Os estudos sobre o mercado financeiro têm se tornado cada
vez mais profundos e tomam um lugar cada vez mais relevante para a compreensão
de como funciona o comportamento do investidor na hora de tomar as decisões com
relação as finanças.
Quem já ouviu aquela frase que diz que o órgão mais sensível
do corpo humano é o bolso? Não há um coração mais partido do que aquele que se
partiu por um bolso vazio... Se você ainda não ouviu, essa leitura vai ser
bastante curiosa pra você.
É normal pensar que as decisões tomadas no mercado
financeiro são completamente pautadas em racionalidade e que o mercado é um
ambiente de contas exatas. Nem um, nem outro. Fatores emocionais afetam mais de
80% das decisões que tomamos e, de longe, o mercado financeiro não é um mundo
matematicamente exato.
A Teoria da Perspectiva,
criada por Daniel Kahneman e Amos Tversky, fez uma análise até bastante simples
sobre a reação das pessoas frente a ganhos e perdas numericamente iguais. O
resultado foi que as pessoas sentem 2,25 vezes mais a perda do que o ganho. Ou
seja, ganhos e perdas de mesmo valor não são sentidos de forma equivalente.
Numa outra forma de entender, o ganho precisa ser 2,25 vezes maior para se
gerar o mesmo impacto.
Se nos aprofundarmos num dos porquês desse resultado,
veremos que as pessoas se surpreendem mais com as derrotas do que com as
vitórias, pressupondo que há um senso de controle - na verdade inexistente
sobre a situação. É natural que a derrota cause mais surpresa, pois ninguém
espera que fará algo para perder. Ainda assim, considerando os resultados em si
e suas consequências, racionalmente falando, a percepção deveria ser a mesma.
Outros estudos conseguiram identificar vieses
comportamentais e heurísticas, ou seja, tendências mais comuns de comportamento
e reações diante de algumas situações. O mais curioso é que todos esses vieses
comportamentais tendem a estimular o investidor a tomar decisões erradas. O
comportamento age muito mais como um sabotador, do que um auxiliador na tomada
de decisões.
Status quo
Começando pelo status quo. Esse viés é de fácil
interpretação e normalmente presente nos perfis mais conservadores. Ele
significa que, mesmo diante de circunstâncias melhores, o investidor prefere
não se movimentar. Como exemplo, imagine uma pessoa que possui uma carteira de
300 mil reais de investimentos conservadores rendendo bem acima da poupança,
mas ele ainda mantém mais 3 milhões na poupança, sem necessidade de liquidez.
Mesmo sabendo de condições mais vantajosas, ele mantém o recurso mal alocado.
Efeito Framing
O efeito framing, ou de enquadramento,
influencia a tomada de decisão do investidor conforme o teor da informação,
mesmo se tratando de um mesmo fato. Por exemplo: imagine se deparar com esta
informação sobre um investimento:
Decisão A: Ganho certo de R$ 250 ou 25% de chance
de ganhar R$ 1.000 e 75% de chance de não ganhar nada.
Decisão B: Perda certa de R$ 750 ou 75% de chance
de perder R$ 1.000 e 25% de chance de não perder nada.
Então, qual escolher?
A resposta é: tanto faz. Trata-se do mesmo
investimento e das mesmas situações de ganho e perda, mas apresentado de formas
bem diferentes. Dependendo de como o investidor absorve a informação passada,
pode tanto ser atraído pela oportunidade, como se distanciar dela.
Desconto hiperbólico
O desconto hiperbólico é
um comportamento presente naqueles que olham mais para o curto prazo e não se
planejam adequadamente. Se sentem obrigados a executar qualquer negócio para
obter a liquidez necessária para os projetos de curto prazo, sem avaliar o
quanto isso irá impactar o lado financeiro.
Para ele, o importante é a obtenção do bem ou geração de
caixa, independente das consequências. Como exemplo, temos o investidor que dá
um desconto de 40% na venda de seu imóvel para ter o dinheiro rápido na mão.
Ou, o investidor que compra algo financiado, se submetendo a juros elevados ao
invés de poupar recursos e comprar o bem de forma menos impactante
financeiramente, no futuro.
Excesso de confiança
O excesso de confiança
é um viés que está presente naqueles que se consideram mais
experientes e, no geral, se caracteriza pelo número excessivo de operações para
obtenção de resultados. O investidor deixa de filtrar as oportunidades e ataca
o mercado de forma voraz.
Normalmente, o volume de operações acarreta num aumento de
custos que neutraliza qualquer oportunidade de ganho, tendo como resultado
final, um ganho menor ou prejuízo diante da média do mercado.
Heurística da
ancoragem
A heurística da ancoragem,
como o nome diz, é o comportamento onde o cliente se trava, se limita a um determinado
número e desconsidera qualquer outra informação. Ele acredita fielmente que
aquele resultado virá e permanece “ancorado” nessa estratégia seja pelo tempo
que for.
Por exemplo: o investidor, ao ver que uma ação de uma
empresa teve uma performance de 20% em seu IPO no ano passado, acredita que uma
empresa de mesmo segmento que tenha seu IPO neste ano terá a mesma performance.
Desconsidera qualquer outro fator acerca dessa empresa e fica posicionado até
que se concretize o resultado, mesmo que os demais sinais não indiquem tal
performance.
Heurística da
representatividade
A heurística da representatividade se
parece um pouco com a ancoragem, pois limita a decisão com base numa informação
específica. Na ancoragem é um número, na representatividade é um dado ou
informação que remete ao passado. Seja uma performance histórica, ou um evento
ou período de mercado que tenha gerado algum impacto. Isso fica evidente na
memória do investidor que, apesar de informações novas indicarem outros
impactos, ele se prende ao passado. Exemplo disso, é quando o cliente decide
não investir no mercado imobiliário em virtude da crise que se passou em 2008.
Outro exemplo, é quando o investidor escolhe uma aplicação em virtude apenas de
seu histórico de resultados.
Heurística da
disponibilidade
A heurística da disponibilidade
é um viés que se parece com a representatividade, mas a limitação
ocorre por fatos ou informações mais recentes. Algo ocorrido recentemente na
economia, ou especificamente com algum segmento de mercado faz com que o investidor
não invista, mesmo que esse fato seja algo isolado ou pouco relevante. Por
exemplo, notícias recentes sobre crise no setor energético impactam na decisão
do investidor em não investir neste segmento, mesmo havendo outras premissas
mais relevantes.
Aversão a perda
A aversão a perda é
um viés que se traduz numa carteira, normalmente, recheada de posições com
performance negativa. O investidor se nega a absorver prejuízos, permanecendo
com suas posições perdedoras, enquanto se livra das operações com lucro de
forma mais precoce. O investidor acredita que o mercado irá retornar a níveis
lucrativos para depois fazer a venda desses ativos. Muitas vezes, essa venda
ocorre no mesmo valor da compra, ou seja, não obtendo lucro.
Conclusão
Todos esses vieses comportamentais possuem algo em comum,
que é a sensação equivocada de total controle da situação. Seja para não fazer
nada, como no caso do status quo, como em outras
situações.
Mas, a sensação de controle, quando é confrontada, causa
espanto e negação. “Como assim?” “O mercado vai voltar.” “Eu sei o que estou
fazendo.” É comum ouvir esse tipo de comentário quando, na verdade, o mercado
financeiro é um organismo vivo, que toma os rumos sem dar satisfações ou ter um
compromisso firmado com alguém. O investidor começa a ser cada vez mais
influenciado pelo seu comportamento e emoções, potencializando ainda mais as
decisões erradas com seus investimentos, negligenciando os fatores técnicos e
estatísticos da carteira e do mercado.
No entanto, para se manter a racionalidade e imparcialidade
na hora de tomar as decisões, é altamente recomendado o acompanhamento de um assessor de investimentos.
O assessor tem o papel de elaborar uma carteira de
investimentos com base numa estratégia que atenda as demandas e projetos do
investidor, além de seu perfil e seguindo etapas fundamentais para essa
construção:
1° Apresenta o objetivo do trabalho e valida-se o escopo do
relacionamento.
2° Faz a coleta de todas as informações sobre o investidor,
como construiu o patrimônio, sua relação com o seu dinheiro, projetos, perfil,
etc.
3° Analisa todos esses dados, gerando algumas premissas que
deverão servir de base para a construção da carteira. Em seguida, faz a escolha
de uma carteira de ativos que sintetizam a análise feita na etapa anterior.
4° Faz a apresentação dessa carteira, detalhando o racional
dos investimentos. E, depois, faz o acompanhamento da carteira sempre de olho
no que o mercado financeiro traz de cenários.
É muito importante que o processo de construção do
patrimônio financeiro seja feito de forma racional, evitando que fatores
comportamentais e emocionais influenciem negativamente nas decisões. Fazer esse
trabalho sozinho é ainda mais arriscado. Por isso, conte sempre com o apoio de
um assessor de investimentos.
Investir
é para todos! Nós da Ethimos temos o compromisso de transformar a vida das
pessoas e criar um futuro melhor através do mercado financeiro, auxiliando de
forma personalizada na tomada de decisões financeiras na vida pessoal e nos
negócios. Venha nos conhecer!
Lucas
Brigato - head de câmbio, sócio e assessor da Ethimos.