Consumir álcool, fumar, manter relações sexuais sem
camisinha, entre outros hábitos comuns na adolescência, podem atrapalhar quando
chega o desejo de se formar uma família
Se, para muitos casais, as dificuldades para
engravidar e a infertilidade causam dor de cabeça, aos dezoito ou vinte poucos
anos de idade, a realidade de se constituir uma família parece bem distante
para outros tantos. Porém, mais hora ou menos hora, o desejo de formar uma
família pode chegar e, então, surge um questionamento: você cuidou bem da sua
saúde para que não tenha problemas ao tentar engravidar? O descuido em relação
ao uso de preservativos, rotinas com noites sem dormir, dietas pobres, ingestão
de álcool e tabagismo, mesmo que esporádico, são comuns nessa faixa etária e
podem resultar em infertilidade mais tarde.
Ao negligenciar o uso de preservativos, o jovem
pode contrair doenças sexualmente transmissíveis (DST) com consequências à
fertilidade. “A gonorreia e a clamídia, se não tratadas, podem levar a
inflamações na região pélvica e, posteriormente, à infertilidade ou gravidez
ectópica - quando a gestação se inicia fora do útero”, explica o diretor do
Centro de Medicina Reprodutiva SantaFértil, Ricardo Leão. Ele acrescenta que é
muito comum a doença ocorrer de forma assintomática, o que atrasa o diagnóstico
e, consequentemente, o início do tratamento.
A bactéria Chlamídia, por exemplo, pode agir
silenciosamente por anos causando inflamações e lesões que comprometem o bom
funcionamento dos órgãos reprodutivos femininos, em especial as Trompas de
Falópio. De acordo com Ricardo Leão, nesse caso, a mulher pode ter dificuldade
de engravidar ou uma gravidez nas trompas por perder os mecanismos tanto de
captação do óvulo como o de fertilização e posterior condução do embrião
formado até o útero. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 90
milhões de novos casos de infecções por clamídia ocorram por ano em todo o
mundo, sendo que em 50% dos homens e 70% das mulheres, ela é assintomática.
Já a alimentação errada pode levar o jovem à
obesidade, outro fator que aumenta as chances de infertilidade. Segundo estudo
do Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Biologia Reprodutiva da
Universidade de Michigan, a chance de mulheres obesas engravidarem e
conseguirem levar a gestação até o fim é 28% menor em relação às que estão no
peso ideal. “Os quilos extras normalmente abalam a saúde cardiovascular,
o equilíbrio hormonal e a estrutura anatômica, podendo causar também um
distúrbio de transmissão de sinais hormonais, afetando seriamente a
fertilidade”, afirma Ricardo.
Ele defende que gravidez é algo a ser pensado em
longo prazo e acrescenta que consumo de álcool e tabagismo também podem trazer
consequências futuras. Segundo o especialista em reprodução assistida, nos
homens, o cigarro piora os parâmetros de análise do sêmen e as provas
funcionais dos espermatozoides, assim como o álcool. Na mulher, o fumo faz
crescer o risco de abortamento e gravidez ectópica, enquanto a ingestão de bebidas
alcoólicas provoca alterações hormonais. “O tabaco ainda diminui a motilidade
tubária, dificultando a movimentação e a passagem do espermatozoide na hora da
fecundação. Além disso, o fumo também pode levar à antecipação de até quatro
anos da menopausa”, esclarece Ricardo.
Tratamento
Segundo o médico, os tratamentos para as
conseqüências causadas por doenças sexualmente transmissíveis variam de acordo
com cada caso. Ele explica que, quando detectadas logo no início, o uso de
medicamentos traz bons resultados. Porém, se constatada em estágio mais
avançado, o prognóstico vai depender da extensão ou da localização da lesão.
“Se for pequena e de fácil acesso, pode ser eliminada com uma intervenção
cirúrgica para recuperar a trompa, devolvendo sua funcionalidade. Se for uma
lesão de maiores proporções, não é aconselhável operar. Então, o processo de
Fertilização in Vitro é recomendado para que a mulher consiga engravidar”,
resume o especialista.
Ricardo Leão aponta a prevenção como melhor opção,
seja para jovens ou pessoas mais maduras. “Não importa se você tem 20 ou 50
anos, você pode contrair uma DST, assim, o uso de preservativos é a melhor
medida. Também é importante ser sincero com seu médico a respeito de sua vida
sexual para que ele possa identificar qualquer doença o quanto antes”, frisa.
Ele fala ainda da importância desse rastreamento na detecção de alterações que
não interferem na fertilidade, mas na vida, como HPV, câncer de colo de útero e
HIV.