrbios do sono, entre outros. Para cada situação, há uma medicação específica.  

Em relação aos efeitos colaterais, a psiquiatra explica que depende do medicamento e da dose ministrada. “Como são vários remédios de classes terapêuticas diferentes, fica difícil generalizar os efeitos colaterais. Também há indicação de psicofármacos para casos mais leves”.

 

Inclusão: o maior desafio

Por lei, pelo Plano Nacional de Educação (PNE), o Brasil deve incluir todos os estudantes de 4 a 17 anos na escola. Os estudantes com necessidades especiais devem ser matriculados preferencialmente em classes comuns. Para isso, o Brasil deve garantir todo o sistema educacional inclusivo, salas de recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou conveniados. 

O assunto, já abordado exaustivamente, diz respeito à inclusão social de crianças com deficiências físicas e intelectuais. A proposta educacional é oferecer educação de qualidade para todos, sem discriminação, incentivando os alunos especiais a frequentarem as mesmas escolas que as demais crianças.  

Entre 2014 a 2018, o número de matrículas de estudantes com necessidades especiais cresceu 33,2% em todo o país, segundo dados do Censo Escolar divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). No mesmo período, também aumentou de 87,1% para 92,1% o percentual daqueles que estão incluídos em classes comuns. 

Em 2014, eram 886.815 os alunos com deficiência, altas habilidades e transtornos globais do desenvolvimento matriculados nas escolas brasileiras. Esse número tem aumentado ano a ano. Entre 2017 e 2018, houve aumento de aproximadamente 10,8% nas matrículas. Em 2018, chegou a cerca de 1,2 milhão. 

“A proposta da inclusão é que as crianças com TEA se beneficiem com este convívio. Afinal, todas têm algo a aprender e ensinar, independentemente do nível intelectual e social. Com esta experiência, as crianças neurotípicas tendem a crescer sem preconceitos e com uma noção mais ampla sobre a realidade da vida. Dar às crianças essa oportunidade é oferecer ao mundo futuros cidadãos que saberão o real significado de respeito, empatia, responsabilidade e compreensão sobre ser diferente”, finaliza Danielle Admoni.


Jovens têm até sexta-feira (10) para se inscreverem em 5 mil vagas de cursos de qualificação profissional, com bolsa de R﹩ 569

 Programa Bolsa Jovem da Prefeitura de São Paulo está com inscrições prorrogadas. Iniciativa é voltadas a pessoas em vulnerabilidade social, entre 16 e 20 anos, que estudem na rede municipal de ensino

 

A Prefeitura de São Paulo prorroga até o dia 10 de dezembro, às 18h, inscrições para o Bolsa Jovem, programa que terá 5 mil vagas de qualificação profissional com bolsa-auxílio no valor de R 569,25 para jovens com idades entre 16 e 20 anos. A iniciativa é voltada a alunos da rede municipal de ensino, que estejam no nível médio ou no CIEJA - Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos.

O Bolsa Jovem tem como objetivo evitar a evasão escolar e preparar este grupo para o primeiro emprego ou recolocação profissional, com atividades que serão desenvolvidas no formato on-line na área administrativa. As inscrições ocorrem pelo Portal Cate.

Serão investidos mais de R 17 milhões para pagamento de bolsa-auxílio e contratação de oficineiros, que irão atuar como mentores e tutores dos alunos. O jovem selecionado terá a chance de se preparar para o mercado de trabalho com diversas ferramentas que o capacite para habilidades técnicas e socioemocionais para desenvolver performance adequada em processos seletivos e manutenção da vaga ao conquistarem uma oportunidade de emprego ou no empreendedorismo.

Para essa formação, o programa Bolsa Jovem contará com tutores e mentores que irão auxiliar os beneficiários em temas como opções de carreiras; desenvolvimento do seu potencial; autoconhecimento; relacionamento no ambiente de trabalho; entre outros. O pagamento da bolsa-auxílio no valor de R 569,25, será condicionado à comprovação de pelo menos 85% de frequência nas atividades oferecidas pelo projeto.

Os selecionados terão contato com conteúdo da área de Administração de Empresas, em segmentos de finanças, marketing, logística e recursos humanos. As aulas serão realizadas pelo Portal Cate com conteúdo autoinstrucional, ou seja, o aluno faz a gestão das aulas assistidas, podendo rever as atividades gravadas, quantas vezes necessitar. Os alunos receberão uma senha exclusiva da plataforma para ser direcionado ao ambiente do curso, que contará com módulos liberados periodicamente. Além do conteúdo programado, os alunos ainda receberão reforço escolar em Português e Matemática e orientações de tutores e mentores, uma vez por semana, em aulas ao vivo por duas horas. O projeto tem duração de seis meses, com carga horária de, no mínimo, 60 horas mensais.


Critérios para ingressar no Bolsa Jovem

Para participar, o jovem precisa atender aos critérios do programa como ter entre 16 e 20 anos no ato da inscrição, estar matriculada na rede municipal de ensino, no nível médio ou no CIEJA, estar desempregado, sem receber benefícios como seguro-desemprego, pertencer a famílias com renda per capita igual ou inferior a meio salário mínimo e residir no município de São Paulo. A iniciativa inclusiva ofertará 10% das vagas destinadas a jovens autodeclarados LGBTI, 6% para jovens com deficiência e 6% para jovens imigrantes e/ou refugiados.

As inscrições serão feitas on-line pelo Portal Cate e os pré-aprovados serão comunicados por SMS e e-mail para comparecer ao Cate - Centro de Apoio ao Trabalho e Empreendedorismo, das 8h às 17h com documentos como RG, CPF, Carteira de Trabalho, comprovante de residência e declaração de matrícula ou histórico escolar da rede municipal de ensino, além de cópia simples de cada. Os menores de 18 anos devem comparecer às unidades do Cate acompanhados de um adulto responsável.

Os inscritos que forem pré-selecionados deverão assinar um termo de compromisso e responsabilidade nas unidades do Cate e no local receberão orientação sobre o Portal Cate.


Serviço

Inscrições para o programa Bolsa Jovem

Dias: até 10 de dezembro, 17h.

Portal Cate


COP26 e os desafios para a COP27

Recentemente, quase 200 países concluíram a rodada de reuniões da COP26, em Glasgow. Esse encontro corresponde ao órgão supremo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), que se reúne para revisar periodicamente as obrigações das partes e sugerir emendas e protocolos.Tradicionalmente, as convenções que envolvem temas ambientais são caracterizadas por normas soft law, isto é, sem meios coercitivos para obrigar as partes a executarem seus compromissos.

A proposta das chamadas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), que surgiram no âmbito do Acordo de Paris, e foram revisadas na COP26, representa manifestações de intenções;  espera-se esforços por parte dos países para o seu cumprimento.

Como não há outra forma de obter os resultados das NDCs, é necessário que os países signatários, ao apresentarem suas metas, enviem esforços para o seu cumprimento, o que inclui a edição de novas regulamentações internas, estabelecimento de incentivos financeiros, dentre outros.

As novas metas anunciadas na COP26 pelo Brasil de redução de 50% das emissões até 2030 e neutralização até 2050 estão de acordo com os dois projetos de lei recentemente aprovados pelo Plenário do Senado Federal (PL1.539/21 e 6.539/19), e enviados à Câmara.

Atingir as metas é possível, pois elas são fixadas a partir da análise de dados dos Inventários Nacionais de Emissão e Remoção de Gases de Efeito Estufa, documentos que vêm sendo elaborados pelo Brasil, com registro de série histórica de 1990 a 2016, em cinco setores: energia, processos industriais, agropecuária, LULUCF e resíduos.

A análise desses dados revela que o único setor com potencial para remover as emissões de gases de efeito estufa da atmosfera é o LULUCF (sigla em inglês para uso da terra, mudança do uso da terra e florestas). A soma desse período entre 1990 e 2016, consolidado no Inventário Nacional, revela que a emissão líquida total do Brasil foi de 34.916.316 Gg toneladas de CO2. 

Desse total, 28.111.824 Gg toneladas de CO2, ou seja, 81% das emissões, se referem à soma do subitem "Áreas Convertidas em Pastagem". Se essa conversão não tivesse existido ao longo dos anos, a emissão líquida do Brasil não seria de 34.9 milhões e sim de 6.8 milhões de Gg toneladas de CO2.

A remoção de GEE que o Brasil conseguiu contabilizar no subitem Florestas, permanecendo como Florestas = 7.348.618 Gg ton. de CO2, não impactou de forma significativa em razão das áreas de florestas convertidas em pastagens.

Como acelerar o cumprimento das NDCs antes da COP27?

Publicar a metodologia do processo de criação e de emissão de títulos de direito ao crédito de carbono para manter a floresta em pé e colocar o título em circulação no mercado, de forma que os proprietários de terras com florestas públicas e privadas recebam pela sua manutenção e aumento do estoque de carbono.

Publicar a Estratégia da Polícia Judiciária e do Sistema de Justiça para coibir o crime de desmatamento da floresta, previsto no art. 50-A da Lei 9.605/1998, com valoração do dano climático, e coibir com eficácia a exportação ilegal dos produtos.

Enfim, para atingir os objetivos de redução de GEE e recuperação das condições climáticas é preciso um engajamento maior, não só dos estados e municípios, mas também de toda a sociedade. Isso implica na adoção de ações e sistemas inter-relacionados que só serão possíveis com ações em múltiplas frentes.

 


Maria Tereza Uille Gomes - doutora em Sociologia e professora do Mestrado em Direito da Universidade Positivo. 


Clarissa B. Wandscheer - doutora em Direito Econômico e Socioambiental e professora do programa de mestrado e doutorado em Gestão Ambiental e do Mestrado em Direito da Universidade Positivo.

 

PL deve aumentar ITR sobre propriedades rurais, alerta Bueno, Mesquita Advogados

Na avaliação do escritório, proposta que deixa a apuração do imposto a cargo da Receita Federal e do Incra poderá ocasionar grandes distorções de valores entre municípios

 

Produtores rurais e empresas do agronegócio devem se preparar para pagar um valor mais alto do Imposto Territorial Rural (ITR) já a partir do ano que vem caso o Projeto de Lei 454/19 avance na Câmara dos Deputados. Na avaliação do Bueno, Mesquita e Advogados, escritório especializado em Direito Agrário e Ambiental, a proposta de transferir a apuração do imposto para a Receita Federal e o Incra poderá elevar os valores para fins arrecadatórios, gerando insegurança para o setor produtivo.

De autoria do deputado Valmir Assunção (PT), o PL 454 altera o processo de avaliação de terras em todo Brasil. Para tal, determina que o Valor da Terra Nua (VTN), que serve de base para cálculo do imposto, siga o preço de mercado de imóveis rurais a partir de uma tabela com preços médios da terra. Essa tabela, segundo o texto do projeto, seria elaborada, divulgada e atualizada anualmente pela Receita Federal em colaboração com o Incra. Atualmente, a apuração e o pagamento do ITR são efetuados pelo contribuinte de forma autodeclaratória, a exemplo do que ocorre com a Declaração de Imposto de Renda.

O VTN é o valor  da terra considerando características como localização, aptidão agrícola, desenvolvimento da região, questões logísticas, facilidade de escoamento da produção, gastos com funcionários, entre outros atributos nos termos da lei 9.393/96. Atualmente, os produtores consideram o VTN divulgado por cada município para cálculo do imposto. Pela nova proposta, o valor passaria a ser determinado por uma tabela de preços médios por município.

Se preferir, a Receita também poderá fazer convênios com entidades públicas ou privadas para estipular os valores, o que no entendimento da advogada ocasionaria um cenário de insegurança para o contribuinte. “Os valores poderão ser elevados para fins arrecadatórios”, avalia a advogada Mariana da Silva.

Na avaliação do Bueno, Mesquita e Advogados, ainda que a proposta objetive garantir uma padronização dos preços das terras para fins do ITR, o novo formato de apuração pode variar muito de município para município, ocasionando sérias distorções de valores. “Teremos situações em que propriedades de maior valor pagariam menos do que deveriam, e propriedades de menor valor pagariam mais”, explica a advogada.

A proposta ainda estabelece que as informações fornecidas para a apuração do VTN devem corresponder às declaradas no Cadastro Ambiental Rural (CAR) do imóvel, sob pena de aplicação de multas. O Bueno, Mesquita e Advogados reforça que o CAR foi criado para integrar informações ambientais de áreas rurais, compreendendo uma base de dados especialmente para controle de desmatamento. “Vincular o Valor de Terra Nua no CAR representaria um desvio de finalidade da sua criação, colocando em xeque a sua efetividade”, pondera Mariana.

A advogada também observa que, ainda que com auxílio do Incra, a Receita Federal não possui capacidade estrutural para promover a precificação de terras em todos os municípios brasileiros, o que tornaria a proposta inócua e pouco efetiva. 


Copom deve elevar Selic em próxima reunião

Na última ata divulgada, o Comitê de Política Econômica (Copom) do Banco Central afirmou a intenção de aumentar a Selic em 1,50 ponto percentual na próxima reunião prevista para acontecer na próxima semana. O ajuste seria o mesmo que ocorreu na última reunião do Copom. Com isso, a taxa básica de juros chegaria a 9,25%.

O último Boletim Focus divulgado na última segunda (5) também apontou que a taxa de juros deve ser elevada em 1,5 ponto percentual na próxima reunião do Copom e encerrar o ano a 9,25%. Segundo o boletim, a Selic deve ainda chegar a 11,25% no final de 2022.

Para João Beck, economista e sócio da BRA, escritório credenciado da XP Investimentos, o Banco Central deve terminar o ciclo de alta em torno de 11% e ainda devem ocorrer pelo menos próximas três altas consecutivas nas reuniões do COPOM. Mas é fato que o mercado de DI futuro cedeu bastante em novembro.

"A expectativa da taxa Selic deu uma trégua no mês após tantos meses de altas. Com esse alívio de pressão altista, podemos ver uma recuperação nos títulos prefixados e indexados à inflação. Outro ponto que chama a atenção são os níveis depreciados da bolsa brasileira mesmo já considerando o impacto na atividade pelo reflexo no PIB das altas anteriores da taxa Selic", diz.

Segundo Rafael Vianna, Head da mesa de alocação private e sócio da BRA, vale o investidor ficar de olho na renda fixa, que apresenta ativos de pouco risco com alta remuneração.

"Para o investidor, é uma oportunidade de não se expor ao risco em um momento bastante volátil do mercado, conseguindo remunerar bem seus recursos. Com a expectativa de aumento na Selic já precificada na curva de juros longa, os ativos de renda fixa prefixados de médio e longo prazo têm apresentado bastante atratividade para o investidor", afirma.

De acordo com Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos, com a possível elevação da Selic em 1,5%, se o investidor conseguir aplicar em investimentos em que for esperar o vencimento, terá ganhos vantajosos. Quanto maior o prazo, maior também a taxa de remuneração. "Já se o cliente quiser investir em um prazo de no máximo um ano, vale buscar opções em que não há incidência de imposto de renda, como LCIs e LCAs de até 12 meses", diz.

Para prazos mais longos em que o investidor pode esperar o vencimento, vale ficar de olho em investimentos atrelados à inflação. "Por outro lado, há também a opção dos prefixados, mas o risco é as taxas subirem mais e quem comprou antes ficar com a sensação de que perdeu dinheiro. Se o investidor estiver com esse medo, o melhor é ajustar não a taxa, mas sim o prazo optando por um prefixado mais curto, por exemplo", afirma.


Cinco tendências para o futuro do intercâmbio

O setor de intercâmbios foi um dos primeiros e mais impactados pela pandemia. Com fronteiras fechadas e sem previsão de retorno, muitas agências simplesmente quebraram. Mas hoje, com a reabertura de diversos países pelo avanço da vacinação, os planos de viagem estão, finalmente, saindo das gavetas. Novos modelos de negócios estão surgindo nessa retomada, com estratégias disruptivas para trilhar o futuro do setor. Dentro desse contexto, destaco cinco tendências que devem emergir em 2022:


#1 Fim de intermediários: A venda de intercâmbios costuma sempre envolver a presença de uma agência, que atua como uma intermediária entre o estudante e a instituição de ensino. Com a pandemia, essa prática se mostrou insustentável devido aos altos custos e riscos financeiros advindos das operações de câmbio. No futuro, a tendência é a eliminação desses intermediários, sendo a venda dos programas de intercâmbios feitas diretamente em plataformas de marketplace.


#2 Maior segurança: Como consequência direta do fim dos intermediários, as próprias instituições irão assumir o protagonismo dos acordos com os estudantes. Suas plataformas irão direcionar o pagamento dos cursos selecionados diretamente para os responsáveis, assim como transferir a comissão do consultor automaticamente. Assim, os riscos de giro e perda de dinheiro são reduzidos significativamente, aumentando a segurança para as instituições e para os estudantes.


#3 Preços mais atrativos: O novo modelo de negócios baseado na venda direta entre as partes trará preços muito mais atrativos para os alunos. Afinal, a possibilidade de negociar pacotes promocionais, descontos e bolsas será muito maior. Sem ter que dividir seus lucros com as agências, as escolas poderão ofertar preços muito melhores que atualmente.


#4 Maior leque de opções: O desenvolvimento das plataformas online trará um maior leque de opções para os intercambistas, sem que tenham que ficar presos e reféns dos destinos ofertados pelas agências. Basta imaginar o número de instituições de ensino ao redor do mundo e as estratégias que elas irão elaborar para atrair cada vez mais estudantes. No fim, o estudante será o maior beneficiado.


#5 Valorização do consultor: As vendas diretas dos pacotes de intercâmbio também são extremamente benéficas para os consultores, que terão maiores chances de receberem comissões mais atrativas – seja pelo acesso a melhores bonificações ou premiações, por exemplo. A perspectiva é que as comissões tripliquem de valor em relação ao que é praticado atualmente.

Não há mais como pensar em negociar um pacote de intercâmbios nos moldes anteriores à pandemia. Estamos presenciando uma remodelação de todo o mercado, com novas estratégias focadas na retomada econômica. O mundo mudou e, esse mercado, inevitavelmente mudará também.

 


Danilo Veloso - diretor comercial da SEDA College. Formado em administração de empresas, trabalhou por seis anos como camelô até conquistar uma vaga na área de cartão de crédito e conciliação bancária em uma companhia aérea. Após três anos no cargo, deixou a posição para estudar inglês na Irlanda, onde começou a trabalhar em agências de intercâmbio.

 

App de gestão financeira exclusivo para mulheres lança recurso de denúncia contra violência doméstica

PouPay+ disponibiliza um "Violentômetro" a fim de ajudar mulheres a identificar agressões


Uma em cada quatro mulheres sofreu algum tipo de violência doméstica durante a pandemia. São cerca de 17 milhões de vítimas, de acordo com o dado divulgado pelo Instituto Datafolha e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Na luta contra esse crime, a PouPay+, aplicativo de gestão financeira voltado ao público feminino, está lançando um recurso de SOS para que suas usuárias recebam a ajuda necessária.

Em um botão discreto localizado dentro do aplicativo, é possível ter acesso a um guia explicativo sobre o que define a violência doméstica – cujo texto é o mesmo utilizado pela plataforma oficial da Polícia Federal. Disponível em PDF, ele representa um passo a passo para registrar uma ocorrência online de violência doméstica e familiar contra a mulher.

Este design, de acordo com Daniela Petrangelo, gerente de projeto da PouPay+, foi criado justamente como medida protetiva para as vítimas. “Assim, mesmo se seus agressores estiverem por perto ou no controle de seus celulares, não irão desconfiar que um aplicativo voltado para a gestão financeira possua tal ferramenta”.

Uma vez acessado, a conscientização sobre este crime é o primeiro passo nessa luta. “A violência doméstica não é apenas caracterizada pelos atos físicos. Agressões verbais e psicológicas também são crimes extremamente perigosos que causam tantos danos quanto, devendo também ser denunciados”, explica a gerente.

O esclarecimento sobre este crime se torna indispensável para que as mulheres consigam enxergar o tipo de agressão que estão sofrendo. Por isso, o recurso também possui a ferramenta denominada “Violentômetro”, uma lista de 18 classificações com os diferentes níveis de violência que podem sofrer. Dos mais “brandos”, que já mostram sinais claros de perigo, como chantagem, mentira e enganação, aos mais alarmantes, que colocam as vidas das mulheres em risco, como confinar, espancar, ameaçar de morte e utilizar armas.

Com essas informações, as vítimas encontrarão no botão de SOS os números oficiais de emergência para denunciá-los – o número 180 para o ligue denúncia e, o 190 para emergência. Basta clicar no atalho disponível e realizar a chamada direta. “Queremos que elas saibam que o que estão passando não é normal e que está absurdamente errado. Mas que, acima de tudo, elas não estão sozinhas nessa luta”, ressalta Kelly Ortiz, analista de processo do aplicativo.

Prova disso é que, de acordo com as desenvolvedoras, a expectativa é que as usuárias que conseguirem enfrentar seus agressores compartilhem suas histórias dentro do próprio aplicativo. “Queremos trazer diversas mensagens de empoderamento e relatos de superação, como forma de incentivar as vítimas de violência doméstica a denunciarem os crimes e não serem mais reféns destes atos terríveis”, finaliza.

O Poupay+ está disponível para download no Apple Store e Play Store.

 

IR Solidário: Organize seu final do ano e faça uma doação

 Compras, férias e Impostos, confira dicas de como  usar a solidariedade e fazer doações que impactam crianças e adolescentes 


O último mês do ano representa o encerramento de ciclos, é cercado de celebrações, férias escolares e momentos com toda família. Atividades que, se realizadas com planejamento financeiro, podem trazer um pouco mais de tranquilidade e também a oportunidade de praticar a solidariedade, beneficiando quem mais necessita. Até 30 de dezembro, os contribuintes podem destinar até 6% do Imposto de Renda para Organizações Sociais, sem gastar um centavo a mais por isso. 

 

Ao separar um tempo para se organizar financeiramente, você pode fazer o bem e beneficiar diretamente comunidades afetadas pela pandemia. As doações podem ser feitas por aqueles que optam pelo formulário de modelo completo na hora da declaração. A simulação é feita calculando o potencial de doação baseado na declaração do ano anterior. “No cenário atual, com adversidades ainda provocadas pela pandemia, crise econômica, insegurança alimentar, entre outras, é fundamental que os brasileiros saibam que podem destinar seu dinheiro para projetos que proporcionam transformações na vida de muitas pessoas. Esse dinheiro, que já iria para o governo de qualquer maneira, será destinado a uma instituição que ele escolher”, reforça Rodolfo Schneider, gerente de engajamento e mobilização de recursos do Marista Escolas Sociais. 

 

Organização é a palavra de ordem

 

Se organizar financeiramente contribui para que o término do ano aconteça com um pouco mais de tranquilidade. “É comum que as pessoas liguem o Imposto Solidário com o período de declaração nos meses de março a abril, mas é importante lembrar que no final do ano é que atingimos a maior totalidade com o potencial máximo de 6%. Segundo dados da Receita Federal, menos de 3% das pessoas fazem essa destinação”, reforça Schneider. 

 

Para organizar seus gastos e praticar a solidariedade no final do ano. Confira algumas dicas do especialista:

 

Faça orçamento dos presentes


A vontade de sair comprando o primeiro item que você encontra e tem a cara daquele familiar ou amigo é grande, né? Mas nem sempre é a melhor opção. Fazer uma lista com antecedência e conferir os preços tanto em lojas físicas quanto na internet pode garantir uma economia valiosa para o final do ano. 

 

Evite o acúmulo de dívidas  Nem sempre é uma tarefa fácil diante das incertezas econômicas, mas é bom lembrar de, se possível, evitar parcelas longas e a utilização do crédito, caso não tenha meios para pagar as faturas. 


 

Utilize a calculadora online para conferir quanto você pode doar


Além de um ato de solidariedade, a doação de parte do Imposto de Renda faz parte da cidadania. Com a intenção de explicar o passo a passo para efetuar uma doação via Imposto de Renda, o Marista Escolas Sociais, que atende mais de 7 mil crianças, adolescentes e jovens em 19 Escolas e Unidades Sociais localizadas em áreas vulneráveis nos Estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina, disponibilizou informações para apoiar o contribuinte a identificar qual é o seu potencial de doação. Para acessar, a pessoa deve ter o recibo da sua última declaração,checar o valor do seu imposto devido e acessar o site impostosolidario.org.br

Administradoras e moradores devem se preparar para festas de fim de ano

Especialista em Direito Condominial, Rodrigo Karpat dá dicas de como condomínios podem evitar problemas causados no Natal e Ano novo

 

O período de dezembro é o momento mais importante de confraternização do ano. No entanto, ele pode trazer problemas para os administradores de condomínios dado ao excesso de pessoas, aglomerações e diferentes questões pessoais. Segundo o especialista em Direito Condominial e sócio do escritório do Karpat Advogados Associados, Rodrigo Karpat, é possível se antecipar para evitar ou minimizar os conflitos nesta época do ano.

Os condomínios em grandes centros urbanos devem orientar os moradores com relação às viagens de fim de ano. “Se for viajar, deixe as chaves com um familiar e avise o zelador, nunca deixe as chaves na portaria”, recomenda Karpat. E para aqueles que vão deixar o apartamento vazio por um período o ideal é seguir as recomendações abaixo: 

1- Não deixe as janelas abertas, pois os meliantes identificam que o apartamento está vazio com facilidade e você poderá ser alvo de furto;

2- Desligue os eletrodomésticos, tire carregadores da tomada;

3- Certifique-se que o gás esteja fechado;

4- Lembre-se que a guarda da sua unidade é de sua responsabilidade. Reforce as trancas se necessário;

5- Avise o condomínio caso exista alguma limpeza ou serviço previamente agendado, do contrário avise que ninguém está autorizado a ingressar em sua unidade. 

Já os condomínios que irão receber os moradores e visitantes no litoral ou no interior, devem reforçar as regras do Regimento Interno e convenção. Para Karpat, uma opção é “criar regras e/ou dicas transitórias para o bom convívio no final do ano”. 

Para os condomínios que alugam suas unidades, também recomenda-se a utilização de aplicativos específicos, que podem direcionar o negócio para o cliente ideal e ciente das regras do local. Além disso, as recomendações abaixo também podem ser úteis. 

1- Não deixe chaves na portaria;

2- Avise por escrito se a sua unidade for alugada e informe o nome dos ocupantes;

3- Proíba bebidas em áreas comuns;

4- Evite a locação de salões de festas no Natal e Réveillon;

5- Reforce a segurança interna;

6- Ajuste e aprimore o sistema de controle de acesso;

7- Contrate monitores que para crianças, aulas de hidroginástica, estimule futebol, e demais práticas esportivas no condomínio;

8- Reforce o treinamento com os funcionários. 

“Lembrando que a pandemia não acabou e que para a segurança de todos, o ideal é sempre cumprir as regras de distanciamento social e o uso de máscara nas áreas comuns”, finaliza Rodrigo Karpat.


Estudo indica caminhos para transformar lixo em materiais para a indústria avançad

Grupo que envolve cientistas da UFSCar, da Embrapa e colaboradores internacionais mostra que a biomassa descartada de baixo custo pode ser convertida em bioplásticos, produtos eletrônicos, equipamentos para geração, armazenamento e transmissão de energia e outros dispositivos de alto valor agregado (fotos: acervo dos pesquisadores)

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·         Entre 118 e 138 milhões de toneladas de lixo orgânico são geradas anualmente em todo o mundo. Dessas, cerca de 100 milhões de toneladas correspondem a resíduos da cadeia de produção e distribuição de alimentos. Apenas 25% do montante é reaproveitado. Os outros 75% são simplesmente “jogados fora”, configurando um grande desperdício de recursos potenciais e um enorme impacto para o meio ambiente.

Esses números foram apresentados num relatório publicado em 2018 pela European Environment Agency. Embora constituam a mais recente tentativa de totalização disponível, estão provavelmente subestimados, pois correspondem a uma base de dados de 2011.

Transformar resíduos em recursos – ou, como dizem os norte-americanos, transitar from trash to cash (do lixo ao dinheiro) – é um dos vetores da chamada economia circular. Quando esses resíduos são advindos da biomassa, caracteriza-se a bioeconomia circular. O tema foi explorado em estudo recente publicado na revista Advanced Materials, no artigo The Food–Materials Nexus: Next Generation Bioplastics and Advanced Materials from Agri-Food Residues, tendo sido inclusive destacado na contracapa da revista – uma das de maior impacto na área.

“Nós, que já enxergamos diferentes tipos de resíduos como matéria-prima há mais de uma década, fizemos uma revisão crítica de toda a literatura e reposicionamos o estado da arte nas estratégias para transformar perdas e desperdícios agroalimentares em bioplásticos e materiais avançados. Procuramos, mas não encontramos argumentos para não fazê-lo. É um ganha-ganha”, diz Caio Gomide Otoni, professor do Departamento de Engenharia de Materiais da Universidade Federal de São Carlos (DEMa-UFSCar), idealizador do grupo maTREErials e primeiro autor do artigo.

Como alternativa às modalidades mais rústicas e ambientalmente duvidosas de aproveitamento dos resíduos agroindustriais, como, por exemplo, seu emprego na alimentação do gado, o estudo mostra que a biomassa descartada ou subutilizada, de baixo custo, pode ser convertida em bioplásticos e materiais avançados, utilizáveis em uma ampla gama de dispositivos de alto valor agregado.

As aplicações englobam embalagens multifuncionais, inclusive embalagens antivirais, antimicrobianas e antioxidantes; equipamentos eletrônicos flexíveis; dispositivos biomédicos; equipamentos para geração, armazenamento e transmissão de energia; sensores; materiais para isolamento termoacústico; cosméticos etc.

“O nexo alimentos-materiais-energia é muito relevante para a bioeconomia circular. Nosso objetivo foi apresentar as estratégias mais avançadas para desconstruir resíduos agroalimentares; converter o resultado em blocos de construção monoméricos, poliméricos e coloidais; e, com base neles, sintetizar materiais avançados”, afirma Daniel Souza Corrêa, pesquisador do Laboratório de Nanotecnologia para o Agronegócio (LNNA) da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em São Carlos, professor orientador nos programas de pós-graduação em Química e Biotecnologia da UFSCar e outro autor do artigo.

A conversão de perdas e desperdícios na cadeia de produção e distribuição de alimentos em “materiais verdes” para a indústria avançada é uma opção emergente nas políticas dos países mais desenvolvidos, como o European Green Deal (Pacto Ecológico Europeu). Diz a página oficial da Comissão Europeia: “A bioeconomia circular maximiza o uso de fluxos laterais e residuais da agricultura, processamento de alimentos e indústrias de base florestal, reduzindo assim a quantidade de resíduos depositados em aterros”.

Como acrescenta o artigo em pauta, se a estratosfera for tomada como um limite, não há descarte. Não existe a opção de “jogar o lixo fora” porque não há um “fora” para onde seja viável descartar o lixo. Então, entre cobrir o planeta de lixo, como ainda vem sendo feito, ou transformar o lixo em uma formidável fonte de recursos, como é possível fazer, a escolha racional parece bem clara.

“A composição complexa e heterogênea da biomassa derivada de FLW [food loss and waste, termo em inglês para perda e desperdício de comida] representa um desafio tecnológico e econômico. Temos de enfrentar o que chamamos de ‘recalcitrância da biomassa em se desconstruir’. Outro fator adverso é a sazonalidade da produção agroindustrial. Determinados resíduos são abundantes em certas épocas do ano e escassos em outras. Quando disponíveis, a própria composição é, geralmente, variável. Mas o principal obstáculo a um upcycling [reutilização] em larga escala é de natureza política. A esperança é que startups e empresas altamente inovadoras rompam essas barreiras e conduzam o processo adiante”, pondera Otoni.

As vias tecnológicas para isso existem, como mostra o artigo. E seus autores já as dominam, em escala de bancada, ou, dependendo do caso, em escalas semipiloto ou piloto. “Há vários exemplos a mencionar, incluindo trabalhos com produção de materiais a partir de resíduos de manga, banana, trigo, caju etc.”, descreve Henriette Monteiro Cordeiro de Azeredo, outra autora do artigo e pesquisadora do LNNA da Embrapa.

Nas imagens que acompanham esta reportagem, materiais resultantes do processamento mínimo da cenoura exemplificam potencial para conversão em bioplásticos mediante processo, em escala semipiloto, realizado no LNNA.

Além disso, os pesquisadores produzem espumas antimicrobianas a partir de bagaço de cana-de-açúcar; embalagens derivadas de quitina extraída das carapaças de crustáceos e insetos; e partículas para estabilizar emulsões, com potencial de aplicação nas indústrias de fármacos, cosméticos e tintas.

Como se percebe, essas pesquisas estão fortemente afinadas com a economia do país, que se destaca como o maior produtor mundial de cana-de-açúcar e de cítricos, além de ocupar também posição de destaque mundial na produção de muitos outros alimentos. Ademais, deve-se considerar que uma fonte altamente significativa de perdas e desperdício de alimentos está associada a frutas e hortaliças, das quais cerca de um terço da produção é perdida ao longo da cadeia.

“Muitos desses FLW contêm elevados níveis de vitaminas, minerais, fibras e proteínas que, idealmente, poderiam ser convertidos de volta em alimentos. No entanto, devido aos padrões alimentares, a maioria dos FLW são microbiologicamente e sensorialmente inadequados e, assim, preteridos. Daí a alternativa de converter os resíduos em plataformas químicas e materiais úteis, potencialmente em dispositivos com alto valor agregado. Devido ao grande e crescente volume de FLW, existe um interesse genuíno por parte dos produtores de alimentos em valorizar tais fluxos”, sublinha Otoni.

Um exemplo é a produção de bioplásticos comestíveis desenvolvida por Luiz Henrique Capparelli Mattoso, um dos líderes dessa linha de pesquisa no LNNA da Embrapa.

A pesquisa é conduzida em rede, com contribuições de dezenas de pesquisadores engajados no tema. O artigo em pauta é também assinado por Bruno Mattos, pesquisador da Aalto-yliopisto (Finlândia); Marco Beaumont, pesquisador na BOKU Wien (Áustria); e Orlando Rojas, diretor do BioProducts Institute da University of British Columbia (Canadá).

Segundo Mattos, “a qualidade dos building blocks [blocos de montar] obtidos de biomassa residual é a mesma quando comparada a fontes mais puras e menos processadas, como algodão ou polpa celulósica. Os resíduos, no entanto, por conterem diversas outras moléculas residuais, como pectinas ou lignina, oferecem uma paleta maior de propriedades que podem ser exploradas para a introdução de funcionalidades nos bioplásticos”.

O financiamento concedido pela FAPESP a essa linha de pesquisa inclui os seguintes apoios: 14/23098-917/12174-417/22401-818/22214-620/11104-5.


O artigo The Food–Materials Nexus: Next Generation Bioplastics and Advanced Materials from Agri-Food Residues pode ser acessado na íntegra e de forma gratuita em https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/adma.202102520.

 


José Tadeu Arantes

Agência FAPESP 

https://agencia.fapesp.br/estudo-indica-caminhos-para-transformar-lixo-em-materiais-para-a-industria-avancada/37493/


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