“Ontem,
uma das notícias que mais apareceu na minha timeline foi: ‘Prédio
é evacuado no ABC após 50 funcionários pularem ao mesmo tempo em palestra
motivacional’, vinculada no G1 e em vários outros portais de notícias.
Eu, como
a maioria das pessoas que comentou a matéria, achei que 50 pessoas tinham se
jogado do prédio por conta de algo que tinha sido ‘trabalhado’ na
palestra.
A notícia
circulou em muitos dos meus grupos de WhatsApp (afinal, sou da
área), virou motivo de chacota e altas críticas tanto em relação à palestra
motivacional como ao título da matéria.
Fui
dormir com esse monte de informação na cabeça e hoje acordei com essa reflexão
que compartilho com vocês.
Sobre
Palestras Motivacionais
Me
considero uma pessoa de sucesso em diversos aspectos da minha vida e confesso
que muitas das minhas grandes decisões foram tomadas depois de assistir alguma
palestra motivacional. Sempre gostei de ouvir gente que chegou aonde eu queria
chegar: contar seus segredos. Até os mais clichês sempre me despertavam alguma
coisa.
Motivação
vem de dentro, eu sei. Mas inspiração vem de fora.
Funcionou
para mim. Me beneficiei muito das vezes que tive a oportunidade de ouvir
pessoas inspiradoras, mas é claro que não funciona para todos.
Em
relação ao fato amplamente divulgado ontem, muitos comentários eram ofensivos e
diziam que ‘motivação é salário no bolso’, ‘a empresa devia gastar a grana da
palestra distribuído para os funcionários’, ‘autoajuda é pura enganação’, mas
qualquer pessoa que estude, no mínimo, Maslow sabe que são diversos os fatores
motivacionais e que ‘auto-ajuda’ tem lá seus benefícios (eu particularmente
desconheço ajuda mais efetiva do que aquela que decidimos oferecer a nós
mesmos).
De
qualquer forma, minha intenção aqui não é defender ou criticar, mas trazer um
outro ponto de vista. Eu acredito que qualquer ação realizada por uma empresa
com o intuito de promover reflexões, conscientização, capacitação e crescimento
pessoal e profissional para o seu time é válida.
Em
relação ao pulo coletivo, desconheço o contexto, mas provavelmente essa deve
ter sido uma das técnicas utilizadas pelo palestrante para elevar a energia do
grupo, mudar o padrão de fisiologia ou criar algum gatilho emocional para, a
partir disso, aumentar o nível de retenção da mensagem. Tem fundo científico.
Sobre
Manchetes Sensacionalistas
A matéria
em si não me pareceu sensacionalista. O título sim, mas cumpriu seu propósito:
o de fazer as pessoas lerem a matéria. Claro que muita gente não leu e espalhou
a notícia de forma ainda mais sensacionalista, dedicando seu tempo a escrever
sua opinião antes de mesmo de conhecer conteúdo da matéria. Parece um ciclo
vicioso.
Gramaticalmente
o título está perfeito. Talvez nosso lado sensacionalista é que tenha feito ele
ficar ainda melhor.
A questão
é: nos dias de hoje a tragédia ganha mais atenção e boa parte disso se deve ao
nosso comportamento.
Se o
jornal faz isso e ganha audiência, o que ele vai fazer? Se esforçar para
criar headlines poderosas, que sejam lidas, compartilhadas e até
criticadas. A qualidade dos comentários é menos importante: o foco está no
número de visualizações.
A gente
criou esse monstro. Bora agora aprender a conviver com ele e selecionar melhor
nossas fontes, afinal, em terra onde a informação é abundante, curadoria faz
toda diferença.
Sobre a
crítica pela crítica
Eu sempre
me questiono sobre os tantos paradoxos que vivemos nos dias de hoje.
As
pessoas aplaudem atos de empatia e compaixão e continuam julgando muito antes
de, ao menos, tentar compreender.
As
pessoas criticam a palestra, a matéria, as empresas, criticam tudo num nível de
superficialidade surreal. Será que se dão ao trabalho de olhar um pouco mais a
fundo antes de emitir sua opinião?
Nesse
caso, por exemplo: o que os participantes da palestra acharam da atividade? O
que empresa tem colhido de resultados positivos ao investir nesse tipo de
evento? O quanto esse palestrante tem contribuído com as pessoas?
Acho
legal emitir opinião sobre o que nos interessa (eu mesma adoro e estou fazendo
isso nesse exato momento), mas, por vezes, a sua opinião fala mais sobre você
do que sobre o outro. Por isso, vale avaliar se ao invés de apenas criticar,
convidar as pessoas à reflexão não torna sua comunicação mais efetiva.
Em tempos
onde tudo parece raso e desconexo, análises rasas e deturpadas tornam o
julgamento ainda mais preconceituoso.
Do lado
de cá, de algumas coisas eu tenho certeza: palestras motivacionais me tornaram
alguém melhor, manchetes sensacionalistas cumprem seu papel e a crítica pela
crítica não leva ninguém a lugar a nenhum”.
Carol Manciola - Consultora,
Palestrante, CEO e Co-Fundadora da Posiciona Educação e Desenvolvimento. Autora
do livro “Os Cês da Vida”. Importante leitura e reflexão.