Oftalmologista tira dúvidas sobre a doença e possíveis consequências à
saúde ocular
Alguns estados do Brasil, incluindo São Paulo,
estão vendo uma doença erradicada há anos voltar a afetar a população e ser
motivo para a realização de campanhas públicas de vacinação. O sarampo é uma
doença infectocontagiosa aguda grave, causada por um vírus (paramyxovirus, do
grupo morbilivirus) que é transmitido pelas secreções respiratórias e provoca
inflamação generalizada nos vasos sanguíneos. Além de manchas na pele, febre e
mal-estar, pode trazer consequências preocupantes para a saúde ocular, daí a
importância da prevenção.
De acordo com a Organização Mundial da
Saúde (OMS), cerca de 110 mil pessoas morreram de sarampo em 2017,
predominantemente crianças menores que 5 anos. Dados preliminares mostram que
os casos notificados de sarampo no mundo cresceram 300% nos primeiros três
meses deste ano, em comparação com o mesmo período de 2018, sendo que a OMS
estima que menos de 1 em cada 10 casos são reportados no mundo.
Em um dos mais recentes levantamentos
de relatos de complicações oculares nas crianças com sarampo, publicado pelo
departamento de oftalmologia do Hospital Johns Hopkins (USA) em 2004,
foi observado que, entre 0,5% a 1% dos casos que necessitaram de internação
evoluíram para cegueira.
A oftalmologista Júlia Takiuti, especializada em Uveíte, médica do
HCLOE, empresa do Grupo Opty, responde, abaixo, as dúvidas mais comuns sobre
sarampo e as possíveis complicações à visão.
Por que é tão importante a prevenção no caso do sarampo?
Dra. Júlia Takiuti: O sarampo
é uma das doenças infecciosas mais contagiosas de que se tem notícia e é
potencialmente grave, podendo levar a óbito. Em gestantes, pode provocar aborto
ou parto prematuro. A prevenção é feita por meio da vacinação, eficaz em cerca
de 97% dos casos. Conforme previsto no Programa Nacional de Imunizações, a
vacina do sarampo é recomendada aos 12 meses de vida, com a aplicação da
Tríplice Viral (sarampo, caxumba e rubéola), e entre 15 e 24 meses de vida
(reforço), com a Tetra Viral, que protege a criança do sarampo, caxumba, rubéola
e varicela (catapora).
Há casos em que a vacinação não é recomendada?
Dra. Júlia Takiuti: A vacina tríplice viral não é
recomendada para as gestantes; pessoas imunossuprimidas por doença ou uso de
medicação; pessoas com história de alergia grave após aplicação de dose
anterior das vacinas ou a algum de seus componentes; e crianças menores de seis
meses.
Quem está mais suscetível a ter problemas na visão ao contrair a
doença?
Dra. Júlia Takiuti: Qualquer pessoa que contrair
sarampo está susceptível a apresentar sintomas oculares decorrentes da doença.
Entretanto, crianças menores que 5 anos, adultos maiores de 20 anos, indivíduos
imunocomprometidos e desnutridos (principalmente crianças com deficiência de
vitamina A) são os que apresentam risco de desenvolver quadros sistêmicos e
oculares mais graves.
Quais sintomas e complicações o sarampo pode trazer à visão?
Dra. Júlia Takiuti: Os principais sinais e
sintomas são febre, tosse, coriza, manchas vermelhas pelo corpo, manchas brancas na parte interna das bochechas e conjuntivite. Na maioria dos casos, trata-se de
um quadro leve de conjuntivite ou ceratite.
Contudo, os mais graves podem evoluir com úlcera de córnea, com risco de
desenvolver cicatrizes corneanas ou perfurações. Existem raros relatos de acometimento
retiniano e neurite, relacionados a pacientes que apresentam quadros de
panencefalite esclerosante subaguda, que é uma complicação
neurológica degenerativa rara, resultante da persistência da infecção pelo vírus
do sarampo no cérebro.
Importante reforçar que mulheres que não foram vacinadas e contraem o sarampo durante a gravidez, além de
ter maior probabilidade de aborto e parto prematuro, apresentam risco de
transmissão ao feto por meio da placenta, podendo o bebê sofrer alterações da
retina, catarata e nervo óptico com potencial de cegueira.
Uma vez contraído o sarampo, quais são os sintomas/sinais nos olhos que
a pessoa, pais ou responsáveis devem ficar atentos? Quando procurar o
oftalmologista?
Dra. Júlia Takiuti: Os principais sintomas são presença
de hiperemia, irritação ocular, fotofobia, lacrimejamento, ardor e embaçamento
visual. É recomendada a avaliação oftalmológica na persistência de qualquer um
desses sintomas.
As complicações na visão são temporárias ou podem causar sequelas
irreversíveis?
Dra. Júlia Takiuti: Geralmente, são quadros
temporários e reversíveis. Contudo, existe a possibilidade de evolução, com
sequelas oculares naqueles que apresentaram quadros graves e nos casos
congênitos, ou seja, no nascimento.
Uma vez com problemas na visão acarretados pelo
sarampo, quais os tratamentos recomendados?
Dra. Júlia Takiuti: Na
fase aguda, recomenda-se tratamento com
compressas frias com água filtrada ou soro fisiológico, lubrificação e higiene
local para evitar o risco de contaminação secundária. Já as alterações congênitas devem ser tratadas caso a caso, de acordo com a
gravidade.
HCLOE – Oftalmologia Especializada
Grupo Opty